Governador Alckmin institui o Circuito Quilombola Paulista para estimular o turismo nas comunidades

Sete comunidades remanescentes de quilombos no Vale do Ribeira e Litoral Norte serão beneficiadas pelo projeto de divulgação e capacitação

seg, 21/03/2016 - 20h15 | Do Portal do Governo

O governador Geraldo Alckmin assinou na tarde desta segunda-feira, 21, Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), o decreto que institui o Circuito Quilombola Paulista, para estimular o turismo agroecológico e cultural em sete comunidades remanescentes de quilombos no Vale do Ribeira e Litoral Norte.

“No Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, criamos o Circuito Quilombola Paulista, para incentivar o turismo nas comunidades remanescentes de quilombos, onde vivem 300 famílias. Acreditamos no potencial turístico destas comunidades, que têm grande bagagem cultural, por isso, desde 2004, desenvolvemos ações e incentivamos as atividades turísticas, que geram empregos e renda. Agora, criamos um projeto de divulgação e capacitação para potencializar ainda mais o turismo nestes quilombos, oferecendo orientações de gestão administrativa, elaboração de sinalização turística, qualificação profissional para difundir ainda mais a gastronomia tradicional quilombola, hospedagens, passeios em trilhas ecológicas, cachoeiras, cavernas, apresentações culturais e seus artesanatos”, comentou Alckmin.

Desde 2004, a Fundação Itesp, vinculada à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, desenvolve ações e estimula as comunidades quilombolas para atividades ligadas ao turismo. Com o objetivo de potencializar esse trabalho e colaborar com o incremento da renda das famílias, a Secretaria de Turismo e o Itesp assinaram um convênio para desenvolver projeto de divulgação, capacitação e comercialização do Circuito Quilombola Paulista, com base em roteiros e produtos já existentes, como alimentação tradicional quilombola, hospedagem, passeios em trilhas ecológicas, cachoeiras, cavernas, apresentações culturais e artesanatos. O trabalho prevê também orientações de gestão administrativa e financeira, elaboração de sinalização turística e qualificação profissional, entre outros pontos.

As comunidades que integram o circuito são: Pedro Cubas, Pedro Cubas de Cima, São Pedro e André Lopes, todas em Eldorado; Caçandoca e Fazenda Picinguaba, em Ubatuba; e Mandira, em Cananeia. Quase 300 famílias que vivem nesses locais são beneficiadas com os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) do Itesp. A previsão é que mais comunidades passem a integrar o projeto.

Um folder de divulgação do circuito foi apresentado no evento. Nele consta um pouco da história e os principais atrativos das comunidades, como trilhas na mata, cachoeiras, cavernas, casas de farinha, viveiro de ostras, culinária, artesanato e capoeira.

O e-mail circuitoquilombola@yahoo.com.br e os telefones (13) 99795-4148 e (13) 98166-6269 estão disponíveis para informações.

Investimentos

Desde 1998, o Governo de São Paulo reconheceu 33 comunidades remanescentes de quilombos no Estado; 26 no Vale do Ribeira, sendo 6 tituladas em terras públicas estaduais. Ao todo, 1.405 famílias vivem nessas comunidades.

Além de receber gratuitamente os serviços de Ater do Itesp, desde 2010 o Governo do Estado investiu mais de R$ 14 milhões nas 33 comunidades. O recurso foi direcionado à construção do Núcleo de Formação Profissional Quilombo André Lopes, em Eldorado, de 41 unidades habitacionais na comunidade quilombola Galvão, também em Eldorado, e na recuperação de 120 quilômetros de estradas, que dão acesso a 21 comunidades quilombolas de sete municípios do Vale do Ribeira, além da doação de nove kits-cinema, materiais esportivos e insumos, como calcário e mudas. As ações contaram com o apoio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU), do Centro Paula Souza, das secretarias de Agricultura e Abastecimento, do Meio Ambiente, de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, da Cultura, de Esporte, Lazer e Juventude, do Itesp e da Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo (Codasp).

Além disso, os quilombolas são beneficiados pelo Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável Microbacias 2 – Acesso ao Mercado. Os trabalhos são executados pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), e pela Secretaria do Meio Ambiente, via Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais (CBRN). O Microbacias liberou mais de R$ 1 milhão para sete comunidades quilombolas: Cafundó, em Salto de Pirapora; Morro Seco, em Iguape; Brotas, em Itatiba; e São Pedro, Poça, Ivaporunduva e Nhunguara, em Eldorado. O recurso foi usado para ações voltadas à produção, comercialização de alimentos, turismo e melhoria do viveiro de mudas nativas em Nhunguara.

Nos últimos seis anos, o Governo do Estado direcionou R$ 7,6 milhões para as comunidades que compõe o circuito. O recurso foi usado na construção do Núcleo de Formação Profissional Quilombo André Lopes, na reforma na casa da farinha da Fazenda Picinguaba, na manutenção de estradas, na melhoria da rede de distribuição de água e na doação de três kits-cinema e insumos diversos.

Histórico das comunidades que integram o Circuito Quilombola Paulista

Comunidade remanescente de quilombo São Pedro, entre Eldorado e Iporanga

A comunidade São Pedro nasceu com o negro livre Bernardo Furquim por volta de 1825. Conta-se que ele trabalhava na roça, criava boi e tinha fábrica para beneficiamento de café, arroz e processamento de pinga. Em 1998, a Fundação Itesp reconheceu São Pedro. Trinta e nove famílias vivem em uma área de 4,7 mil hectares.

