A linguagem silenciosa de Paulo Pasta

O Estado de São Paulo - Quinta-feira, dia 17 de agosto de 2006

qui, 17/08/2006 - 10h52 | Do Portal do Governo

Fiel à pintura, artista faz mostra como revisão de sua produção de 1987 até hoje

Camila Molina

Iberê Camargo (1914-1994) se definia como o “homem-pintor” – arte e vida sempre estiveram engrenhadas, caminho inevitável para o mestre gaúcho. Paulo Pasta, que coloca Iberê como um dos pilares da história da pintura brasileira recente, e um dos mestres de sua formação, concorda que também é um “homem-pintor”, mas diferente: ele não se transpõe tão rapidamente em suas telas. A pintura de Paulo Pasta não tem o turbilhão gestual das pinturas de Iberê da década de 1960, o seu transpor é silencioso. Os elementos de suas composições (podem ser colunas ou ogivas, por exemplo) estão parados, em silêncio, e cabe ao olhar, também silencioso, perceber o que está nesses elementos, o que está entre eles – porque o que está entre também se transforma em forma -, uma revelação lenta.

Da Geração 80, a que pintou, Paulo Pasta é um dos que continuaram pintando até hoje, mas não por ideologia, como afirma. “Pintura é minha linguagem, por meio dela faço algo meu”, diz o artista paulista, que hoje inaugura uma grande exposição na Estação Pinacoteca. A mostra, com curadoria de Tadeu Chiarelli, reúne cerca de 40 obras realizadas entre 1987 e este ano, uma espécie de antologia da produção do artista – mais adiante, no início de setembro, também será lançado um livro sobre Paulo Pasta, pela Cosac Naify, com textos de Chiarelli, Paulo Venancio Filho, Lorenzo Mamm e cronologia por José Bento Ferreira.

É curioso que Chiarelli tenha eleito uma obra de Pasta, de 1987, como símbolo: Fortuna, que tem a palavra escrita em letras imensas, como parte da composição, também dá título à mostra. Um dos caminhos é se prender ao sentido dessa palavra. Do dicionário, descobre o curador, “fortuna pode significar sorte e má sorte, desventura e êxito, casualidade e destino”. Naquela década de 1980, quando se pintava depois de a pintura ser declarada mais uma vez morta, Paulo Pasta lançava sua trajetória nesse terreno de oposições – mas como a pintura é linguagem tão própria do artista e, ao mesmo tempo, “extemporânea”, manteve-se naturalmente viva.

Não importam os elementos que as obras de Pasta carregam, as “colunas, ogivas, lápis apontados, cacos, cruzes” são, como ele diz, “cenários para o nada”, dão a forma para dar sentido e mesmo o contraste entre as cores não é brusco para criar uma “suspensão temporal” tal qual da metafísica italiana: “Pinto a ausência e, por isso, preciso de presenças.” Diante de suas pinturas, o “silêncio é mais eloqüente que a discurseira.”