254 mil jovens e adultos em busca de um diploma

O Estado de S.Paulo - Segunda-feira, 3 de março de 2008

seg, 03/03/2008 - 15h16 | Do Portal do Governo

O Estado de S.Paulo

O governo de São Paulo realizou ontem o chamado exame supletivo, para jovens e adultos que não terminaram a escola. A prova é uma maneira de conseguir o certificado de conclusão do ensino fundamental ou do médio sem precisar freqüentar aulas de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Estavam inscritos 254.632 pessoas; era preciso acertar pelo menos 50% dos testes para serem aprovados.

Quase 60% dos participantes têm acima de 30 anos, segundo dados da Secretaria Estadual da Educação. É preciso ter, no mínimo, 15 anos para fazer o exame para o fundamental e 18, para o médio. “Muitos são autodidatas, outros estão estudando mas precisam do certificado rapidamente para obter um emprego”, diz a diretora do centro de exames supletivos no governo paulista, Elisabete Lunetta.

A afirmação é baseada apenas em observações porque, pela primeira vez, o Estado vai tentar traçar o perfil dessa população, por meio de questionários oferecidos a quem se inscreveu para a prova de ontem. A intenção é saber onde estudaram esses ex-alunos, como se preparam para o exame e qual é seu objetivo. Além disso, serão questionados sobre renda familiar e quantidade de livros lidos. Darão, ainda, opinião sobre a dificuldade das questões.

Segundo a coordenadora da ONG Ação Educativa, Vera Massagão, a falta de informações sobre a EJA no Brasil dificulta as políticas públicas na área. “Não se sabe quantos dos participantes conseguem sua certificação por meio dos exames, nem nacionalmente nem no Estado”, diz Vera.

O exame paulista existe desde os anos 1970. Em 2001, passou a ser dividido em três áreas, cada uma com 40 questões: linguagens e códigos (que inclui português, inglês e educação artística), ciências da natureza (matemática, física, química e biologia) e ciências humanas (história e geografia). Há ainda uma redação. O candidato faz os exames separadamente e pode ser aprovado em apenas uma área; só quem se sair bem nas três recebe a certificação.

UNIFICAÇÃO

A prova custa R$ 4 milhões para o governo do Estado e ocorre em 153 cidades. Os candidatos não precisam pagar taxa de inscrição para poder participar.

O governo federal criou em 2004 o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) numa tentativa de unificar as provas. As secretarias de educação precisavam aderir ao exame, mas até hoje só quatro Estados participam – Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul -, mais o Distrito Federal.

O Ministério da Educação (MEC) só realiza a prova; são os Estados que definem as notas de corte para determinar a aprovação ou não do candidato. A última edição, em 2007, teve 313 mil inscritos. Hoje há 4,9 milhões de alunos em EJA no País. Mais de 95% deles estudam em escolas municipais ou estaduais que oferecem aula para adultos – o restante faz cursos privados.

A EJA é fundamental para que brasileiros recém-alfabetizados não voltem a ser analfabetos, mas ainda enfrenta problemas como a falta de professores preparados para a função. Mesmo assim, Vera acredita que adultos têm de ter a opção de fazer uma prova e, se aprovados, receber sua certificação. “Nem todo mundo quer ficar na sala de aula; é um direito deles.”

Grande parte das pessoas que fizeram as provas de ontem na Escola Estadual Silva Jardim, no Tucuruvi, zona norte de São Paulo, queria o certificado de conclusão do ensino fundamental ou médio por causa do trabalho atual ou de algum curso profissionalizante. “A firma exige o ensino fundamental”, explicou o estoquista Ancelmo Oliveira, de 33 anos, que diz não ter estudado para os exames de ciências humanas e da natureza. “Usei o meu conhecimento. Mas vou começar um curso para terminar o ensino médio.”

Já a manicure Rosana Geraldes, de 42, fez as três provas do ensino fundamental. “Quero fazer um curso de podóloga e preciso do certificado.” Ela, que estudou até a 6ª série, se preparou para o exame em casa. “Usei os resumos que meu marido baixou na internet.”

A aposentada Luiza Catão de 64 anos, também fez todas as provas do ensino fundamental, mas “para pôr a mente para funcionar. “Já casei e criei os meus filhos. Tenho tempo de sobra.”