Museu do Futebol abre ao público dia 1° – Parte 1

Governador: Muito boa noite. Eu queria cumprimentar o ministro Orlando Silva, que se sentiu sensibilizado pela máxima do João Saldanha: Se macumba ganhasse eleição, o campeonato baiano terminaria empatado.  Hein? […]

seg, 29/09/2008 - 16h39 | Do Portal do Governo

Governador: Muito boa noite. Eu queria cumprimentar o ministro Orlando Silva, que se sentiu sensibilizado pela máxima do João Saldanha: Se macumba ganhasse eleição, o campeonato baiano terminaria empatado.  Hein? Jogo. Que ato falho, hein? É um disputa também, não? Governador Sérgio Cabral, que atendeu a nosso convite pessoal. Queria agradecer muito mesmo – viu, Sérgio ? – a sua presença aqui. Para nós, é muita honra ter o governador do Rio de Janeiro na inauguração deste Museu hoje, no Pacaembu. Jerome Valcke, secretário geral da FIFA. Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Walter Feldman, secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação, que representa hoje a Prefeitura da Capital. José Roberto Marinho, presidente da Fundação Roberto Marinho. Caio Luís de Carvalho, presidente da SP Turis e presidente do Conselho de Administração do Museu do Futebol.

Queria cumprimentar também os parlamentares, secretários de Estado e do Município, presidentes de clubes, parceiros e patrocinadores, craques que fizeram a historia de nosso futebol. A todos os presentes.     

O Museu do Futebol, na verdade, era uma idéia que já existia no ar. Pouco depois de assumir a Prefeitura de São Paulo, decidi, com a nossa equipe, materializá-lo, sem a ambição do exclusivismo. Eu imaginava um museu composto fundamentalmente de idéias, de memória e não tanto de relíquias. Pensava em algo que expressasse a memória do nosso futebol, suas performances, suas conquistas e até os seus sofrimentos.

Para isso – eu estava convencido – era preciso utilizar o que há de mais avançado em matéria de tecnologia. Que fosse um museu que emocionasse e entusiasmasse o público. Um museu-escola que fosse lúdico, interativo, divertido e aconchegante. Que mostrasse a evolução desse esporte maior brasileiro no contexto da história de nosso País.

Um esporte que começou na elite, de forma socialmente segregada, e chegou às massas, que o tomaram para si e o reinventaram num processo paralelo ao próprio Brasil, que ao longo do período se transformou numa sociedade de massas, com suas virtudes e problemas.

 

Inicialmente, procurei ganhar para a idéia e aprender com os formadores de opinião do esporte, entre eles jornalistas.  Visitando e revisitando o Museu da Língua Portuguesa, não tive dúvida: era necessário conquistar a Fundação Roberto Marinho como Organização Social parceira, o que não foi difícil, até porque as relações de amizade com o José Roberto e o Hugo Barreto facilitaram a aproximação e as explorações iniciais. Foi uma escolha perfeita.

Quero dizer aqui – José Roberto, Hugo – que o resultado, em matéria de criatividade e bom gosto, ultrapassou de muito as nossas expectativas. A Fundação fez valer seu profissionalismo, sensibilidade para temas novos – como já tinha demonstrado no caso do Museu da Língua Portuguesa – e capacidade para reunir grandes talentos, começando pelo Leonel Katz, autor de um livro sensacional sobre a história do nosso futebol. Lembro que o Alberto Helena e o Paulo Vinicius Coelho tinham sugerido o Pacaembu como local para mim, quando conversei com eles. Sugestão que levianamente descartei na hora.

Mas, como sempre acaba acontecendo sempre comigo, mesmo quando eu descarto, eu deixo no arquivo, porque sempre há a dúvida de que o outro pode estar certo. Deixei de lado para um reexame. E incluí o Pacaembu dentro das possibilidades. E acabou sendo escolhido depois que os próprios técnicos da Fundação Roberto Marinho constataram que aqui havia sete mil metros quadrados disponíveis embaixo da arquibancada. Coisa em que, até agora, não acredito. Eu já andei, etc., mas quando a gente sai, não acredita. Portanto, fixamos o Museu aqui no Estádio do Pacaembu. 

Quero registrar que foi muito importante o apoio e o endosso da Confederação Brasileira de Futebol ao Museu dado pelo Ricardo Teixeira desde o seu lançamento. Era uma parceria indispensável para o Museu, pelo seu significado político nacional e no sentido prático da própria organização e de todo o acervo.

Para mim, o Pacaembu e o futebol se confundem. Quando eu era criança, vinha com meu pai, nos domingos à tarde, assistir aos jogos do Palmeiras. Vivíamos a da inocência: antes da partida principal jogavam os aspirantes. O Sérgio não é desse tempo. Tinha aspirante no seu tempo? Não havia reservas, não podia entrar jogador no meio da partida. Lembra o Pelé contra Portugal? Machucou, tinha que ficar jogando machucado. Então os aspirantes jogavam antes. Os titulares do jogo principal ficavam assistindo, sentados no alto das arquibancadas. Eu ficava idolatrando, olhando. Ninguém tinha coragem para falar. Na época, nem autógrafo se pedia. Eu me lembro dos jogadores: Jair Rosa Pinto, Turcão, Lula (ponta direita do Palmeiras). O Palmeiras tinha um grande ponta direita chamado Lula.

Era outra época. Eu lembro aqui a partida que mais me marcou na vida. Já conversei com o Pelé várias vezes sobre isso, conferindo. Foi um jogo Santos x Palmeiras, Rio e São Paulo. Eu estava sentado, na época, nas gerais. Era adolescente, estava nas gerais. O Santos ganhou de 7 a 6. Foi, se não me  engano, 2 a 1; depois 3 a 2; 4 a 2; 5 a 2 para o Santos. O Palmeiras passou para 6 a 5 e o Santos passou para 7 a 6. Vocês acreditam que até os palmeirenses aplaudiam o Pelé e aquela linha de ataque naquela noite? Foi uma coisa inesquecível aqui, neste estádio, que – como eu disse – para mim se confunde com a história do nosso futebol. Como se confunde, também, com a população de São Paulo. Quando fala em futebol, fala do Pacaembu.

Por isso, aliás, eu até insisti – num certo momento – em que o Museu deveria estar ligado ao campo de futebol. Isso foi feito: vai ser possível, do Museu, ter acesso ao estádio, ao campo de futebol. A questão se vai ser ou não durante partidas tem que ser resolvida ainda, até considerando a posição da Polícia Militar, que se manifestou inicialmente contra.     

Disse que o museu ultrapassou nossas expectativas. Quero aqui também invocar como testemunha o Caio Carvalho para me defender de minha fama, injusta, de  centralizador e detalhista. O pessoal que fez o Museu sabe que isso não é verdade porque o Museu foi feito de maneira bastante descentralizada. Eu dei poucos palpites. O pessoal fica rindo lá, ironicamente, mas é absolutamente verdadeiro.

Eu me lembro de uma sugestão que eu dei que foi para enfatizar o locutor Pedro Luís. Na era pré-televisão, foi o principal radialista brasileiro, o principal locutor brasileiro. E também para que se colocasse a foto no Museu, de maneira permanente, dos trabalhadores que fizeram as obras. Vai ser inaugurada hoje a foto. Trabalhadores muito bons, mas infelizmente, como eu constatei, conversando com eles, a maioria de corintianos. Para variar. E todos participantes. Todos têm um time, no Brasil todo mundo tem um time. O futebol é uma coisa que faz parte da nossa intimidade.    

Quando fui para o Governo do Estado, o Walter, o Clóvis Carvalho e o Caio, por delegação do prefeito, continuaram tocando o trabalho. E o Governo do Estado entrou diretamente, até no financiamento. Um terço do financiamento do Museu veio diretamente da Prefeitura e do Estado, e dois terços dos nossos patrocinadores, que eu não vou repetir aqui. Mas queria agradecer muito a eles. Até pela paciência, porque eu fiquei em cima de alguns dos patrocinadores, telefonando, vendo cronogramas, dia em que entra dinheiro, dia em que não entra, assina o contrato, não assina. E o Estado, agora, vai gerir o Museu, sendo responsável pelo seu custeio. Ou seja, a manutenção do Museu vai caber ao Governo do Estado de São Paulo nos próximos anos.

 

Mas deixem-me, agora, sublinhar brevemente alguns pontos que, penso, contribuem para fixar o significado do Museu.1. QUALIFICAÇÃO PARA COPA DE 2014

A realização do Museu do Futebol constitui um fato novo, de caráter internacional, pelo padrão que dá ao esporte, não apenas pelo seu conteúdo, como pelo uso de tecnologia de ponta. Constitui assim, um significativo acréscimo de qualificação para a demanda brasileira de sediar a Copa de 2014, pois traz o futebol para uma contemporaneidade ainda não vista em nenhum museu do gênero no mundo. Sem exagero. 2. NOVAS FORMAS DE AÇÃO EDUCATIVA

O Museu demonstra, aos olhos do Brasil, o avanço de São Paulo em promover uma educação pública de qualidade. Não apenas na escola – a educação pública não se faz apenas na escola – mas também nas suas extensões, com a criação de um verdadeiro museu-escola. É o que queremos que seja este, que amplia a  compreensão e a capacidade de aproveitamento escolar dos alunos. 3. INSERÇÃO POLÍTICA NACIONAL

Ao mesmo tempo, é um Museu que amplia a inserção do futebol na história do nosso País. Não se trata apenas de criar um museu dedicado ao esporte, mas sim de valorizar o próprio país por meio de uma de suas expressões mais significativas: o futebol. O Museu do Futebol serve de exemplo para a tese de devolver ao brasileiro o sentimento de pertencimento a uma origem comum, e ao desejo de construção de um ideal de país. “Nós somos uma invenção de nós mesmos”, disse uma vez o poeta Ferreira Gullar. Ou seja, nós somos parte do imaginário daquilo que imaginamos que somos. O Museu do Futebol não é apenas fisicamente palpável; ele constitui a ampliação de sentidos e sentimentos comuns que constituem a base da nacionalidade. 4. ACESSIBILIDADE: EXEMPLO PARA O MUNDO 

