Daspre: a grife que liberta

Programa da SAP capacita presas e tem índice zero de reincidência no crime

qui, 03/05/2012 - 9h00 | Do Portal do Governo



A ideia começou de forma despretensiosa. Em 2008, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) colocou para funcionar algumas máquinas de costura que haviam sido apreendidas. Os equipamentos seriam utilizados pelas detentas. O projeto foi crescendo. Até que culminou na criação da grife Daspre.

Clarice de Aguiar Leduino, presa há seis anos, está há três meses na Daspre. Além do trabalho em si, o projeto foi o passaporte de passagem para o regime semi-aberto. “Tem uma placa lá no presídio escrita `Daspre, a grife que
liberta´. Quando li aquilo, já sabia que eu viria para cá. A Daspre me transformou a partir do momento em que abriu essa porta, em que eu vim trabalhar aqui fora, depois de ficar seis anos presa. Dentro do meu coração, não estou mais presa”.

Presa desde maio de 2009, Marilene Brito de Oliveira está há quase um ano na Daspre. Para ela, o programa é um incentivo a mudar de vida: “mudei muito, até minhas filhas falam. Sou uma pessoa melhor agora. Até para ser mãe, estou diferente, educando meus filhos de outro jeito”.

Clarice e Marilene não sabiam costurar. As duas aprenderam o ofício com o curso que é oferecido no presídio. As mais que demonstram mais habilidade ingressam no projeto Daspre. O pré-requisito é ter bom comportamento.

Cerca de 2.800 presidiárias já passaram pelo programa, que funciona com oficinas de costura dentro do sistema prisional e com um ateliê na sede da Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap), órgão da SAP responsável pelo projeto. Todos os dias, as reeducandas que estão em regime semi-aberto cumprirem sua jornada de trabalho. Atualmente, são 16 oficinas. Em breve, serão 19.

Reincidência zero

“Na Daspre, não há um caso de reincidência. Acho que é um caminho que muita gente pode não valorizar, mas a loja acaba mostrando o que é feito, como pode sair coisa tão bonita de dentro do sistema”, entusiasma-se a idealizadora da Daspre, a diretora-executiva da Funap, Lúcia Cosali de Oliveira.

Além de se desenvolverem como profissionais, as presas também têm direito à redução da pena: para cada três dias trabalhados, um dia de condenação é reduzido. Elas também recebem bolsa no valor de 3/4 do salário mínimo, vale-transporte e vale-refeição.

Onde encontrar

Os produtos da Daspre são encontrados na loja “Do Lado de Lá”, que fica na sede da Funap, na Vila Buarque, na capital. Com preços abaixo do mercado, são encontrados produtos diversos, como caixas artesanais, artefatos para a cozinha, bolsas, sacolas ecológicas, artigos para bebê e decoração, travesseiros e muito mais. Há também móveis, esculturas com produtos reciclados e brinquedos de madeira feitos por também presidiários da penitenciária masculina.

Entre os parceiros da Daspre, estão o Fundo Social de Solidariedade, que oferece capacitação na Escola de Moda, e a Sutaco (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades), que possibilita às alunas uma carteira de artesã, além de auxílio na emissão de nota fiscal. “É importante que quando elas saiam do presídio não dependam de um contrato formal de trabalho, de uma carteira registrada, porque não é possível garantir que eles terão esse tipo de trabalho”, diz Lúcia.

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