Laboratório do IPT estuda a reutilização do papel de livros didáticos

Considerando as características médias dos livros, cerca de 123 mil toneladas de papel tem potencial para reciclagem no país

sex, 02/11/2012 - 9h12 | Do Portal do Governo

Quatro milhões de toneladas de papel são recicladas anualmente no Brasil, um volume equivalente a 43,5% do total consumido no país em 12 meses. Este número pode aumentar com o melhor aproveitamento de nichos de materiais, como os livros didáticos usados por alunos de escolas particulares e públicas, principalmente as últimas, nas quais os exemplares são repassados no final de cada série a novos alunos e descartados somente após três anos de uso.

Segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE, quase 138 milhões de exemplares foram distribuídos em 2011. Considerando as características médias do livro, ou seja, papel miolo com gramatura de 75 g/m2, formato de 20,5 x 27,5 cm e 200 páginas, um total de 123 mil toneladas de papel tem potencial para reciclagem. Pensando neste nicho, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) realizou um projeto de pesquisa em amostras do miolo e da capa dos livros que mostrou a viabilidade do reaproveitamento do papel em produtos de maior ou menor valor agregado.

O projeto do Laboratório de Papel e Celulose foi proposto para preencher uma lacuna em estudos específicos sobre a reciclagem dos livros didáticos. Grande parte deles é impressa em quatro cores e tem lombada quadrada e miolo fixado com cola de poliuretano. Para um reaproveitamento eficiente, a reciclagem deve promover a remoção dos pigmentos coloridos e da cola a fim de evitar a criação no papel reciclado dos chamados stickies, materiais pegajosos que se depositam sobre o papel e prejudicam o uso e a aparência.

Desafios

Embora represente uma redução no uso de recursos naturais, a reciclagem é um processo mais complexo em comparação à obtenção de fibras virgens porque os papéis a serem recuperados consistem geralmente em uma mistura de diferentes fontes. Eles têm ainda em sua composição uma série de contaminantes, como corantes, revestimentos, tintas de impressão, laminações e adesivos, e materiais que acabaram sendo misturados durante o ciclo de vida ou coleta, como clipes, arames, elásticos e impurezas.

Para a realização do estudo, a equipe do laboratório do IPT selecionou aleatoriamente livros didáticos procedentes de seis editoras diferentes. Foram retiradas as lombadas dos exemplares para a obtenção das aparas e evitar o contato com a seção do livro na qual se encontrava a cola.

Os pesquisadores trabalharam no projeto com dois tipos de amostras, uma formada apenas por aparas do miolo e outra com aparas do miolo e das capas. Os ensaios foram feitos considerando-se dois processos de reciclagem para o estudo, um deles somente da desagregação das amostras e o outro englobando as operações de cozimento em solução alcalina e destintamento.

A equipe do laboratório utilizou no projeto uma série de equipamentos adquiridos no projeto de modernização do IPT, com destaque para a célula de destintamento por flotação, que é o principal método para a reciclagem de materiais impressos pela sua capacidade de retirar partículas hidrofóbicas, ou seja, aquelas que repelem a água.

Conclusões

As características semelhantes das amostras de livros didáticos usadas nos ensaios permitiram a geração de aparas mais homogêneas, o que facilitou os trabalhos de reciclagem. Os processos envolvendo cozimento com solução alcalina e destintamento resultaram em papéis com pouca ou quase nenhuma sujidade, e com alvura equivalente à dos papéis empregados na confecção dos livros didáticos.

Já a reciclagem pelo método de desagregação não trouxe resultados tão positivos. Os papéis obtidos apresentaram um alto teor de sujidade, a ponto de impedir a determinação de sua alvura, mas isso não descarta a reutilização: sua aplicação pode ser destinada a produtos como chapas de papelão ondulado e cartões multicamada, que não exigem requisitos de aparência.

Do IPT