Trata-se do primeiro museu brasileiro e, sem sombra de dúvida, único no mundo, a ter um programa — de ponta a ponta — voltado às pessoas portadoras de problemas especiais. Um exemplo: ao cego será possível ver, por meio de toque, a jogada de Ronaldinho Gaúcho, exposta na Sala dos Anjos Barrocos, inteiramente de pernas para o ar. Ele irá tocar o corpo do jogador, reproduzido em relevo numa placa de gesso. 5. UM MUSEU DE TODOS

O Museu será para todos. Para todas as torcidas. Não há aqui privilégio para nenhum time, para nenhuma torcida. É um Museu de todos. Ao contrário de ser excludente, é um museu aberto às famílias, avôs, avós e netos. Ele está na origem daquilo que quer valorizar como mais caro no homem: a palavra. Daí ser o futebol o campo da palavra. Todas as imagens existentes no Museu fazem parte de nossa herança comum e devem ser passadas de geração a geração pela força expressiva da tradição oral. Daquilo que os pais contam aos filhos, avôs a seus netos, a partir das imagens que acordam a memória (são 1.500 fotos e seis horas de imagens em movimento). O Museu comemora esse congraçamento. Ele une. 6. O MUSEU: PONTO DE ATRAÇÃO INTERNACIONAL

O Museu dá a São Paulo uma atratividade internacional sem precedentes, única, para o turista que vem do exterior, ao mesmo tempo em que atiça a atenção do visitante de outros Estados, na medida em que constitui modelo de museu de ponta, de última geração. Ou, como dito pelos que já viram o Museu: É um museu de pernas pro ar”, “um museu do outro mundo”, “um museu futurista”. 7. RECUPERAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DE UM PATRIMÔNIO DOS PAULISTANOS

Ao recuperar o velho estádio e o seu entorno da Praça Charles Miller, o Museu devolve ao cidadão de São Paulo um espaço pouco freqüentado e de forte beleza natural: a encosta adjacente dos morrotes dos bairros de Perdizes e Pacaembu. Trata-se de uma nova perspectiva que se abre ao olhar de quem vive na própria cidade e pouco a freqüenta esse lugar. Ou seja, cria uma nova área de lazer e abrigo para o coração do paulistano. 8. O MUSEU DIGNIFICA O FUTEBOL

Ao dar ao futebol o mesmo status das outras formas de manifestação cultural — a arte, a música, a literatura — o Museu entroniza o futebol em um aspecto, até então, não exposto de forma tão explícita aos olhos do próprio torcedor. Dignificando o esporte, ele contribuirá, sem dúvida, para elevar a qualificação do próprio torcedor, que se sentirá honrado com o Museu que, por extensão, qualifica algo de caráter aparentemente tão popular e, paradoxalmente, tão cultivado. Ou seja, se eleva o status social e cultural do próprio torcedor de futebol. 9. O MUSEU DEMONSTRA A IMPORTÂNCIA DA AÇÃO DO PODER PÚBLICO

Ao idealizarmos o Museu do Futebol e transformar idéias em ação e ação em realidade, o Governo e a Prefeitura de São Paulo assumem o papel mais comezinho — e que, muitas vezes, nós esquecemos — de que cumpre ao Poder Público realizar ações que elevem a cultura dentro da nossa sociedade. Ou seja, a exemplo dos anos 30 e 40, ser o Poder Público fomentador de bases culturais — como o foram, na época, a criação do Instituto Nacional do Livro ou do Instituto do Patrimônio Histórico — e não ficar a reboque de iniciativas individuais ou de caráter mais imediatista. 10. SEM AMBIÇÃO DO EXCLUSIVISMO

Quando disse antes que não tínhamos a ambição do exclusivismo, quis dizer: o acervo deste museu é, sobretudo, sua criatividade. E não as suas peças. Por isso, certamente haverá outros semelhantes e melhores no Rio de Janeiro, e em outros Estados, que acrescentarão inovações e contribuições. Não é um museu de relíquias, difíceis de serem transportadas. Em 2014, os estrangeiros que vierem assistir ao jogo inicial da Copa visitarão o Museu do Esporte de São Paulo. Os que forem à final visitarão o Museu do Esporte do Rio de Janeiro.

Eu queria, antes de concluir, saudar dois torcedores que também vieram: o governador Cláudio Lembo, que é palmeirense, e o ministro Gilmar Mendes, que é santista. De vez em quando, o pessoal do Santos reclama. Está aqui o presidente de um dos Poderes da República, que é de Mato Grosso, torce para o Santos e veio à inauguração do Museu do Futebol em São Paulo.

Queria, por último, dizer uma frase que sintetiza aquilo que nós pensamos, que nós achamos, a nossa convicção: o Museu do Futebol veio para ficar e modificar o próprio significado da instituição Museu.

Muito obrigado.