Uma delegacia especializada em esclarecer casos de desaparecimento

Titular da 4ª Delegacia de Polícia de Investigação sobre Pessoas Desaparecidas orienta familiares e narra casos esclarecidos pela unidade

seg, 03/04/2017 - 12h45 | Do Portal do Governo

Segundo a delegada titular da 4ª Delegacia de Investigação sobre Pessoas Desaparecidas (clique aqui para localizar o endereço), Maria Helena do Nascimento, em média 20 pessoas desaparecem por dia no Estado de São Paulo. A maioria são adolescentes na faixa de 13 a 18 anos de idade, que voluntariamente saem de casa sem comunicar os pais.

A boa notícia é que quando o desaparecimento é fruto da decisão motivada por ato de rebeldia momentânea do jovem a taxa de retorno é próxima de 96%, afirma a delegada. Em fevereiro deste ano, houve 1.986 casos de desaparecimentos registrados na cidade de São Paulo e o número de casos esclarecidos foi de 1.996. O saldo positivo se dá, segundo explicações da titular da delegacia, porque muitas vezes os familiares não comunicam que a pessoa foi encontrada.

Os casos mais complicados são os de desaparecimentos motivados por crimes como homicídio, cárcere privado, trabalho escravo e exploração sexual. Em muitas ocasiões, a pessoa é levada para outro município, estado ou país. Nesses casos, o processo de investigação requer consultas à bases de dados de outros órgãos, como a Polícia Federal e consulados, e um trabalho mais profundo de investigação.

O adolescente que regressa ao lar, na maioria das vezes, afirma Maria Helena, se queixa do controle excessivo dos pais sobre o seu desejo de sair, viajar com os amigos. Há casos de fuga também por violência doméstica e outros tipos de desentendimento.

A orientação de Maria Helena para esses casos é uma maior aproximação dos pais com os filhos, o aprofundamento do diálogo, a observação de mudanças de comportamento e um maior controle sobre os amigos e locais que o jovem costuma frequentar.

Os pais também devem ficar atentos com o acesso à internet e com a troca de mensagens com estranhos. A solidez da estrutura familiar é muito importante, assim como as ações de prevenção, como saber onde e com quem os filhos saem, e com quem eles se comunicam pelo computador quando estão sozinhos no quarto.

Quando se trata de crianças pequenas, o cuidado deve ser redobrado, assim como é importante o envolvimento dos parentes para ajudar a vigiar os pequenos. São frequentes os casos de descuidos, por vezes de segundos, que podem causar o desaparecimento das crianças principalmente em locais de grande movimento e aglomeração, como shoppings centers e locais de shows.

Saiu de casa por que era muito mimado
Depois de crianças e adolescentes, o maior número de desaparecimentos acontece entre as pessoas mais idosas. Na maioria das vezes, o motivo são doenças como o Alzheimer, que provocam confusão mental. O idoso sai de casa e não consegue mais retornar. Muitas vezes isso acontece por descuido de alguém que esquece a porta de casa aberta ou quando o idoso permanece sozinho na residência, sem o apoio de outra pessoa.

Entre os casos atendidos pela titular da 4ª Delegacia está o de um senhor de 82 anos que saiu de casa porque se queixava de ser tratado como um bebê pelos familiares. Ele atravessou a cidade para ir à casa de uma família a procura de uma mulher que havia trabalhado em sua casa. O filho registrou boletim de ocorrência na delegacia e as investigações começaram. O idoso foi localizado pelo GPS do celular e a equipe de policiais foi buscá-lo. Na delegacia, Maria Helena passou um longo tempo conversando com o idoso que se recusava a voltar para casa. O filho foi encontrá-lo e ajudou a convencer o pai a regressar. O caso terminou com filho e pai celebrando o reencontro com uma “selfie”.

Outro caso bastante comovente para Maria Helena, foi de uma mãe que estava grávida e cujo primeiro filho, de 6 anos, se encontrava desaparecido, após um descuido quando ela passeava com a criança em uma rua movimentada do bairro. Grávida e desesperada, ela foi registrar o desaparecimento na delegacia  prestes a dar a luz a qualquer momento. A equipe policial foi até o bairro onde ela morava e vasculhou as ruas com a ajuda dos vizinhos. A criança foi encontrada na casa da uma família que havia mudado há pouco para o bairro e, finalmente, Maria Helena pode comunicar e tranquilizar a mãe. “Agora você pode dar a luz sossegada, pois seu filho foi localizado”, disse.

Outros casos não tiveram desfechos felizes, como o de um médico de Vitória (ES) que veio à São Paulo participar de um congresso de medicina e desapareceu para jamais ser encontrado ou de uma senhora do Rio Grande do Sul que desapareceu ao olhos do marido quando rezava na igreja, em Aparecida.

Teve ainda o caso do marido que foi prestar queixa na delegacia sobre o desaparecimento da mulher. Maria Helena desconfiou das explicações dadas pelo homem e ordenou que a equipe fosse ao local para investigar.  O corpo da mulher foi encontrado sob camadas de cimento na parede da casa onde morava. Ela fora assassinada pelo marido, que acabou preso, condenado pela Justiça e agora encontra-se cumprindo pena na penitenciária.

O que fazer
Ao sinal de suspeita, os familiares devem fazer o boletim de ocorrência (BO) para registrar o desaparecimento em qualquer delegacia ou especializada, próxima de sua residência. Se tiver um computador pode fazer o BO pela internet por meio da Delegacia Eletrônica ou procurar os serviços de uma lan house, se não possuir o equipamento. O registro do BO gera um processo de investigação. Quanto mais recente o comunicado mais chances de localização das pessoas (saiba mais).

É importante comunicar quando a pessoa for encontrada, porque senão o seu nome vai permanecer no cadastro de pessoas desaparecidas, influir nas estatísticas e prejudicar as investigações. O procedimento é o mesmo que se faz quando se comunica o desaparecimento e também pode ser feito pela internet, através da Delegacia Eletrônica.

Tecnologia
A titular da 4ª Delegacia de Polícia de Investigação sobre Pessoas Desaparecidas, Maria Helena do Nascimento, recebe os familiares que estão procurando os parentes desaparecidos, sempre que eles retornam à delegacia em busca de informações. Este contato é importante porque eles podem acrescentar dados que permitam levar à localização da pessoa. A unidade conta com o apoio do grupo de psicólogos voluntários do Projeto Caminho de Volta, da USP, que presta ajuda aos pais e familiares para encontrar crianças e adolescentes.

Criado em 2014, o Laboratório de Arte Forense, do Departamento de Homicídio e Proteção da Pessoa (DHPP), auxilia nas investigações com auxílio de programas de computação. O designer gráfico Valmir Martins trabalha na unidade policial, que faz projeção facial de crianças desaparecidas para saber como elas se parecerão no futuro. A simulação é feita a partir das fotos fornecidas pelos pais e familiares. Os retratos são colocados em redes sociais para que as pessoas possam comunicar informações sobre o paradeiro do desaparecido.

O trabalho tem dados bons resultados, segundo Martins. Recentemente, um rapaz portador de deficiência intelectual, que se encontrava desaparecido há cinco anos, foi localizado pelo médico de uma clínica. Ele notou que o rapaz que estava lá, há 50 quilômetros de sua residência, se parecia com o retrato publicado nas redes sociais.