A recuperação do Tietê

O Estado de S.Paulo - Editorial - Quinta-feira, 23 de setembro de 2004

qui, 23/09/2004 - 18h35 | Do Portal do Governo

Nas duas últimas temporadas de chuvas de verão, as águas do Rio Tietê se mantiveram em seu leito, graças ao projeto de controle de inundações em execução desde 1998, que inclui o alargamento e o aprofundamento da calha do rio. Outro projeto em andamento, de despoluição do Tietê, fez algumas espécies de peixes reaparecerem, na altura das cidades de Salto e Itu. Do início da década de 90 até 2005, o projeto de despoluição do Tietê consumirá US$ 1,5 bilhão. Neste mesmo período outro R$ 1 bilhão será investido no controle das inundações. Em 2005, o índice de coleta de esgoto da Grande São Paulo saltará de 80% para 84% e o de tratamento, de 62% para 70%. Diariamente, deixarão de ser despejados na Bacia do Alto Tietê 300 milhões de litros de esgoto.

O Projeto Tietê já foi considerado pelos técnicos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) o programa de saneamento mais bem gerenciado do mundo.

Os números são surpreendentes, as obras vultosas, mas, como bem reconheceu o governador do Estado, Geraldo Alckmin, há muito ainda por ser feito, principalmente no que diz respeito ao trabalho preventivo, de engajamento e educação da sociedade em toda a bacia hidrográfica.

‘Precisamos incentivar mais empreendimentos ambientalmente sustentáveis, com geração de emprego e renda, promover mais ações de educação ambiental e ações solidárias pelo nosso Rio Tietê’, considerou ao comemorar, ontem, o Dia do Tietê.

De fato, o sucesso na recuperação do rio depende da mudança de atitude tanto do poder público quanto da sociedade. Levantamento da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) mostra que, em 2005, a Bacia do Tietê poderá receber diariamente 300 toneladas de lixo jogado nas ruas. Essa quantidade impediria, em grande parte, que o rio e seus afluentes melhorem a qualidade das águas.

Da poluição acumulada na Bacia do Tietê, 35% não vem das redes de esgoto, mas sim do lixo das ruas. Sacolas plásticas, garrafas, latas e até móveis atingem o leito do Tietê diariamente. Se a população não parar de usar as ruas e, conseqüentemente, o rio como depósito de lixo, em 2015 os detritos que vêm das vias públicas representarão 65% da sujeira despejada diariamente na bacia.

Para que o esforço não se perca, o governo do Estado inovou, ao incorporar a participação e o monitoramento independente da sociedade civil. O Projeto Tietê nasceu e sempre contou com a parceria da Rádio Eldorado, do Grupo Estado. O Projeto Pomar, que embeleza as margens do Rio Pinheiros, e fará o mesmo com o Rio Tietê com o avanço do controle das enchentes, também nasceu da iniciativa do Jornal da Tarde. A Fundação SOS Mata Atlântica mantém 300 equipes de monitores do Núcleo Pró-Tietê no acompanhamento da situação do rio. Para mudar a atitude da população, a SOS Mata Atlântica também elaborará programa detalhado de educação e conscientização ambiental para ser desenvolvido em escolas.

‘O Tietê merece atenção, respeito e, sobretudo, muito trabalho de todos os que vivem em São Paulo’, afirma o governador.

Reverter os estragos que o crescimento desordenado provocou é tarefa caríssima, que deverá se prolongar por décadas e décadas. Mas o esforço e o tempo poderão ser substancialmente reduzidos se a população aceitar o desafio e cooperar com a proteção do Rio Tietê.