A hora e a vez dos Manos e Minas

O Estado de S.Paulo - Terça-feira, 29 de abril de 2008

ter, 29/04/2008 - 10h39 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

‘Satisfação! Só os aliado, só os companheiro’ , brada o rap do mestre-de-cerimônias da noite. E os aliados devolvem o verso: ‘Us guerreiro! Us guerreiro.’

Na platéia do Manos e Minas, o clima é ‘mil grau’. Vários manos, atitude, responsa, Zona Sul, Zona Norte, Zona Oeste, e, claro, ‘Zona Leste somos nós’. A animação é total enquanto Rappin Hood conduz a galera, que samba ao som de Jorge Aragão (tem samba, sim, sinhô) e cala em solidariedade quando o assunto é a falta de trabalho na periferia. Na tela, um jovem rapper fala do drama de procurar emprego – enquanto distribui currículos, faz seu rap. Na platéia, depois de assistir ao vídeo, um ex-presidiário solta o verbo: ‘Fui enquadrado no artigo 157. Cumpri minha pena. Tô livre e quero trabalhar. Mas quem vai dar emprego para um ex-presidiário?’ Jorge Aragão quebra o silêncio solene: ‘Quem quiser trabalhar comigo procure minha equipe. Tem vaga para ajudante geral na turnê que estou fazendo. Não é muito, mas é um começo.’

Assim foi dada a largada de Manos e Minas, que estréia na TV Cultura no dia 7, às 19h30, e promete fazer jus ao bordão ‘tá tudo dominado’. Mas, afinal, o que é Manos e Minas? Com exclusividade, fomos acompanhar a primeira gravação.

Programa de auditório? Show? Jornalismo? É tudo ao mesmo tempo – e agora. É o primeiro programa da TV nacional que não é só pensado mas também produzido pelo morador da periferia. ‘Não é show. A vybe aqui é diferente. Na TV, você troca energia com o público, mas nunca sabe como vai voltar. Está sendo ótimo. O pessoal troca idéia legal. É o espaço que faltava. Até hoje, quase sempre, quando falam de nós, é só na página policial’, reflete Rappin Hood. Em Manos e Minas, ele é mais que apresentador. É mestre-de-cerimônias. ‘Não tem personagem. Sou eu mesmo’, brada ele, que fez sua estréia na TV em 2007 no quadro Mano a Mano, do Metrópolis, em que fazia reportagens sobre temas da cena periférica de São Paulo. ‘No Metrópolis, era mais concentrado na cultura. Fomos formatando uma linguagem e amadurecemos a idéia de criar um programa novo’, comenta o diretor artístico de Manos e Minas, Ricardo Elias.

Mas quem manda na pauta da periferia? Um coletivo criativo formado pelo diretor do Núcleo de Cultura e Arte Hélio Goldstein, pelo editor-chefe Ramiro Zwetsch, o diretor de cena Dinho e por Elias. O motorista do ‘busão’ cultural é Rappin Hood.

Por falar em coletivo, um dos destaques do programa é o quadro Buzão – Circular Periférico. Já tradicional das quebradas, o Buzão é conduzido pelo agitador cultural Alessandro Buzo, que percorre em um ônibus os caminhos da periferia do Brasil. Para completar o time, a DJ Juju Denden faz reportagens com o toque das minas sobre assuntos diversos. Cabelo afro, comida de porta de estádio e, claro, moda. O escritor Ferrez fala da cena cultural que pulsa nas quebradas. Rappin também vai a campo em busca de reportagens sobre esporte e comportamento. E arremata: ‘Satisfação! Tamo junto!’