Alckmin manda instalar raio X em mais 30 presídios

Jornal da Tarde - São Paulo - Quarta-feira, 17 de novembro de 2004

qua, 17/11/2004 - 8h50 | Do Portal do Governo

Governador admite que os bloqueadores de celulares não estão tendo efeito, pois os bandidos continuam comandando quadrilhas de dentro das celas. Ele defende o uso de aparelhos de raios X nos presídios para evitar a entrada de telefones

RITA MAGALHÃES

O governador Geraldo Alckmin PSDB anunciou ontem a compra de mais 30 aparelhos de raio X, em caráter de urgência, para coibir a entrada de celulares e outros objetos proibidos, como armas e notebooks, nos presídios paulistas. Os aparelhos – ao custo de R$ 100 mil cada – serão comprados no início de dezembro e têm até o início de janeiro de 2005 para a instalação.

O anúncio foi feito após o JT mostrar, na edição de ontem, que uma operação conjunta da Policial Civil e do Ministério Público Estadual constatou que, mesmo estando atrás das grades, os presos continuam praticando crimes. Um ano de interceptação nos celulares de 46 detentos revelou que, de dentro de suas celas, os detentos continuam corrompendo agentes públicos para comandar quadrilhas que praticam narcotráfico e seqüestros.

Alckmin admitiu que é impossível eliminar totalmente o problema apenas com uso de bloqueadores de celulares: ‘Nós começamos a instalar os bloqueadores, mas infelizmente não temos ainda a tecnologia para bloquear de maneira efetiva essa comunicação. Uma coisa é um bloqueador numa sala de teatro, numa sala de cinema, que é uma sala. Outra coisa é uma penitenciária, que é uma cidade.’

A Secretaria da Administração Penitenciária dará prioridade à instalação dos equipamentos de raio X nas unidades com maior movimento e fluxo de jumbos (sacolas com mantimentos, limpeza e higiene pessoal).

Entre as que deverão receber o equipamento no início de janeiro de 2005 está a Penitenciária 1 de Mirandópolis, onde estava detido o traficante Jair Carlos de Souza, o Jajá, que foi interceptado de setembro de 2003 a agosto de 2004. Só uma das ligações do traficante durou 4 horas e 10 minutos. Ele falou de tudo: comentou sobre o auxiliar do Poder Judiciário Hermes Rafael Herrero (preso na operação), sobre narcotráfico, sexo, prisões de seus comandados e suborno a policiais e juízes.

‘Bloqueadores não tiveram a eficiência esperada’

A seguir, trechos da entrevista de ontem de manhã com o governador Geraldo Alckmin, em Heliópolis.

Jornal da Tarde – Parece que os celulares continuam entrando nos presídios, por mais que se faça para impedir isso. Hoje, uma reportagem no Jornal da Tarde demonstra isso num trabalho feito pelo Ministério Público e pela Polícia Civil. O que pode ser feito? Qual é a resposta rápida que o Estado pode dar?

Geraldo Alckmin – Eu acho que nós vamos não eliminar totalmente, mas ter um resultado melhor no seguinte sentido: temos hoje 128 unidades prisionais e 132 mil presos.

Imagine, por exemplo, a penitenciária do Estado, com quase 2 mil presos, onde entram 2 mil refeições, as ‘quentinhas’, na hora do almoço e 2 mil de noite. Inicialmente tentou-se limitar a entrada ao máximo. Mas às vezes pode passar um celular. Então nós começamos a instalar os bloqueadores de celular. Infelizmente não temos ainda a tecnologia para bloquear de maneira efetiva essa comunicação. Então, o que nós estamos fazendo? Fizemos uma experiência em duas penitenciárias com raio X. Todas as penitenciárias já têm detector de metal. A pessoa, quando passa, tem detector de metal. Agora, o alimento, por exemplo, passará pelo raio X.

Em duas penitenciárias, o CDP de Suzano e a Penitenciária de Araraquara, o raio X diminuiu extraordinariamente a entrada de celulares. Deu certo.

Cada aparelho custa de R$ 90 mil a R$ 100 mil. Já falei com Nagashi Furukawa (secretário estadual da Administração Penitenciária) e nós vamos comprar mais 30 raios X. Então, em vez de comprar mais bloqueadores de celular que, na prática, por questão de tecnologia não estão tendo a eficiência esperada, nós vamos colocar o raio X, que deu resultado.

Governador, mesmo com raio X, detector de metal, bloqueador de celular, se o funcionário quiser, o celular passa. Existe algum trabalho que pode ser feito para que os funcionários não permitam a entrada de celulares?

Isso é feito permanentemente. Nós temos as leis, chamadas Via Rápida, se alguém comete um crime, se facilita a entrada de celular ou o que seja para alguém que está preso, alguém que está cumprindo pena, e portanto isso é crime, ele vai ser punido. Vai ser demitido a bem do serviço público. Pegou alguém com conduta inadequada, não é para ficar num órgão de governo. Não se pode garantir, nós temos quase 800 mil funcionários no Estado, que alguém não vá cometer algum erro. Então, além desse trabalho de depuração, de retirar os maus servidores, nós vamos avançar na tecnologia para ter mais segurança.