A criação de programas voltados à reinserção dos egressos do sistema prisional na sociedade foi destaque na mídia nacional na semana passada, mas em Sorocaba este trabalho é realidade há um ano e meio, em uma iniciativa pioneira da administração municipal. Viabilizado por meio de um convênio entre a Prefeitura e a Fundação de Amparo ao Preso “Profº Dr. Manoel Pedro Pimentel” (Funap) – orgão ligado a Secretaria de Administração Penitenciária do Governo do Estado -, o programa beneficia 160 pessoas, entre egressos, reeducandos e familiares.
“É um programa que muito nos orgulha, pois possibilita a ressocialização e dá oportunidade a essas pessoas. Trabalhando, elas podem garantir o sustento da família com dignidade e respeito da comunidade. É um programa de cidadania para aqueles que encontram dificuldade de se colocar no mercado de trabalho”, explicou o prefeito Vitor Lippi.
Sete anos depois de “pagar o que devia por um erro cometido no passado”, Edilsa Francisca de Souza, de 38 anos, entrou para a Cooperativa de Egressos, Familiares de Egressos e Reeducandos de Sorocaba e Região (Coopereso). Isso aconteceu em fevereiro de 2008 e, dois meses depois, ela foi promovida a coordenadora de grupo. “Foi um reconhecimento que me fez muito bem. Faço o mesmo trabalho que elas, mas sou responsável pela equipe. Não pode faltar material e o serviço tem que ser feito do jeito certo, no lugar certo”, orgulha-se Edilsa.
Ela explica com desenvoltura como funciona o convênio da Prefeitura com a Funap e qual é a atuação da Coopereso no recrutamento dos egressos e familiares. Também fala com tranqüilidade sobre os seis anos em que só conseguiu trabalhar com “carrinho de papelão” e sobre a discriminação que sentia. “Quando comecei aqui, as pessoas apontavam, chamavam a gente de presidiário e alguns até ‘xingavam’. Hoje já existe um olhar de respeito que todo trabalhador merece ter”, enfatizou.
A equipe coordenada por ela cuida da manutenção do Parque das Águas, no Jardim Abaeté, e é composta por oito mulheres, com idade entre 20 e 40 anos. Debaixo de um sol intenso no início da tarde da última quinta, 27, Denise Araújo, de 29 anos, diz que já se acostumou com o serviço. “Achei que não aguentaria um mês, mas logo aquela sensação passou. É um trabalho digno que me ajuda muito”, resume. Desde o final do ano passado, com o aumento a renda da família, Denise conta que conseguiu alugar um imóvel e mudou da casa da sogra onde vivia com o marido e duas filhas.
Familiar de um egresso, ela conta que ficou nove anos sem emprego formal até aceitar a ideia de entrar para a cooperativa. “No começou eu relutei um pouco, mas minha família já subiu dois degraus com esse trabalho. Não desisto mais de crescer, quero continuar aqui até ter uma nova oportunidade de trabalho”, sentenciou a moça.
Mais que liberdade
Nos canteiros de avenidas, obras de pavimentação e na manutenção dos parques da cidade, muitas são as histórias de quem aproveitou a oportunidade para mudar de vida. Como Edilsa e Denise, há homens e mulheres ganhando o sustento da família e recuperando a auto-estima com dignidade. “Muito mais do que a liberdade, essas pessoas se veem aceitas novamente na sociedade e têm a chance de mostrar que podem sim assumir responsabilidades e resgatar o respeito e a cidadania de volta”, acrescenta o secretário de Parcerias (Separ), Roberto Juliano.
A parceria garante mão de obra para execução de serviços de natureza operacional que a Prefeitura de Sorocaba necessita. Os cooperados cuidam da limpeza de vias públicas, áreas como o Paço Municipal, parques e pistas de caminhada. Cuidam também da coleta de inservíveis domiciliares, operam a usina de reciclagem de entulho e de folhagens e galhos, realizam paisagismo e jardinagem, além de recuperarem prédios e muros públicos que sofrem pichações.
Outro trabalho importante desenvolvido pelos cooperados é a limpeza de áreas particulares. Pela parceria, os fiscais da Prefeitura ao autuarem os proprietários que não conservam os seus terrenos, chamam a equipe da Coopereso para a realização desse trabalho. O serviço é pago pela Prefeitura que, posteriormente, cobra do proprietário o valor referente ao trabalho realizado.
A parceria tem dado resultado. Desde o início do convênio, a Coopereso já realizou a roçagem e a varredura de 4,9 milhões de metros quadrados de praças e avenidas e construiu cerca de 20 mil metros quadrados de calçadas na cidade.
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