Museu de Arte Sacra homenageia expoentes das expressões barroca e rococó no Brasil

Exposição “Fé, Engenho e Arte: os três FRANCISCOS” começa neste sábado (27) conta com obras de mestres escultores como Aleijadinho

seg, 29/05/2023 - 9h32 | Do Portal do Governo
Museu de Arte Sacra homenageia expoentes das expressões barroca e rococó no Brasil

O Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS.SP), instituição da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, inaugurou no sábado (27) a exposição “Fé, Engenho e Arte – Os Três FRANCISCOS: mestres escultores na capitania das Minas do ouro”, sob curadoria de Fabio Magalhães e museografia de Haron Cohen. A atração ficará disponível até 30 de julho.

Serão exibidas  65 obras dos mestres do barroco brasileiro: Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), Francisco Vieira Servas e Francisco Xavier De Brito. Na mostra, o MAS.SP homenageia os expoentes das expressões barroca e rococó no Brasil, do século XVIII, além de estabelecer um paralelo entre as obras desses três artistas, fundamentais para a compreensão e apreciação da arte sacra barroca brasileira. A exposição destaca esculturas e talhas, oferecendo ao público uma experiência imersiva e enriquecedora.

A exposição ” Fé, Engenho e Arte – Os Três FRANCISCOS: mestres escultores na capitania das Minas do ouro” convida os visitantes a explorar e apreciar a riqueza das obras desses três mestres da arte sacra barroca brasileira. O Museu de Arte Sacra de São Paulo tem o prazer de proporcionar essa oportunidade única de mergulhar na história e na cultura por meio das criações.

Sobre os artistas

Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho) (1738 – 1814) – Nascido em Vila Rica (atual Ouro Preto), é considerado um dos maiores expoentes da arte barroca no Brasil. Pouco se sabe sobre sua biografia, e sua trajetória é reconstituída através das obras que deixou. Toda sua obra – talhas, projetos arquitetônicos, relevos e estatuária – foi realizada em Minas Gerais. Sua produção artística, apesar das limitações físicas decorrentes de uma doença degenerativa, é notável pela expressividade e minúcia dos detalhes. Aleijadinho é conhecido principalmente por suas esculturas, com destaque para os profetas do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, e os doze apóstolos de Ouro Preto.

Francisco Vieira Servas (1720 – 1811) – escultor e entalhador português, nascido em Eidra Vedra, foi um dos principais representantes da talha e do barroco mineiro, deixando uma importante marca na arte sacra. Sua habilidade técnica e a fusão de influências europeias com a sensibilidade local resultaram em obras de grande beleza e expressividade. Suas esculturas revelam uma devoção religiosa profunda, retratando santos, anjos e cenas bíblicas em madeira e pedra.

Francisco Xavier de Brito (? – 1751) – entalhador e escultor português, com local de nascimento desconhecido, foi responsável por importantes talhas de Igrejas do barroco mineiro. Ele contribuiu de maneira significativa para a arte sacra barroca brasileira. Suas habilidades na arquitetura e no entalhe complementam a exposição, apresentando ao público obras detalhadas e distintas.

História

No período que abrange os séculos XVIII e XIX, período da ascensão e declínio da mineração aurífera na Capitania das Minas de Ouro, diversos arquitetos, entalhadores, escultores e pintores atuaram na região. Três escultores de nome Francisco se sobressaíram em comparação aos demais: Antônio Francisco Lisboa (conhecido como Aleijadinho), sem dúvida nenhuma, o grande escultor do Brasil colônia, nascido em Vila Rica; Francisco Xavier de Brito; e Francisco Vieira Servas, ambos de origem portuguesa.

Os reis portugueses sempre sonharam com a possibilidade de ouro abundante na vastidão das terras do Brasil. As descobertas espanholas no vice-reino do Peru fizeram com que incentivassem bandeirantes e aventureiros a realizarem incursões por regiões que não lhes pertenciam à procura do metal. Isso contribuiu para que o território da colônia se expandisse e povoados foram criados além das linhas do Tratado de Tordesilhas.

