A preço de banana

Folha de S. Paulo - 13/6/2002

qui, 13/06/2002 - 13h13 | Do Portal do Governo

‘As coisas, quanto mais luxo têm, mais porcaria são. Você vai no restaurante caro, você não vê eles fazendo. Aqui, vê. A higiene é o principal’, diz o aposentado Ezio Buitoni, 73, numa mesa da rede de restaurantes Bom Prato, que serve refeições por R$ 1.

‘Venho para essa região todos os dias, para passear. Almoço sempre aqui. É gostoso e bem melhor que esses lugares que cobram cinco vezes mais. Por esse preço, nem na casa do pai da gente. E você joga fora a comida. Não tem perigo de comer resto’, aprova Buitoni, enquanto experimenta o menu do dia: arroz, feijão, carne (hoje é coxão duro cozido), batata sauté, salada de almeirão, mexerica murcot e suco de goiaba.

O Bom Prato da rua 25 de Março é o décimo e mais recente dos restaurantes da rede espalhada pela Grande São Paulo. O primeiro abriu em dezembro de 2000 e o último, há dois meses. Subsidiados pelo governo do Estado e gerenciados por entidades parceiras, cada um serve 1.200 almoços por dia, todos ao preço de R$ 1.

Gerenciado pela Comunidade Beneficente Israelita Ten Yad, o Bom Prato da 25 de Março já conta com fila todos os dias. Mas nada se compara às quartas-feiras, quando religiosamente o Bom Prato israelita serve a sua feijoada bovina. ‘É nosso maior sucesso’, conta o gerente Mauro Calichman. Às quartas, a fila dá voltas e a chef responsável pelos cardápios só ouve elogios.

‘Procuro harmonia na cor do prato’, conta a nutricionista e chef Silvia Regina Salata. ‘Por exemplo, hoje temos mexerica de sobremesa. Como é amarela, escolhi um suco de goiaba bem vermelho e uma salada verde’, diz.

Em suas panelas de 300 litros, o Bom Prato cozinha diariamente 150 quilos de arroz, 60 quilos de feijão e 150 quilos de carne. Pode parecer difícil acertar para quem cozinha uma xícara de arroz em casa, mas os cozinheiros garantem que não. ‘Para 50 quilos de feijão, um quilo e meio de sal. Para 45 de arroz, outro um e meio de sal. Aqui é tudo fácil’, conta o cearense Antônio Martins Pereira. ‘É difícil só para quem é mole.’

A chef Salata varia o menu diariamente, incluindo patinho grelhado, frango e, de vez em quando, uma pescada. ‘Morro de medo de alguém engasgar com uma espinha’, explica o gerente Calichman. ‘É que, às vezes, aparece um que já tomou cachaça. Não posso servir peixe com espinha.’

Calichman não tira da cabeça a única crítica que diz ter recebido nesses dois meses à frente do restaurante. ‘Decidimos variar um dia e servimos estrogonofe. De guarnição, batata palha. Na saída, um cliente disse: ‘Mauro, hoje eu não gostei desse negócio aí’.’

‘Fiquei bem preocupado, perguntei para um monte de gente se a comida estava ruim. Diziam que estava uma delícia, para eu não me importar com aquela opinião, mas eu me importo. Estrogonofe, aqui, nunca mais!’

Ivan Finotti
Da reportagem local

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BOM PRATO – rua 25 de Março, 144, centro, São Paulo, SP, tel. 0/xx/11/3105-3281. Outros nove endereços no site www.codeagro.sp.gov.br. Horário: de seg. a sex., das 11h às 13h.