4,2 mil pessoas no Mutirão da Catarata

Jornal da Tarde - Domingo - 30 de janeiro de 2005

seg, 31/01/2005 - 8h59 | Do Portal do Governo

A fila no Hospital das Clínicas começou a se formar na sexta-feira, 14 horas antes do início dos exames gratuitos

JULIANA DE FARIA

Na sexta-feira, Vera Lúcia da Silva Cabral, 51 anos, saiu da sua casa, em Pirituba, Zona Oeste da Capital, e seguiu para o Hospital das Clínicas, na mesma região. Ela chegou ao local exatamente às 16h37 e foi recebida pelos seguranças da instituição com palmas e risos. O motivo da festa? Vera foi a primeira da fila do Mutirão da Catarata, realizado ontem, a partir das 7h.

A chegada ao hospital com mais de 14 horas de antecedência é facilmente justificada. A mãe de Vera, Maria Lopes de Jesus, 77, já não enxerga mais por causa da catarata. ‘Ela gosta muito de ler e a perda da visão diminuiu a sua qualidade de vida. Minha mãe anda muito desanimada.’ Vera, no entanto, não esteve sozinha nessa longa jornada. ‘Revezei com minha filha e meu irmão na fila. É cansativo, mas não iríamos abrir mão da cirurgia.’

Dona de belos olhos azuis, Emília Caires, 76, também foi uma das pacientes que enfrentaram a chuva de ontem para garantir uma operação. ‘Já faz tempo que tenho catarata, mas só tive coragem de marcar a cirurgia agora’, contou. ‘A doença me impede de pegar ônibus, de costurar, de fazer coisas simples. Tenho de usar óculos o tempo todo, o que é muito chato, pois sou vaidosa’, brinca. Emília poderá desfilar por aí sem óculos a partir do dia 10 de março – data em que sua cirurgia foi marcada.

A fila no Hospital das Clínicas dava voltas nas rampas da instituição. Todos os pacientes foram submetidos a uma triagem e os que tiveram diagnosticados casos de catarata realizaram nove exames oftalmológicos e saíram do hospital com data já marcada para a cirurgia. Cerca de 4.200 paulistanos foram atendidos e 550 cirurgias, agendadas.

‘O bom do mutirão é a praticidade. As pessoas que estão aqui moram longe e não têm condições de vir muitas vezes por mês, apenas para realizar um exame. Com esSa campanha, os pacientes passam por aqui uma única vez, fazem todos os exames necessários e já marcam a cirurgia’, explicou o coordenador do Mutirão da Catarata e responsável pela clínica de oftalmologia do Hospital das Clínicas, Nilton Kara José.

A catarata é um tipo de cegueira curável. No entanto, estima-se que existam quase 20 milhões de pessoas cegas por catarata em todo o mundo. Usar colírio não ajuda na cura da doença e a única forma de a pessoa voltar a enxergar é o tratamento cirúrgico.