Duarte Nogueira
Depois de dominar a produção do combustível que pode substituir a gasolina – o álcool de cana – o Brasil dá passos importantes para se consolidar na produção de biodiesel, que pode perfeitamente ser usado no lugar do diesel mineral.
O biodiesel já é produzido e utilizado em larga escala em países da Europa e Estados Unidos.
Nada mais é do que a mistura de um álcool com um óleo vegetal (soja, girassol, milho, algodão, canola ou gordura animal). Dessa reação resultam o biodiesel, a glicerina e o farelo de oleaginosa, que pode ser usado na alimentação animal.
Esse combustível pode ser utilizado puro ou em misturas que podem variar de 5% a 30% no diesel mineral.
No Brasil, há estudos para o desenvolvimento do biodiesel em várias regiões do país com diferentes componentes.
Na região da Amazônia, o combustível pode ser produzido a partir de palmeiras, dentre elas o dendezeiro, e o coco de babaçu se mostra uma excelente alternativa no Piauí, Goiás, Mato Grosso e Pará.
Nas regiões sul e centro-sul do país, a produção se mostrou viável a partir da soja e o amendoim assim como a mamona no nordeste semi-árido.
No Estado de São Paulo, a Câmara Setorial Especial de Biocombustíveis, criada pelo governo estadual, é presidida pelo professor Miguel Dabdoub, do Departamento de Química a USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto e tem a finalidade de consolidar as propostas de projetos estratégicos para o álcool combustível e o biodiesel, envolvendo desde a geração de inovações tecnológicas até proposituras de mecanismos de financiamento para alavancagem da produção estadual.
A produção em escala comercial do biodiesel depende de alguns fatores, de natureza técnica e econômica. Ou seja, é necessário desenhar toda a estrutura de produção da matéria-prima e de logística de estocagem para que se tenha o módulo agroindustrial comercial do biodiesel. São questões que a câmara setorial irá se deparar.
No caso paulista, o biodiesel está intimamente ligada ao álcool, já que o processo de produção patenteado pela equipe de Dabdoub utiliza o derivado de cana como reagente, uma grande vantagem em relação aos demais países que usam o metanol, proveniente do petróleo e altamente tóxico.
O Brasil é o maior produtor mundial de cana e de álcool combustível e o Estado de São Paulo respondeu, em 2003, por 61% da produção do combustível.
Sua importância para o agronegócio paulista e brasileiro fez com que o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), baixasse de 25% para 12% o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o hidratado no último mês de dezembro de 2003.
Os países estão de olho no Brasil por conta do Protocolo de Kyoto, que tornou obrigatória a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, onde o gás carbônico é o mais abundante e o metano, o mais perigoso.
Países que reduzam a emissão ou retirem esses gases da atmosfera podem vender cotas de carbono a países que necessitem se enquadrar ao protocolo.
Costumo dizer que a Idade da Pedra não terminou por falta de pedra. Da mesma forma que a era do petróleo não será suplantada pelo fim das reservas, mas pela necessidade de reduzirmos as emissões de gases causadores do efeito estufa e manutenção dos recursos naturais.
Nosso país ainda tem muito a ganhar com o álcool e com o biodiesel.
Duarte Nogueira é secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.