A saúde que é pública e alternativa

Jornal da Tarde - Domingo, 23 de novembro de 2003

seg, 24/11/2003 - 11h05 | Do Portal do Governo

Por Marici Capitelli

O conforto de ser tratado em casa

No quarto simples de Vicentina Pereira Fiuza, de 74 anos, estão espalhadas várias fotografias da família e de três pessoas especiais: um médico, uma enfermeira e uma assistente social. São profissionais que integram a equipe de Atendimento Domiciliar do Hospital Geral Santa Marcelina do Itaim Paulista.

O médico Sérgio Roberto dos Santos, a enfermeira Adriana Rodrigues Maciel e a assistente social Cláudia Aparecida Radica atendem 32 pacientes em domicílio. São doentes crônicos, seqüelados, paraplégicos ou com feridas, que, depois de uma avaliação médica, receberam o aval para serem tratados em suas residências.

De acordo com os idealizadores do Atendimento Domiciliar, que existe há três anos, o programa traz benefícios diretos para os pacientes, as famílias e o hospital. Dados apontam que doentes que se internavam sete vezes por ano não tiveram reinternações depois que foram integrados ao projeto. Outro benefício apontado é que os pacientes não correm risco de infecção hospitalar e os custos do hospital com internações longas são reduzidos.

A freqüência das visitas aos pacientes depende de cada caso. Na de dona Vicentina, que amputou a perna e tem um lado do corpo paralisado, elas acontecem a cada 15 dias e são feitas por Cláudia e Adriana. Já o médico passa na casa uma vez ao mês, se o quadro da paciente estiver estabilizado.

A equipe ainda se encarrega de treinar um “cuidador”, ou seja, uma pessoa responsável por cuidar do doente na ausência dos médicos e se relacionar com os profissionais. “Nós discutimos as necessidades do tratamento com os cuidadores. Ao contrário de um hospital, onde os profissionais se revezam, com o cuidador existe uma seqüencia no tratamento”, explicou Adriana.

No período de atendimento domiciliar, a equipe fornece parte dos remédios, material para o curativo e providencia transporte, encaminhamento e guias para exames quando necessário. “Se não fosse esse atendimento, a nossa vida seria ainda mais difícil”, afirma a filha de Vicentina, Sulamita Fiuza, que cuida da mãe. A família sobrevive com a aposentadoria do pai, de R$ 400, e dos bicos que ele faz. Segundo a filha, o hospital oferece toda a infra-estrutura para que a doente fique em casa. “Ela fica mais feliz conosco”, conta.

Sulamita diz que a família tem muito carinho pelos profissionais. No aniversário de Vicentina, a filha preparou umbolo para eles. Na ocasião, tiraram as fotografias. O atendimento domiciliar é destinado a pacientes que já estiveram internados no hospital e passaram por avaliação médica. O telefone do Santa Marcelina do Itaim Paulista é 6563-6300

Pacientes vistos como cidadãos

Aulas de violão, canto, acesso à internet, ioga, assessoria jurídica, bailes, serviço de escrita e postagem de cartas. O que essas atividades têm a ver com saúde? Tudo, dentro de uma linha de atendimento que visa o envelhecimento saudável.

Essa é a proposta do Centro de Referência do Idoso (CRI), localizado em São Miguel Paulista, na Zona Leste. A base do trabalho é atender o pessoal da terceira idade como cidadãos e não apenas como pacientes. A unidade dispõe de 17 especialidades médicas, além de serviços como odontologia, podologia, nutrição e psicologia.

São 15 mil atendimentos ao mês só nas especialidades médicas. Mas a demanda de idosos na região é grande: 65 mil. O tempo de espera para consultas depende de cada caso – varia de uma semana a dois meses –, mas existem serviços com 3 mil pessoas na fila. É o caso da fisioterapia e da ortodontia, que distribui gratuitamente 400 dentaduras por mês.

Com 4,4 mil metros quadrados, o CRI é bonito, bem decorado e com espaços arejados. “Nós recebemos os idosos muito maltratados por tudo que passaram na vida e buscamos atendê-los como cidadãos, não pensando apenas na doença”, explica a diretora do CRI, Rosa Maria Barros dos Santos.

Os idosos contam ainda com o atendimento de terapeutas ocupacionais e psicólogas.Também têm à disposição uma cozinha experimental, onde aprendem a cozinhar de maneira saudável.

José de Araújo, de 61 anos, comprou umviolão usado por R$ 30 para participar das aulas de música do CRI. Ele também freqüenta as aulas de canto, dança e os bailes às sextas-feiras. “Aqui, não penso em doença.”

Serviço – As atividades culturais são abertas para idosos de qualquer região. Informações: 6130-4000