A importância de preservar o HC

Jornal da Tarde - Terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

ter, 10/02/2004 - 10h09 | Do Portal do Governo

EDITORIAL

A decisão do Hospital das Clínicas (HC) de a partir de abril só atender a casos complexos, deixando os mais simples para as redes municipal e estadual de saúde, é medida correta, que na verdade deveria ter sido tomada há mais tempo, e por isso espera-se que conte com o apoio de todas as partes envolvidas na questão. A concentração no HC de casos de menor gravidade, como ocorre hoje, distorce suas finalidades, exaure seus recursos e dessa maneira acaba prejudicando os próprios pacientes. Ou seja, todos saem perdendo.

Dentro do novo modelo, as consultas no HC deixam de ser marcadas pelos próprios pacientes e passam a sê-lo apenas por médicos das redes da Prefeitura e do Estado, de acordo com a complexidade do caso. Isto quer dizer que casos simples como dor de ouvido, gripe e varizes devem ser atendidos nos postos de saúdes, ambulatórios e hospitais gerais. Para o HC serão encaminhados apenas pacientes com pneumonia resistente, tipos específicos de câncer e doenças raras, para citar alguns exemplos.

Aliás, o sistema de marcação de consultas diretamente pelos pacientes, por telefone, não funciona a contento há algum tempo. Basta dizer que, das 20 mil ligações feitas por dia, menos de 5% são completadas, e destas só cerca de 1% resultam em consultas efetivamente realizadas. Serviços como os de ginecologia, urologia e endocrinologia ficaram de tal forma sobrecarregados por esse tipo de procedimento que neles os pacientes só são atendidos depois de uma espera mínima de seis meses.

O novo modelo – além de preservar o HC como centro de excelência, que tem de concentrar seus recursos humanos e materiais nos casos de doenças graves, evitando que se transforme num ‘grande posto de saúde’, como alerta seu diretor-executivo, Waldemir Resende, o que já bastaria para justificar a medida – obedece rigorosamente à hierarquização de atendimento estabelecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS): os casos que não podem ser resolvidos nos postos de saúde são encaminhados para ambulatórios de especialidades e hospitais gerais, os quais por sua vez remetem os mais graves para os hospitais de nível terciário como o HC.

A maior resistência ao novo modelo está na Secretaria Municipal de Saúde, cujas dificuldades com pessoal – os concursos feitos não preenchem as vagas por causa dos baixos salários oferecidos – e equipamentos insuficientes foram até agora compensadas com a sobrecarga do HC. Espera-se, portanto, que a Prefeitura colabore, resolvendo esse problema, porque a manutenção da qualidade do HC interessa a todos os paulistanos.