A força do idoso pede passagem em São Paulo

Jornal da Tarde - Sexta-feira, 24 de junho de 2005

sex, 24/06/2005 - 10h54 | Do Portal do Governo

GILBERTO AMENDOLA

Teve até frevo embalado por acordeão no Congresso Estadual do Idoso, que começou ontem, no Anhembi. Mais de 4 mil pessoas de 252 cidades lotaram o auditório, para debater temas ligados à qualidade de vida

Nem no Congresso Estadual do Idoso, que começou ontem, no Palácio das Convenções do Anhembi, eles escaparam de enfrentar uma quilométrica fila. A diferença ficou por conta da reação bem humorada. ‘Não é INSS nem bingo, é fila para o almoço’, brincou Tereza de Carlo, 69 anos.
Para que ninguém desanimasse, Sebastião Adão Moreira, 67, tirou seu acordeão da mala e mandou um frevo rasgado. Não demorou para que os primeiros aplausos aparecessem. ‘Toco nas ruas há 41 anos. Estou acostumado a fazer festa em qualquer lugar’, afirmou Moreira.

Francisca Carlota de Jesus, 76, também deixou seu lugar na fila e caiu na farra. ‘Tem de aproveitar essa espera e organizar um baile’, disse. ‘Infelizmente, tem só um homem para cada três mulheres. Acho que a gente é mais engajada… e assanhada.’

Foi esse o espírito do congresso, que contou com a presença 4 mil idosos e representantes das 252 cidades que possuem conselhos municipais da terceira idade. ‘Estamos mostrando nossa força. Esse é o nosso grito para as autoridades’, disse o presidente do Conselho Estadual, Ricardo Trípoli.

Os temas mais debatidos no primeiro dia foram aqueles ligados à saúde pública e à qualidade de vida. No auditório, completamente lotado, muitas senhoras chegavam a gravar as palestras. ‘Trouxe esse gravador para registrar tudo o que for dito aqui. Assim, posso levar para as minhas colegas que não puderam comparecer’, contou Elisa Romaro, 80 anos.

Nas primeiras fileiras, Sebastião Dias, 71, prestava muita atenção a uma palestra sobre o atendimento médico ao idoso. ‘Olha, sou deficiente físico há sete anos. Ouço tudo isso e fico desconfiado. Hoje, tenho muita dificuldade para ser atendido nos postos de saúde. A maioria deles não é adaptada,’ contou. ‘Tem mais: até para chegar ao auditório do Anhembi foi difícil. São muitos desníveis, muitos obstáculos’, desabafou.

Já nos bastidores, minutos antes de o governador tucano começar sua palestra sobre qualidade de vida, os assessores se agitavam. ‘Geraldo Alckmin quer saber quem foi aquele corredor japonês de 95 anos que bateu o recorde nos 100 metros’, gritava um. Ninguém sabia. E a referência sobre Kozo Haraguchi, que cravou o tempo de 22seg04 no Meeting de Sêniors em Miyazaki, no Japão, ficou para uma próxima oportunidade.

No discurso, o governador anunciou a construção de um Centro de Referência do Idoso na região sul (ainda sem local definido) e alertou para os perigos do cigarro. Alckmin foi muito aplaudido, mas nem um pouco obedecido. Na saída do auditório, nos intervalos das palestras, as senhoras aproveitavam para dar suas tragadas. ‘Eu fumo desde a adolescência. Concordo com o governador. Estou tentando parar aos poucos’, prometeu Odete Gomes de Albuquerque, 60 anos.

Quem não acendia seu cigarrinho preocupava-se em conseguir uma foto ao lado de Alckmin. ‘Se eu não levar esse retrato para minha cidade os velhinhos não vão acreditar que o governador está comprometido com eles’, contou Sônia Regina Batista, 55 anos, moradora de Itápolis, cidade que fica a 140 km da Capital.

Hoje é o segundo e último dia de palestras. Os temas serão mais voltados para a segurança e o turismo na terceira idade. A organização do evento espera a presença do prefeito José Serra. Quem quiser participar deve se dirigir ao Centro de Convenções do Anhembi, na Avenida Olavo Fontoura. A entrada é gratuita.