O pensamento dos bandeirantes era simples: se havia ouro na costa espanhola da América do Sul, devia haver também no Brasil. Eles estavam certos. No sec. XVIII o Brasil se transformou no maior produtor de ouro do mundo. A notícia se espalhou com rapidez e gerou uma corrida tanto entre os habitantes locais como os de Portugal. Todos foram em busca de riqueza e poder.

Para garantir sua parte, o rei de Portugal impôs regras rígidas: enviou milícias para vigiar a produção de minérios e que também impediam o acesso à região das minas, sendo permitida apenas com autorização real. Todos os caminhos eram vigiados para impedir o contrabando. E, mesmo assim, parte considerável da produção escapava desse controle.

Uma nota de contextualização: fazem parte desse período conhecido como “civilização do ouro” , do final do século XVII, no meio do nada e distante de tudo, o artista Antônio Francisco Lisboa, nascido em Vila Rica, conhecido como Aleijadinho, Francisco Xavier de Brito e Francisco Vieira Servas.

O Rei D. João V tomou diversas medidas para controlar e assegurar o envio do ouro para Portugal. Uma delas, em 1711, foi a proibição da entrada de ordens religiosas na região das minas e obrigou a saída das que já estavam nos locais buscando evitar a intervenção do poder da Igreja católica nos assuntos auríferos do reino. Assim sendo, o trabalho de evangelização e gestão paroquial foi assumida por sacerdotes seculares. Multiplicaram-se, também, a presença de confrarias leigas, irmandades e ordens terceira que tomaram a frente dos temas religiosos em Minas e com fé, engenho e arte, investiram em construções de igrejas de alto nível artístico e nas representações do imaginário do sagrado. Portugal enviou seus mestres e também ensinou os nativos no ofício do entalhe e da cantaria, entre outras atividades vinculadas à arte sacra.

Mesmo com a proibição do rei de Portugal quanto à presença das ordens na região, a vida religiosa foi organizada através de ordens terceiras, irmandades e confrarias. A rivalidade entre essas instituições impulsionou a criação artística, o que resultou em uma plêiade de artistas, artesãos e músicos que foram requisitados para embelezar as celebrações. Em Minas, a religiosidade se expressava com grande pompa, quase como um espetáculo grandioso.

Durante o período de esplendor e riqueza em Vila Rica, os cidadãos proeminentes da cidade erguiam moradias imponentes, desfrutavam de uma vida luxuosa e apreciavam produtos importados da Europa. As influentes confrarias religiosas competiam fervorosamente entre si, tanto em devoção religiosa quanto em ostentação da fé. Essas instituições contratavam profissionais especializados, como arquitetos e artesãos, para construir igrejas com fachadas majestosas e ornamentações requintadas. Nesse ambiente próspero e dinâmico, cresceu um jovem mulato chamado Antônio Francisco Lisboa, filho natural do arquiteto português Manuel Francisco da Costa Lisboa (?-1767).

No ano de 1738, coincidindo com o nascimento de Antônio Francisco Lisboa, as ricas jazidas de ouro da região ainda apresentavam uma produção generosa, o que impulsionava um notável crescimento em todas as regiões de Minas Gerais, em especial em Ouro Preto

Sobre o Museu de Arte Sacra de São Paulo

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, instituição cultural localizada no centro da cidade de São Paulo, é considerado um dos mais importantes museus do gênero no país. Fundado em 1970, foi estabelecido por meio de um convênio entre o Governo do Estado de São Paulo e a Arquidiocese de São Paulo, ocupando parte do Térreo do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na Avenida Tiradentes. A edificação onde está instalado é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, um raro exemplar remanescente na cidade e última chácara conventual de São Paulo. O Mosteiro foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1943 e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo em 1979.

O acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo é composto por milhares de itens, que contam a história da arte sacra no Brasil e no mundo. O museu possui uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos XVI e XX, com destaque para as obras de importantes nomes como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, conhecido como “Aleijadinho”, e Benedito Calixto de Jesus, além de coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.

Parte do acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo é tombado pelo IPHAN desde 1969, sendo considerado um patrimônio inestimável que compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. Com suas exposições, o museu visa preservar e divulgar a riqueza da arte sacra, além de proporcionar aos visitantes um contato direto com a cultura e a história brasileira.