A volta por cima dos trens

Diário de S. Paulo - Terça-feira, 27 de janeiro de 2004

ter, 27/01/2004 - 9h31 | Do Portal do Governo

* JURANDIR FERNANDES

“Sucateados e sem conservação, os trens urbanos submetem os usuários a uma rotina de riscos, atrasos e desconforto. A falta de investimentos sucateou a ferrovia e deixou-a bem distante dos tempos em que era associada ao progresso. As mazelas da Grande São Paulo se refletem nos 186 trens e 91 estações em que usuários de diversas classes sociais disputam espaço e convivem com assaltos, tráfico de drogas, acidentes, atrasos e depredações.
A guerra dos passageiros por um lugar é mais acirrada nos horários de rush quando nos vagões se espremem enlatadas 12 pessoas por metro quadrado. Antes que a composição estacione, dezenas de passageiros se penduram nos vagões e forçam as portas para entrar à frente do enxame humano que aguarda na estação. Quem não se arrisca nessas manobras se espreme tentando passar ao mesmo tempo pelo vão da porta. Existe uma brigada de seguranças encarregada de empurrar passageiros que ficaram do lado de fora. Muitos viajam pendurados nas portas. Alguns não sobrevivem. Em 95, 470 pingentes saíram feridos e outros 42 morreram depois de cair dos carros.

O horror desses números não impede que a maioria dos trens parta das estações carregando pingentes e com pelo menos cinco surfistas no teto. Garotos que se aventuram sobre os vagões, driblando os cabos elétricos de 3.300 volts, os surfistas ferroviários provocam um acidente a cada três dias. Em 1995, 24 deles morreram eletrocutados ou em quedas. Outros 110 se feriram”.

Extraído de uma excelente reportagem de 1996, da “Veja São Paulo”, o texto mostra uma realidade que, felizmente, não faz mais parte do dia-a-dia do usuário dos trens da CPTM. Criada em 92, a CPTM herdou um sistema que havia passado por mais de 20 anos de deterioração, em função da falta de investimentos por parte de governantes que priorizaram o transporte individual.

O sistema ferroviário só voltou a receber volume significativo de investimentos a partir de 1995, quando Mário Covas assumiu o Governo do estado. Foram nove anos injetando um total de US$ 1,5 bilhão na ferrovia, deixando-a muito diferente daquele sistema descrito, em 1996.

Temos consciência que a ferrovia ainda pode (e vai) melhorar muito. Mas é preciso reconhecer que as viagens na CPTM de hoje são mais rápidas, confortáveis e seguras do que há nove anos.

Houve um acréscimo de mais de 50% na frota de trens, com a aquisição de composições novas, as primeiras com ar-condicionado em toda a história da ferrovia. Após passar por um minucioso processo de modernização, boa parte dos trens antigos também ficaram praticamente novos.

Os 12 passageiros por m² nos horários de pico, conforme consta na Vejinha, foram reduzidos a uma média que varia entre 5,5 (Linha C) e 6,9 (Linha F) usuários por m², dependendo da linha.

As terríveis cenas mostrando trens circulando com portas abertas e as mortes de pingentes e surfistas, praticamente, não existem mais. O número de casos fatais de pingentes despencou de 42, em 95, para 2, em 2003. O de surfistas mortos caiu de 24 para 2. Considerando o total de mortes das duas situações, a redução foi de quase 95%.

Dez novas estações foram construídas e 46 reformadas. As seis linhas passaram por obras de recuperação de trilhos e receberam melhorias no sistema de energia elétrica. Para os usuários, os investimentos tiveram reflexos positivos na segurança do sistema, já que o número de acidentes e/ou falhas caiu sensivelmente. O intervalo entre trens nos horários de pico, que era em média de 15 minutos, teve redução significativa e hoje está entre 7 e 9 minutos.

O fim das depredações é um termômetro para medir o reconhecimento dos usuários de que o serviço da CPTM melhorou. A pesquisa Imagem dos Transportes na Região Metropolitana de São Paulo vem confirmando esse reconhecimento.

Segundo a última pesquisa, entre 2002 e 2003, o índice de aprovação pelos usuários melhorou em todas as linhas da CPTM, apresentando um crescimento entre 1% (Linha F) e 13% (Linha D). Se considerarmos o sistema ferroviário como um todo, a CPTM obteve 57% de aprovação.

Sabemos que a CPTM ainda precisa de investimentos. Por isso, uma das metas do Governo do estado para os próximos anos é acelerar o processo de modernização do sistema ferroviário. Com recursos estimados em US$ 1,3 bilhão, pretendemos, até 2010, ampliar ainda mais as melhorias, deixando todo o sistema com padrão equivalente ao do metrô.

* Jurandir Fernandes é secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo.