Um projeto desenvolvido por estudantes do curso técnico de Logística da Escola Técnica Estadual (Etec) Prof. Carmine Biagio Tundisi, de Atibaia, na região de Campinas, está incentivando pequenos e médios produtores locais a investirem no plantio de morangos em ambiente protegido.
A Estufa Vertical de Morangos, implantada na Etec em novembro de 2017, abriga um conjunto de prateleiras nas quais são depositados os vasos com as mudas, em espaço coberto, visando proteger a plantação e criar um microclima adequado ao cultivo. A irrigação e fertilização são feitas por meio de gotejamento, direto na raiz, tornando a absorção dos nutrientes mais rápida e eficaz. Outra vantagem é evitar desperdício de água e utilização de agrotóxicos.
O controle do ambiente também deixa a plantação menos suscetível a pragas e doenças. E mesmo no caso de ocorrer contaminação, como as mudas são plantadas separadamente, é possível eliminar apenas o recipiente comprometido, afastando o perigo de infestação e perda total da safra. A estrutura vertical do equipamento permite um aproveitamento melhor do espaço, adaptando a técnica às pequenas propriedades.
“É uma técnica já utilizada em grandes propriedades do município”, explica o professor e um dos orientadores do trabalho, Adilson Bondança. “Queremos mostrar ao pequeno produtor que também é possível desenvolver essa proposta em espaços menores e com custo reduzido.”
Para demonstrar tal possibilidade, os alunos construíram a estufa com materiais baratos, utilizando pallets e bambu para a montagem das estantes e cobertura. As mudas e o substrato de solo para plantio foram doados pela Secretaria de Agricultura municipal.
Grandes desafios
A Estufa Vertical de Morangos é parte de um projeto maior, fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o Avança Atibaia, que propõe implantar na cidade e nos municípios vizinhos um Arranjo Produtivo Local (APL), no qual o cultivo do morango seria um dos pilares de integração entre os diversos setores produtivos.
“Quisemos apresentar uma referência de tecnologia que, além de valorizar o produtor e ajudá-lo a conquistar espaço no mercado, possa contribuir para a implantação do APL”, afirma um dos estudantes responsáveis pelo projeto, João de Souza Neto.
Técnico em Logística formado no final do primeiro semestre deste ano, João acaba de iniciar o curso superior tecnológico na mesma área na Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Bragança Paulista. Mas a nova etapa da vida acadêmica não o afastou da estufa: continua a acompanhar o andamento da pequena plantação. “Nossa primeira colheita deve acontecer entre setembro e outubro”, comemora.
O conhecimento tem sido compartilhado com pequenos produtores por meio de visitas à Etec. O presidente da Cooperativa Agrícola Familiar (CAF) de Atibaia, Amarildo Santana, conta que tem levado muitos associados para conhecer o projeto e assim descobrir o cultivo protegido como um investimento. “Os meninos da Etec estão reativando uma ideia que já conhecíamos, mas estava adormecida.”
De acordo com João, o aumento da competitividade local e dos municípios vizinhos, possibilita explorar organizadamente a integração de atividades econômicas. Agricultores poderão, por exemplo, vender para as indústrias, restaurantes, supermercados e hotéis da região, baixando o preço para o consumidor final, ainda com uma margem de lucro atraente.
“Desta forma, diminuímos a dependência que muitos produtores locais têm de mercados mais distantes, o que encarece o produto. Na medida em que a necessidade de deslocamento se torna menor, os preços passam a ser mais competitivos e a mercadoria, de melhor qualidade”, conclui o estudante.
Ideia premiada
Em abril, na sede do Centro Paula Souza, na capital, o Avança Atibaia foi destaque da quinta edição do Desafio Inova Paula Souza de Ideias e Negócios, conquistando o segundo lugar no eixo tecnológico de Agronegócio e Pecuária. Durante o evento, foram apresentadas as três melhores propostas de cada uma das 12 categorias do prêmio que chegaram à final.
Os projetos foram escolhidos por um grupo de jurados, composto por professores e especialistas convidados, que avaliaram critérios como escopo e relevância da ideia, objetividade no preenchimento do Canvas, clareza do pitch, viabilidade e potencial de execução econômica do projeto, bem como grau de inovação e proteção legal. No total, foram inscritos mais de 2,2 mil projetos de todo o Estado.
Além de João, participaram do Avança Atibaia Caíque Bezerra, Estevan Tafuri, Janderson da Silva e Rafael da Silva.