Acertar o rumo da educação

O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 14 de março de 2008

sex, 14/03/2008 - 15h33 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

Maria Helena Guimarães de Castro*

A avaliação está no centro de qualquer processo educativo. Desde que a educação institucionalizou-se, com escolas, professores e alunos, a avaliação periódica do estudante é a melhor forma de averiguar seu avanço. Mais recentemente, o mundo passou a desenvolver um novo tipo de avaliação, mais abrangente. Uma nova ciência passou a fazer parte do cotidiano dos gestores educacionais: a avaliação externa da aprendizagem dos alunos, com resultados que permitem acompanhar a evolução das escolas, analisar fatores associados à aprendizagem, corrigir rumos dos sistemas de ensino e subsidiar políticas de melhoria da qualidade.

Esse tipo de avaliação, utilizado no Brasil desde 1995, tornou-se primordial para orientar qualquer ação de gestor publico da área educacional. Como traçar um caminho e um plano de ação de longo prazo sem ter um bom diagnóstico da situação? Com as avaliações, passou a ser possível medir objetivamente a aprendizagem dos alunos, identificar o que eles são capazes de fazer, verificar quais escolas são mais efetivas e os fatores que explicam seu desempenho, implantar programas de formação continuada dos professores para superar deficiências.

Com 250 mil professores, 5.500 escolas e 5 milhões de alunos, São Paulo aderiu seriamente à política de avaliações. Desde 1996, a Secretaria de Estado da Educação realiza o Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), a análise de rendimento dos alunos estaduais, em língua portuguesa e matemática. Dez anos se passaram e o sistema ganhou aperfeiçoamento: em 2007, adotou metodologia que permite comparação com as avaliações federais (Saeb e Prova Brasil). Agora, é possível acompanhamento de políticas implantadas, comparação com anos anteriores e posteriores, cobrança de resultados e prestação de contas aos pais.

Os resultados do Saresp 2007 acabam de ser finalizados. Hoje, as escolas estaduais começam a receber boletins com suas notas. Além das médias, receberão informações sobre distribuição dos resultados dos alunos por níveis de proficiência. Os resultados serão analisados e ajudarão a melhorar o projeto pedagógico da unidade. Os pais terão acesso livre à avaliação (www.educacao.sp.gov.br – banner Sistemas de Avaliação – ou nas escolas), podendo, assim, cobrar, conferir mudanças, ajudar na busca por melhorias. É a política da total transparência do governo do Estado.

O Saresp mostra também o resultado do Estado. Após vencer a batalha da inclusão, com 98,5% dos alunos de 7 a 14 anos no Ensino Fundamental e 87 % dos alunos entre 15 e 17 anos nas escolas, o Estado enfrenta o desafio de melhorar a qualidade. O caminho é longo, mas o rumo está acertado.

Os números do Saresp 2007 mostram que em língua portuguesa São Paulo melhorou em relação aos resultados da rede estadual paulista no Saeb 2005. Em todas as séries há melhores resultados que os de 2005. Ainda não atingimos o nível adequado proposto no currículo e há muito a trabalhar, mas os resultados mostram evolução fundamental, fruto de sucessivas ações que priorizam a leitura e a escrita. Nas séries iniciais, 1ª e 2ª do Fundamental, o processo de aprendizagem está próximo de garantir a plena alfabetização de todas as crianças de 8 anos de idade.

Mas em matemática o problema não foi solucionado. Os resultados mostram que o aprendizado da disciplina está muito deficiente em todas séries avaliadas. O Estado praticamente manteve o mesmo desempenho de 2005, e até piorou em algumas séries. A rota precisa urgentemente ser acertada. É preciso uma intervenção cirúrgica imediata no ensino de matemática sob risco de condenarmos todas as nossas crianças a analfabetos matemáticos.

O desalentador desempenho em matemática deve-se à carência de métodos inovadores, à falta de preparo de uma parcela dos professores, à falta de política direcionada à área. As tantas “faltas” são problemas nacionais, mas em São Paulo aparecem com clareza. Rever a metodologia de aprendizagem em matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental é primordial para chegarmos a um Ensino Médio capaz de dar esperanças para o futuro.

O governo do Estado passa já neste ano a implantar um programa emergencial de reformulação do ensino de matemática. Estamos com a Jornada de Matemática para todos os alunos de 4ª série. Há uma nova proposta de recuperação para os alunos da 3ª série com resultados insuficientes. Todos os alunos de 5ª a 8ª séries e de Ensino Médio participam neste momento de recuperação intensiva em matemática e língua portuguesa com materiais didáticos especiais. Por 42 dias, estão com foco nestas duas disciplinas. Já em abril, terão reforço paralelo orientado pelos resultados do Saresp. Os professores da disciplina passarão por capacitação intensiva. Toda a rede terá um currículo a ser seguido, com indicação clara das expectativas de aprendizagem.

Mas é preciso mudar radicalmente o ensino de matemática na educação básica. Desde a divulgação do Saeb, em 1995, e do primeiro Provão dos cursos de graduação em matemática, está evidente o tamanho do problema. Está na hora de nossos professores receberem formação condizente com o que é necessário na rede pública brasileira. É preciso rever os programas de formação de professores, invocar o apoio das universidades para redirecionar as licenciaturas na área e a formação continuada do quadro atual de professores. É hora de dividir responsabilidades para multiplicar os avanços.

Os resultados das avaliações estão aí. É preciso, agora, ação do poder público, dos educadores, da sociedade. São Paulo inicia a sua tarefa. Uma geração inteira de estudantes precisa, e tem direito, a ensino de qualidade. Mais do que um direito, é uma necessidade do Brasil.

*Maria Helena Guimarães de Castro é professora licenciada da Unicamp e secretária Estadual de Educação. Foi secretária-executiva do Ministério da Educação (MEC) e presidente do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais)