Cooperativas do Vale do Ribeira destinam itens ao Banco de Alimentos da Cidade de SP

Até o momento, 39 toneladas foram doadas para atender população em quadro de insegurança alimentar e vulnerabilidade social

seg, 04/05/2020 - 16h28 | Do Portal do Governo
DownloadDivulgação/Secretaria de Agricultura e Abastecimento

Sob o lema “Quem tem fome tem pressa”, a Cooperativa Central dos Produtores Rurais e da Agricultura Familiar do Vale do Ribeira (Coopercentral-VR), que congrega doze organizações, entre cooperativas e associações, com sede em Santo André, na Grande São Paulo, fez três entregas, sendo a última realizada em 29 de abril ao Banco de Alimentos da Cidade de São Paulo – programa de abastecimento, segurança alimentar e nutricional da Prefeitura que atende entidades que acolhem população em situação de vulnerabilidade social e instituições assistenciais.

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“A escolha pelo Banco de Alimentos da Prefeitura de São Paulo se deu pelo fato de que a maioria das organizações já trabalha com a unidade, que possui um grande número de entidades cadastradas no município”, explica Aline Marques, integrante do conselho fiscal da Coopercentral-VR e também da Cooperativa dos Produtores Rurais e da Agricultura Familiar (Coopafarga), localizada no município de Juquiá, no Vale do Ribeira.

Ao todo, mais de 300 entidades cadastradas no programa poderão ser beneficiadas com produtos saudáveis e de alto teor nutricional, oriundos diretamente dos campos de centenas de pequenos produtores que cultivam a terra e a solidariedade, mesmo diante de um momento desafiador de insegurança econômica pelo qual estão passando no campo, com a queda na comercialização, por conta da pandemia e da necessidade de isolamento social.

“Estamos muito agradecidos pelas doações das cooperativas do Vale do Ribeira, representadas pela Coopercentral, pois a demanda do nosso público aumentou muito e estes alimentos irão atender centenas de pessoas que estão em uma situação crítica e de déficit nutricional”, agradece Joselice Santos, do Banco de Alimentos.

Impacto

Na avaliação de Isnaldo Lima da Costa Junior, diretor financeiro da Coopercentral, na ação coordenada entre as diversas organizações, nota-se que os produtores não estão alheios ao que acontece fora de seu âmbito de atuação.

“Neste gesto de solidariedade ao próximo, nosso objetivo é diminuir o impacto para quem se encontra em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar, com a oferta de alimentos de qualidade”, afirma o gestor.

“E isso, por meio do cooperativismo e da agricultura familiar, que é responsável pela grande parcela da produção de alimentos no mundo, motivo pelo qual, neste momento de caos que estamos vivendo, um setor que se torna ainda mais essencial, e precisa ser fortalecido cada dia mais, para continuar gerando renda, emprego, contendo o êxodo rural e combatendo a desigualdade social”, salienta Isnaldo Lima da Costa Junior, ressaltando que a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio do trabalho da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) e do Projeto Microbacias II, possibilitou o fortalecimento das organizações de pequenos produtores no Vale do Ribeira.

Solidariedade

As doações foram recolhidas por uma “rede do bem”, organizada por produtores e trabalhadores rurais nas pequenas propriedades. “Cada cooperativa iniciou um trabalho de ação solidária nos municípios em que operam e, juntas, conseguimos fazer duas entregas ao Banco”, relembra Aline Marques.

De acordo com Aline, neste cenário de medo e incertezas, com ações como essa, os pequenos produtores reforçam os valores da chamada economia solidária.

“O acompanhamento técnico dos extensionistas da Secretaria de Agricultura, que atuam na CDRS, e os recursos do Projeto Microbacias II trouxeram grandes avanços para o Vale do Ribeira, permitindo que os agricultores familiares e as comunidades tradicionais ampliassem sua produção e otimizassem seus canais de comercialização. “Além disso, proporcionou-se a recuperação da autoestima desses grupos, que passaram a participar de compras públicas e outros canais de comercialização, sendo hoje donos de seus negócios”, pontua Aline Marques.

