A valorização vem junto com os trilhos

Jornal da Tarde - Quinta-feira, 30 de março de 2006

qui, 30/03/2006 - 12h37 | Do Portal do Governo

  A  chegada dos trens do metrô já aquece o mercado imobiliário no Ipiranga, com valorização de mais de 20% nos imóveis, e incentiva a verticalização. Em breve, bairro pode virar uma Chácara Klabin 2

A chegada do metrô não significa só a ampliação de novas opções de transporte para a Zona Sul da Cidade, mas uma radical renovação urbana. Antigas quadras de vôlei, um posto de combustível e uma favela, por exemplo, deram lugar à Estação Imigrantes. E é nos trilhos do metrô que a região pega carona para o desenvolvimento.

No lugar das pequenas e velhas casinhas, vão surgindo prédios de alto padrão, o bar vai sendo reformado para atender melhor a clientela, os preços dos imóveis disparam e mais moradores começam a chegar por causa da facilidade de ter uma estação perto de casa.

Nas travessas da Ricardo Jafet, próximo ao Viaduto Saioá, o metrô já modifica a rotina e obriga o bairro a ficar mais bonito. Na esquina da Saioá com a Rua Nova Lousa, alguém já imaginou que um estacionamento particular viria a calhar. Na mesma quadra, esquina com a Vergueiro, uma garagem fechada vai abrigar duas torres de apartamentos. O dono do bar vizinho já reformou o balcão. A moradora da casa 54, agora, pretende aposentar o carro. E os corretores de imóveis apostam que o Alto do Ipiranga vai virar uma Chácara Klabin 2.

“O imóvel pronto valoriza no mínimo 30% com o metrô”, explica o corretor Nil Fernandes, 40 anos. Tanto é que a proximidade do metrô estará inserida no slogan de venda das torres Klabin e Ipiranga, que serão construídas na esquina da Vergueiro com Nova Lousa. “Hoje, a maioria dos clientes, quando procura imóveis, quer perto de metrô”, diz ele. Não é exagero quando o corretor Silvio Nascimento Cintra, 38, afirma que eles “vendem primeiro o metrô e depois apresentam o empreendimento”.

Os prédios de 27 andares, que devem ser entregues em 2009, vão se destacar na vizinhança, hoje de casinhas antigas e simples – cenário diverso do que existe do outro lado da Ricardo Jafet, região de condomínios de alto padrão. Mas ninguém tem dúvidas de que em poucos anos quase não haverá essa separação – mesmo sem o metrô, a tendência é de que os novos empreendimentos já avancem pelo outro lado da avenida.

“Essas casinhas serão vendidas e novos prédios deverão subir”, acredita Nil. O colega Nério Bernardoni Filho, 45 anos, prevê que até o comércio mudará de aparência. “Eles estão estagnados. A tendência é que os donos invistam ou abandonem a região”, diz. Para ele, fábricas como a da Arno deverão sair em breve do local.

O arquiteto e urbanista Cândido Malta faz coro com os corretores. “A presença do metrô revitaliza tanto as moradias, quanto o comércio e a oferta de prestadores de serviço”, diz o urbanista. Mas ele alerta também para a necessidade de um planejamento urbano por parte dos governos estadual e municipal, pois a mesma obra que traz facilidades também implica em uma explosão de movimento de pessoas e veículos.

Saindo da Imigrantes e avançando pelos túneis recém-construídos, o trem passará reto pela futura Estação Chácara Klabin, na altura do número 3.780 da Rua Vergueiro. Ainda em estágio inicial de acabamento, a estação, que fica no meio do caminho para Ana Rosa, será inaugurada só em 29 de abril.

Os moradores desta região ainda olham desconfiados para o progresso que o metrô poderá trazer: as poucas casas virando pontos comerciais e os camelôs, ainda inexistentes, chegando para vender seus produtos em uma área que deverá ficar mais movimentada. Eles não sabem ao certo o que acontecerá a partir da primeira parada do trem. A única certeza, por enquanto, é a dos comerciantes: o aluguel deverá aumentar cerca de 20%. É o preço do progresso.