A produção agrícola da comunidade é diversificada, com destaque para arroz, milho, feijão, mandioca, cana-de-açúcar, batata doce, abacaxi, maracujá, mexerica e hortaliças. A criação de pequenos animais é destinada ao consumo próprio, assim como a atividade pesqueira nos córregos e nos rios. As famílias utilizam cavalos e muares para deslocamento e transporte de mercadorias.

Atrativos turísticos: cachoeiras, trilhas, piscina natural, casa de farinha e capoeira.

Comunidade remanescente de quilombo André Lopes, em Eldorado

Os primeiros registros de atividades na comunidade datam de 1830. A família Vieira descobriu a gruta da Tapagem, hoje Caverna do Diabo, que serviu como esconderijo para os negros durante a Guerra do Paraguai e paiol nos anos de grandes colheitas. Em 2001, o Itesp reconheceu a comunidade. As 76 famílias ocupam uma área de 3,2 mil hectares.

A formação da comunidade ocorreu com a expansão territorial de grupos de negros libertos, fugidos, inclusive do recrutamento para a Guerra do Paraguai, ou abandonados por seus donos por conta da decadência da mineração. Além de André Lopes, eles se estabeleceram nos quilombos de Ivaporunduva, São Pedro e Nhunguara, em Eldorado e Iporanga.

As famílias cultivam banana e maracujá e trabalham com artesanato de materiais diversos, como cipós, palha de bananeira e sementes nativas. As atividades de turismo ligadas à Caverna do Diabo também são importantes fontes de renda.

Atrativos turísticos: Caverna do Diabo, cachoeiras, trilhas e rio Ribeira de Iguape.

Comunidade remanescente do Mandira, Cananeia

A comunidade do Mandira foi fundada em 1868. Francisco Mandira, patriarca da família, recebeu de sua meia irmã, Celestina Benícia de Andrade, uma área batizada de Sítio Mandira. Francisco seria filho do senhor de escravos Antônio Florêncio de Andrade – homem de posses e significativa influência política na Villa de Cananéa – com uma de suas escravas.

Em 2002, o Itesp reconheceu a comunidade, onde 23 famílias vivem em 2 mil hectares. Elas cultivam arroz, milho, feijão e mandioca, destinados para autoconsumo. A principal atividade econômica é a exploração de ostras, que teve início há cerca de 40 anos.

Em 1997, foi criada a Cooperativa dos Produtores de Ostras de Cananeia (Cooperostra), que tem certificação do Serviço de Inspeção Federal (SIF). A cooperativa é formada por pessoas do Mandira e de outras comunidades.

Atrativos turísticos: trilhas, cachoeira com piscina natural, artesanato, ruínas, sambaqui, viveiro de ostras e restaurante que serve pratos à base de ostras.

Comunidades remanescentes de quilombos Pedro Cubas e Pedro Cubas de Cima, em Eldorado

Em 1856, Gregório Marinho, que vivia no quilombo Ivaporunduva, em Eldorado, e outros escravos que escaparam das fazendas mineradoras da região fundaram as comunidades, às margens do rio Pedro Cubas, afluente do Ribeira de Iguape. O nome homenageia o escravo Pedro Cubas, que fugiu de Iporanga para se fixar no novo território.

Em 1998, o Itesp reconheceu Pedro Cubas, cinco anos depois Pedro Cubas de Cima. Mais de 60 famílias, que compõem as duas comunidades, vivem em uma área com quase 11 mil hectares.

Os moradores cultivam banana, maracujá e olerícolas e produzem artesanato com cipó e palha de bananeira. As famílias também plantam roças de subsistência de acordo com o modelo tradicional quilombola. Na Semana Santa ocorre uma importante manifestação religiosa, chamada de Recomendação das Almas.

Atrativos turísticos: cachoeiras, trilhas, piscinas naturais, rios, casa de farinha e visita na roça.

Comunidade remanescente de quilombo Caçandoca, em Ubatuba

A história da comunidade começa em 1858, quando ex-escravos se tornaram donos da Fazenda Caçandoca. A grande parte das famílias que hoje compõem a comunidade descende de uniões entre escravos ou entre escravas e patrões. O território de 890 hectares tem orla marítima e serra. Destacam-se nas suas tradições culturais a dança “bate pé” e as festas do Divino Espírito Santo e de São Benedito. Em 2000, o Itesp reconheceu a comunidade; 50 famílias vivem no local. A banana é uma importante fonte de renda para os moradores, assim como a farinha de mandioca.

Atrativos turísticos: trilhas, praias, cachoeira, ruínas, artesanato, passeio de barco e restaurante que serve pratos à base de peixe e banana.

Comunidade remanescente de quilombo Fazenda Picinguaba, Ubatuba

Por volta de 1850, a senhora de engenho Maria de Paiva, dona da Fazenda Picinguaba, abandonou a terra e os escravos. A tradicional farinha de mandioca é feita em engenho movido com roda d’água e ferro fundido vindo da Inglaterra. No restaurante da comunidade são servidos frutos do mar, peixes e banana. Quarenta famílias compõem a comunidade.

Atrativos turísticos: rios, trilhas, artesanato e apresentações culturais de jongo e ciranda.

Mais informações:
Fundação Itesp
Assessoria de imprensa
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