A vitória do mérito contra a demagogia

Jornal da Tarde - Editorial - Domingo, 13 de março de 2005

seg, 14/03/2005 - 9h39 | Do Portal do Governo

EDITORIAL

Enquanto o governo do PT continua insistindo em obrigar as universidades federais a adotar cotas para estudantes pobres e negros, ao mesmo tempo que a Justiça também vai concedendo dezenas de liminares contra elas, a Universidade de São Paulo USP e o governo estadual acabam de mostrar que a democratização do acesso ao ensino superior pode ser obtida de modo menos demagógico e mais eficiente. Concebida em 2002, a receita foi criar um campus na Zona Leste, uma das mais pobres da cidade, com uma população de 4,5 milhões de habitantes, e oferecer cursos profissionalizantes com demanda de mercado, como sistemas de informação, políticas públicas, tecnologia têxtil, etc.

O sucesso dessa política alternativa de inclusão social pode ser medido pelo perfil econômico e pela origem escolar dos 1.020 alunos que começaram a estudar na semana passada na USP Zona Leste. Enquanto na Cidade Universitária só 10% dos estudantes são negros, no campus a média é superior a 21%. Além disso, apenas 29% dos alunos dos cursos tradicionais da maior universidade brasileira vieram da rede pública. Já em seus novos cursos na unidade Leste, a média é de 47%. Ou seja, quase metade do corpo discente vem de famílias que não puderam pagar escolas particulares para seus filhos.

Examinadas a partir dos cursos noturnos, os que melhor atendem às necessidades dos universitários que precisam trabalhar durante o dia, as estatísticas são ainda mais impressionantes. Em licenciatura e ciências da natureza, 83,3% dos discentes vieram do ensino médio estadual. Em informática, mais de 60% dos alunos cursaram escolas públicas. Para se ter uma idéia da importância desses números, a média de candidatos oriundos da rede oficial nos últimos vestibulares da Fuvest é de 35%.

O mais importante é que esses alunos não entraram na USP Zona Leste por favorecimento. Pelo contrário, foram aprovados graças a seu preparo e ao fato de os cursos a eles oferecidos exigirem menos dificuldades do que as requeridas pelos cursos tradicionais. A preocupação com a meritocracia é a maior diferença do modelo adotado pelo governo estadual, em comparação com a política de cotas do governo federal. Na medida em que permite que vestibulandos mais fracos ocupem o lugar de vestibulandos mais preparados, as cotas substituem o critério da competência pelos de raça e origem. Com isto, os beneficiários dessa política conseguem entrar na universidade, mas não têm condição de acompanhar as aulas, o que os leva à reprovação ou a serem tratados como alunos de segunda classe.

Evidentemente, o êxito inicial da USP Zona Leste, do ponto de vista social, terá de ser reavaliado nos próximos vestibulares. De qualquer modo, fica claro que, ao tomar a decisão de descentralizar e levar cursos superiores de qualidade para perto dos segmentos mais desfavorecidos da população, a maior universidade brasileira está contribuindo para preservar a meritocracia contra a demagogia.