A Febem no rumo certo

Jornal da Tarde - São Paulo - Terça-feira, 1º de fevereiro de 2005

ter, 01/02/2005 - 9h30 | Do Portal do Governo

EDITORIAL

Avolumam-se os indícios de que o secretário da Justiça e presidente da Febem, Alexandre de Moraes, acertou em cheio ao identificar a existência do que chama de ‘banda podre’ na instituição, constituída por maus funcionários. Às velhas suspeitas de maus-tratos a internos e facilitação de fuga acrescentam-se agora outras referentes a fraudes, em escala considerável, na concessão de licenças para tratamento de saúde.

Depois de uma vistoria realizada nas unidades 3 e 41 do Complexo Vila Maria, quando ouviu adolescentes e funcionários a respeito da fuga de 202 internos na noite de quarta-feira , o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Hédio Silva Júnior, concluiu que a possibilidade de uma evasão dessas proporções era quase nula sem cumplicidade. ‘Há indícios da participação de funcionários. Alguém abriu as portas’, diz ele. O coordenador estadual do Movimento de Direitos Humanos, Ariel Castro Alves, vai mais longe e afirma que ‘não se pode descartar que (a fuga) seja uma reação do crime organizado, formado por maus funcionários para reagir contra as medidas de moralização adotadas pela presidência da Febem’.

Ao mesmo tempo, constatava-se – conforme reportagem publicada domingo por O Estado de S. Paulo – que não só é excessivamente elevado o número de funcionários da Febem em licença médica, como boa parte deles já poderia ter voltado ao trabalho. Pelo menos 829 dos 9 mil funcionários da instituição – ou seja, quase 10% – encontram-se afastados por problemas de saúde, o que levantou na direção da Febem e no Ministério Público suspeitas sobre a existência de fraudes. Foram convocados para exames 415 funcionários. Dos 200 que compareceram, 112 estavam aptos para trabalhar. Parte dos 215 que faltaram assim teria agido para não ser desmascarada.

Suspeita-se que muitos funcionários estejam usando as licenças médicas como artifício para se afastar do trabalho quando são alvos de sindicância – os que se encontram nesse caso podem ser 50% do total dos afastados – ou para se dedicar a outros empregos. Neste último caso, constatou-se por exemplo que um dos funcionários afastados dá palestras em universidades no Interior do Estado e outro trabalhava até o ano passado como marronzinho na Companhia de Engenharia de Tráfego CET.

Para pôr ordem na Febem, o secretário Moraes tem de lutar em duas frentes – contra a ‘banda podre’ e contra o que ele qualifica de ‘lideranças negativas’ de internos sobre os demais adolescentes. Essas lideranças que incitam rebeliões – e cuja maior parte é de maiores de 18 anos – serão isoladas nos próximos dois meses em unidades especiais. Moraes está no caminho certo e, se nele permanecer, deve merecer o apoio decidido do governador, para que a Febem possa superar a grave crise em que está mergulhada há anos.