A próxima arma contra o crime: a tecnologia

Jornal da Tarde - 15/6/2002

sáb, 15/06/2002 - 10h51 | Do Portal do Governo

A Polícia Civil do Estado se prepara para utilizar equipamentos sofisticados na guerra contra o crime organizado. Além disso, estão previstos acordos com a polícia italiana, a ONU e o FBI

A Polícia Civil de São Paulo está começando a colocar os pés no Primeiro Mundo. Em pouco tempo, os policiais terão computadores com a imagem, gravação da voz e todos os detalhes sobre os criminosos do Estado, um cadastro de impressões digitais atualizado e até um equipamento, composto por um visor e um emissor de raios ultravioleta, capaz de detectar os vestígios deixados por um assassino no local do crime. Até agora trabalhando com técnicas do passado, a polícia percebeu que precisa, para acompanhar o ritmo dos bandidos, apressar o passo para garantir a segurança no futuro.

Desde fevereiro, um grupo de delegados se reúne secretamente no 18º andar do Palácio da Polícia, no centro da cidade, para traçar planos de combate à criminalidade, desenvolver projetos e testar um equipamento usado pelos carabinieri italianos para acabar com o poder da máfia.

Criado há quatro meses, por meio de uma portaria da Delegacia Geral da Polícia Civil, o Grupo de Planejamento Estratégico (GPE) é formado por quatro delegados e tem como missão principal assessorar o delegado-geral, Marco Antônio Desgualdo, no desenvolvimento de estratégias eficientes para controlar o crime.

Um dos principais objetivos do GPE, nesse momento, é o de criar um setor de inteligência policial e um banco de dados centralizado, já que vários departamentos da polícia têm seus próprios arquivos e, por isso, informações que podem ajudar na solução de um crime na maioria das vezes estão espalhadas pelas delegacias e não são compartilhadas.

Com a assessoria de um PHd em Ciência da Informação, da Universidade de Brasília (UNb), os integrantes do GPE estão aprendendo técnicas de planejamento estratégico e estruturação do sistema de informação. O primeiro passo do grupo, presidido pelo delegado Massilon José Bernardes Filho, está sendo o de centralizar todos os dados recolhidos no ‘micrão’, como é chamado o computador da Delegacia Geral, de acesso controlado.

Com um equipamento portátil de registro de voz, imagem e informações antropométricas – a medida da face, crânio e distância entre os olhos, por exemplo -, todos os prisioneiros do Estado serão cadastrados pela polícia.

Informações em fórmulas matemáticas

Essa tática permitirá que um criminoso seja identificado no arquivo digital, mesmo que envelheça ou se submeta a uma cirurgia plástica.

Todas as informações serão convertidas em uma fórmula matemática para facilitar a transmissão e o armazenamento dos dados. Esse equipamento, que passou por testes em São Paulo, é italiano e foi usado na operação antimáfia.

O passo seguinte será o de atualizar o cadastro criminal de impressões digitais, o que permitirá, com outro equipamento, que qualquer traço de uma impressão digital dê início a uma investigação. Outra ferramenta usada pela polícia será um visor e um emissor de feixes de raio ultravioleta, que irão identificar vestígios biológicos em um local de crime, como fragmentos de pele, fios de cabelo ou gotas de sangue, para que sejam comparados com os de suspeitos presos.

Se todos os equipamentos forem aprovados pelo governo, a compra entrará em processo de licitação. A verba virá dos Fundos Nacional e Estadual de Segurança Pública.

Em poucos dias, o governador Geraldo Alckmin deverá assinar um decreto que institui o Departamento de Inteligência, onde serão reunidas informações estratégicas para o combate do crime. Além de planejar e gerenciar os projetos implantados, o GPE também tem a missão de estabelecer contatos com órgãos internacionais para cooperação com a polícia paulista, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o FBI, a polícia federal norte-americana. Os contatos já foram feitos e a ONU se comprometeu a cooperar com informações que ajudem o Brasil a se prevenir contra atividades criminosas ligadas a atos terroristas.

O Programa de Integridade Judicial, também da ONU, ajudará a polícia paulista a identificar os pontos-chave dos eventuais casos de corrupção no sistema judiciário. O combate ao crime organizado e ao tráfico de seres humanos também fazem parte do intercâmbio.

Diretamente subordinado ao delegado-geral, o GPE, além de dar suporte a todos os departamentos da Polícia Civil, também poderá, por meio de todos os subsídios recolhidos, analisar tendências da criminalidade para que a polícia tenha condição de antecipar o contra-ataque e investir na prevenção do crime.

Marinês Campos