Água limpa e energia sustentável

Gazeta Mercantil

sex, 20/03/2009 - 16h44 | Do Portal do Governo

Dilma Pena

O futuro da humanidade depende de água e energia limpas. Elas se completam. São Paulo tem feito o dever de casa. Um dos importantes projetos em andamento é a despoluição do rio Pinheiros. Retificado nas primeiras décadas do século XX, ele teve o curso invertido com a construção da barragem da Traição, que bombeia o rio no sentido contrário ao natural. O Pinheiros passou, então, a correr do Tietê, sua foz, em direção à Serra do Mar, onde foi construída a represa Billings.

Além de servir de fonte de água potável para a cidade, o reservatório fornece água para a geração de energia elétrica na usina Henry Borden, em Cubatão. Hoje a usina trabalha de forma intermitente por causa da poluição do Pinheiros, que impossibilita o bombeamento de água para a represa.

Para recuperar o rio Pinheiros e acelerar o processo de despoluição, retomando seu uso múltiplo (abastecimento humano, geração de energia, e atividades de esporte, turismo, lazer etc.), o governo do Estado busca alternativas tecnológicas inovadoras. O processo de despoluição da RMSP é resultado dos pesados investimentos do Estado e da Sabesp, na segunda fase do Projeto Tietê (a etapa 3 está para começar, com investimento de US$ 800 milhões), na construção de rede coletora, interceptores e estações elevatórias ao longo de todo o Pinheiros – há, ainda, o Programa Córrego Limpo, complementando o processo. Estão em curso, nos últimos 5 km do rio, com vazão de 10m³/s, os testes do sistema de flotação – iniciados pela Emae em 2008, devem seguir, juntamente com a elaboração do EIA-RIMA, até o fim de 2009.

Acordo firmado com o Ministério Público em 2007 prevê um rigoroso monitoramento da qualidade da água. O programa é autossustentável. A venda da energia gerada por Henry Borden cobrirá com sobra o investimento, a operação e manutenção do projeto. Em vários programas de saneamento, o governo do Estado investirá até 2010 R$ 8,33 bilhões.

A universalização do saneamento básico é o desafio de todos, da sua constatação até o desenvolvimento de tecnologias e a concessão de financiamentos. Somente 59,5% da população brasileira urbana possuem rede de esgoto e 91,9% têm água potável. Em São Paulo, a situação é bem melhor: 89,6% com ligação a rede de esgoto e 99,1% com abastecimento de água.

Água limpa e energia renovável estão entre as preocupações do presidente norte-americano, Barack Obama. Pela primeira vez na história, água e energia limpas foram citadas por um presidente no discurso de posse. Nos primeiros dias de governo, anunciou medidas para reduzir a poluição de veículos. É uma reviravolta em relação ao governo Bush.

Com 5% da população mundial, os Estados Unidos consomem um quarto da energia do planeta e exibem uma matriz energética altamente poluidora e geradora de gases do efeito estufa: 80% são de combustíveis fósseis. “Vamos manipular a energia solar e dos ventos e da terra para abastecer nossos carros e dirigirmos nossas fábricas”, Obama anunciou.

A matriz energética brasileira não é cruel como a norte-americana, mas a expansão da chamada energia suja preocupa. Nos últimos leilões de energia nova, de cada três MWmédios contratados dois são térmicos. No ano passado, foram negociados 1.504 MWmédios de energia hidráulica (a maior parte de Jirau, para o período 2013-2042), limpa e renovável, e 4.628 de térmicas (2009-2027), a maioria a gás ou óleo, uma energia mais cara, poluidora e não-renovável. Num prazo mais curto, de 2008 a 2016, a evolução dos leilões de energia nova também apresenta um gráfico desalentador: 6.420 MWmédios de energia hidráulica, ao preço médio histórico de R$ 100,60/MWh, e 11.136 MWmédios de termelétricas (a R$ 135,56). País tropical e com potencial eólico, solar e de biomassa ainda pouco aproveitado, o Brasil precisa reverter essa tendência.

Quase a metade (45,9%) da energia brasileira é renovável, situação bem melhor do que a mundial (12,9%) e a dos 30 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD), de apenas 6,7%. Em São Paulo, mais da metade (52%) é de energia renovável. A preocupação de Obama procede: o mundo precisa reduzir esses perversos 87,1% de energia não-renovável e os membros da OECD, os assustadores 93,3%. É questão de sobrevivência da humanidade.

Na área de energia, destacamos cinco projetos do governo do Estado: a elaboração o Atlas Eólico do Estado de São Paulo; os estudos da matriz energética (diversificada e menos dependente do petróleo e do gás) com horizonte de 30 anos e do potencial hidrelétrico remanescente (visando levantar aproveitamentos viáveis, sobretudo de pequenas e micros centrais hidrelétricas), a cogeração com o bagaço de cana e a geração de energia a partir de resíduos sólidos. O Atlas, com o levantamento de sete locais no Estado que poderão ser habilitados para instalação de parques de geração eólica, deve ficar pronto em outubro de 2010.

O potencial da cogeração com o bagaço de cana é promissor. São Paulo processa 296 milhões de toneladas/ano de cana-de-açúcar, e o Brasil, 493 milhões t/a. Estudos feitos pela SSE em 2007 identificaram 104 usinas com projetos de geração de excedentes que poderão operar nos próximos anos. A capacidade adicional dessas unidades, prevista para 2008, é de 287 MW excedentes, para 2012 a previsão é de 3.779 MW excedentes.

A SSE facilitou a integração das usinas ao sistema do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Resultados de curto prazo já puderam ser constatados no último ano (dez/07 a nov/08): considerando apenas as usinas contabilizadas na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, foram gerados em relação ao mesmo período do ano anterior cerca de 80 MWmédios, energia suficiente para abastecer uma cidade de 217 mil habitantes. São Paulo é um exemplo no Brasil: trabalha para ter energia e rios limpos, para garantir um futuro sustentável para nossos filhos e netos.

Dilma Pena é secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo