A esperança vem do Butantan

A Tribuna/Santos

ter, 12/05/2009 - 10h34 | Do Portal do Governo

O Instituto Butantan, de São Paulo, é uma das poucas instituições no mundo escolhidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para desenvolver uma vacina contra a atual gripe suína. A distinção se deve, em grande parte, graças ao idealismo e à perseverança de seu primeiro diretor: o médico e pesquisador Vital Brazil Mineiro da Campanha.

“Começou em uma cocheira, numa fazenda abandonada. Ele murou a cocheira, que era aberta, em dezembro de 1899. A data oficial para o começo do laboratório é 24 de dezembro desse ano”, conta Érico Vital Brazil, neto do pesquisador, presidente da Casa Vital Brazil, envolvido na produção de um documentário sobre o avô.

Esse laboratório, que ainda era ligado ao Instituto Bacteriológico (hoje, Instituto Adolfo Lutz, colega de Vital Brazil à época), tinha a missão inicial de produzir soro contra a peste bubônica e foi o embrião do que viria a ser o Butantan.

Só falta um elemento nessa história: a cidade de Santos. Isso porque a implantação do laboratório foi uma consequência direta de um surto de peste na Cidade, combatido com sucesso por Vital, ainda em 1899.

Desbravador da saúde

No Brasil do final do século 19, havia pragas para todos os gostos: malária, febre amarela, peste bubônica, escorbuto, tifo, varíola. É nesse clima que Vital Brazil chega a Santos, em setembro de 1899, como inspetor sanitário do Estado, para combater a peste.

“Veio com essa missão (sanitária). Era normal a ida ao interior, não só dele, como de Adolfo Lutz, do próprio Emílio Ribas, diretor do serviço sanitário (à época)”, explica Érico. “Ele tinha uma ideia de que a peste bubônica havia chegado a Portugal, especialmente ao Porto, de onde saíam navios com destino ao Brasil”.

Confirmado que o surto em Santos era de peste, o procedimento adotado para contê-la era formado pelo tripé informação de conduta higiênica à população, carros vaporizadores pela Cidade, para o extermínio dos ratos, e o isolamento das pessoas com claros sintomas, para estudo e tratamento. “Não se podia deixar pessoas com peste junto a outras que não tinham a doença, da mesma forma que hoje, na gripe suína”.

Apesar de já ter sido desenvolvido,ainda não havia noBrasil o soro contra a peste. Resultado: o tratamento consistia apenas em “dar condições de saúde à pessoa”, nas palavras de Érico. E o que seria isso? Simplesmente, alimentação e higiene adequadas -­ itens considerados básicos hoje em dia, mas que naquela época ainda eram artigos raros.

Da confirmação à erradicação da peste, foram necessários apenas 3 meses. Ao todo, apenas 35 casos tratados, incluindo o do próprio Vital Brazil, que, em virtude do contato com os infectados, acabou contraindo a doença. “A sorte dele é que chegou ao Porto um navio dinamarquês, que tinha o soro a bordo”.

Concluída a operação em Santos, Vital Brazil foi convidado a assumir e iniciar a produção de soros na fazenda do Butantan. Em fevereiro de 1901, o laboratório foi reconhecido como instituição autônoma, batizado de Instituto Serumtherápico. “Nos primeiros oito anos, já produzindo vacinas e soros, ele teve apenas um único assistente”.

Foi somente em 1925, que o Instituto Serumtherápico recebeu o nome com o qual ficaria conhecido no mundo inteiro. Hoje, além das unidades de desenvolvimento e produção de vacinas, soros e biofármacos, o instituto engloba ainda o Hospital Vital Brazil, um parque, três museus, uma biblioteca e um serpentário.

Documentário

Será dividido em blocos temáticos, abordando a História, a Ciência e o panorama atual, especialmente no Rio de Janeiro. Ao todo, são 18 partes de 8 minutos cada. Para mais informações acessar www.museuvitalbrazil.org.net.

Gripe suína

Em rápida conversa por telefone, o atual diretor da Fundação Butantan, Isaias Raw, reiterou que a vacina contra o vírus da gripe suína deve ficar pronta entre 3 e 6 meses. Sobre a possibilidade, recentemente levantada por especialistas, de que a essa onda de gripe suína, leve, seguiria-se outra, severa, como no caso da gripe espanhola de 1918, Raw foi sucinto. “Não tem nada garantido”. Em Santos, os quatro primeiros casos acompanhados, a partir de 1o de maio, foram descartados como gripe suína, após o resultado dos exames realizados no Instituto Adolfo Lutz darem negativos.