Adeus à favela. E vida nova no apartamento

Jornal da Tarde - Domingo, 7 de agosto de 2005

dom, 07/08/2005 - 15h33 | Do Portal do Governo

Governo acaba com a favela Tiquatira, à beira da Marginal do Tietê, e transfere famílias para prédios populares

Daniel Gonzales

É hoje que a Favela da Chácara Bela Vista, também chamada de Favela Tiquatira, começa a deixar de existir. Bem embaixo do Viaduto Milton Tavares, à beira da Marginal do Tietê, a favela ainda é um feio ‘cartão-postal’ visto por quem chega a São Paulo pela Rodovia Ayrton Senna. As 453 famílias, cerca de 2.000 pessoas, que vivem ali, serão removidas da área, que é municipal. Mas estão comemorando: vão ganhar apartamentos populares na região do Lajeado, extremo Leste da Capital.

O prefeito José Serra e o governador Geraldo Alckmin demolirão o primeiro barraco, simbolicamente. A operação para acabar com a favela e transformar a área em um centro de lazer para a comunidade dos conjuntos Cingapura, vizinhos, é a primeira remoção conjunta entre o governo municipal – representado pela Subprefeitura da Vila Maria, que ficará responsável pela reurbanização – e o governo do Estado. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano CDHU cadastrou as famílias e dará os novos apartamentos.

Hoje, oito barracos serão derrubados e as primeiras oito famílias se mudam. ‘Como são de madeira, derrubaremos à mão’, explica o subprefeito de Vila Maria, Antônio de Pádua Perosa. Um trator provocaria um ‘efeito dominó’ que poria tudo abaixo de uma vez só. A partir de amanhã, a meta é remover 35 famílias, em média, por dia. A operação toda vai levar duas semanas. Materiais como telhas e madeiras resultantes da demolição vão para o depósito da subprefeitura e podem ser reaproveitados em reformas de órgãos públicos.

De acordo com Perosa, quando o Cingapura foi construído, em 1996, foram deixadas várias áreas livres em torno dos prédios. ‘Com o tempo, parentes de quem morava nos edifícios foram chegando e ocupando as áreas’, explica. A favela tem 37.500 m2. ‘Manteremos no local 33 pontos comerciais, faremos quadra, praça, pista de skate e jardins.’ Uma escola de lata também será mantida, mas com outro uso: vai virar um centro cultural. Outra unidade, de alvenaria, está sendo construída ali.

Hoje, o esgoto a céu aberto, o mau cheiro e o lixo acumulado enfeiam o lugar. Os caminhões de coleta não conseguem entrar. Tábuas forram o chão para evitar que crianças e adultos pisem no esgoto. Tudo isso se mistura com a ansiedade dos moradores como dona Josileide Ferreira de Santana. Ela, o marido e os dois filhos vão se mudar para um apartamento pela primeira vez.

Josileide acertava os últimos detalhes da mudança, embalada em caixas de papelão. ‘Eu não vou nem dormir, nem estou acreditando’, repetia. A vizinha Geane da Silva Ferreira, há cinco anos na favela, também recolhia suas coisas. ‘Estou muito feliz’, repetia. Perto dali, crianças brincavam em um buraco na calçada, cheio de água, inundado por causa de um cano estourado. ‘É despedida’, disse uma delas.