Microbacias II

De acordo com Antonio Eduardo Sodrzeieski, diretor da CDRS Regional Registro, que abrange os municípios do Vale do Ribeira, a Coopercentral nasceu no âmbito do Projeto Microbacias II, por meio do qual foram investidos mais de R$ 7 milhões na organização e no fortalecimento de cooperativas e associações de pequenos produtores, com infraestrutura logística; aquisição de equipamentos, máquinas e veículos de grande e pequeno porte; construção de packinghouses, climatizadoras e aquisição de milhares de caixas plásticas.

“Ao lado do investimento em infraestrutura, trabalhamos conceitos de gestão em um amplo projeto local de assistência técnica e extensão rural, com reuniões de articulação, cursos de gestão das entidades, de manipulação e processamento de alimentos, entre outros. Em uma articulação com as entidades beneficiadas, nós, da Regional e do Núcleo de Registro do Instituto de Cooperativismo e Associativismo [ICA], órgão da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios [Codeagro], discutimos a viabilidade de se criar uma entidade para otimizar a infraestrutura logística, ao invés de cada uma ficar tentando entregar pequenas quantidades, competindo entre si, e alcançar um mercado maior”, ressalta o diretor.

Sobre as doações, Antonio Eduardo Sodrzeieski avalia que os pequenos produtores do Vale do Ribeira se relacionam em comunidade, em função do grande número de comunidades quilombolas na região (das 26 reconhecidas no Estado de São Paulo, 23 estão localizadas na região), segmento no qual foram investidos mais de R$ 10 milhões pelo Microbacias II.

“Nos últimos anos, esses agricultores familiares se profissionalizaram, se tornaram empresários e se integraram ao mercado, mas com um entendimento diferente, tendo a solidariedade como conceito cultural enraizado há gerações, como instrumento de sobrevivência”, afirma o diretor.

Gilberto Ota, integrante da Coopercentral desde a formação e da Cooperativa da Agricultura Familiar de Sete Barras, confirma esse pensamento. “O segredo de uma cooperativa de sucesso passa pela quebra de paradigmas e conceitos do senso comum. Desenvolvemos um cooperativismo que é específico para a nossa região, tomando como perspectiva a solidariedade. Existe a necessidade de haver a mescla da visão empresarial com a solidariedade. Algumas pessoas gostam de dizer ‘amigos são amigos, os negócios são à parte’. Para nós, a amizade é a consolidação do nosso negócio”, salienta.

Organizações integrantes da Coopercentral–VR: Associação dos Bananicultores de Miracatu • Cooperativas dos Bananicultores e Agricultores de Miracatu• Cooperativa Mista Agroecológica de Vista Grande• Cooperativa dos Produtores Rurais e da Agricultura Familiar do Município de Juquiá • Cooperativa Mista dos Bananicultores do Vale do Ribeira • Cooperativa Agroecológica dos Agricultores Familiares do Vale do Ribeira e Litoral Sul• Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira • Associação Quilombo de Ivaporunduva • Cooperativa Agroindustrial Solidária • Cooperativa Agropecuária de Produtos Sustentáveis do Guapiruvu • Associação dos Agricultores Familiares do Município de Cajati  • Cooperativa da Agricultura Familiar de Sete Barras.

Desafios

A necessidade de isolamento social devido à pandemia da COVID-19 (doença causada pelo novo coronavírus) vem criando desafios aos produtores rurais e a toda população, tanto no escoamento e venda dos produtos agrícolas como na garantia da segurança alimentar nas cidades.

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, na intenção de minimizar perdas, informar e fortalecer as ações sociais entre cidadãos, apresenta as iniciativas dos bancos de alimentos do Estado, entidades que buscam angariar donativos, doações de bens alimentares e a recuperação de excedentes e distribuí-los as populações carentes e ou vulneráveis. O Estado de São Paulo conta com 42 bancos de alimentos.

Tradicionalmente, os bancos de alimentos recebem doações do meio urbano, porém os produtores rurais vêm se mobilizando para que alimentos não sejam perdidos, estabelecendo contato com os bancos de alimentos.

A lista com os contatos de alguns bancos de alimentos que atuam no Estado pode ser conferida na internet. Em caso de dúvida, entre em contato com o Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea-SP), pelo e-mail consea@consea.sp.gov.br.