Veterinária: Cães recebem próteses de ossos em estudo da Faculdade Veterinária

Cirurgia consiste em substituir um segmento de osso danificado por uma prótese de titânio

qui, 06/03/2003 - 20h39 | Do Portal do Governo

A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP já realizou duas cirurgias de implantes de próteses ósseas em cachorros. As operações, inéditas na literatura veterinária, estão servindo para estudar a reação dos animais, uma vez que a mesma técnica é utilizada com sucesso em seres humanos. As próteses podem ser uma alternativa à amputação em casos de câncer ou fraturas de difícil recuperação.

A cirurgia consiste em substituir um segmento de osso danificado por uma prótese de titânio, com extremidades mais finas, que é encaixada e colada ligando duas partes saudáveis. Na melhor das hipóteses, o tecido ósseo se recupera e se expande até que as partes ligadas pela prótese se encontrem, cobrindo o titânio. Esta cobertura, no entanto, não é necessária. A cirurgia não utiliza placas, pinos ou materiais externos, sendo esteticamente imperceptível.

Segundo o professor Cássio Ferrigno, ortopedista do Departamento de Cirurgia da FMVZ, os cães operados têm vantagens e desvantagens em relação às pessoas. ‘Eles são mais leves e se apoiam em quatro patas, mas não se pode esperar que façam repouso ou usem um apoio. Além disso, o encaixe é tão firme que não diferenciam a perna operada das outras, e não tomam cuidado’. Ferrigno salienta que as reações do organismo também podem ser diferentes das dos seres humanos.

Recuperando movimentos
A pesquisa foi iniciada em dezembro, com a substituição de cinco centímetros do fêmur de um animal pertencente ao canil da Faculdade. ‘O cão esteve mancando nos primeiros dias, mas recuperou os movimentos, como se não houvesse sido operado’, diz Ferrigno. ‘Este cachorro não tinha nenhum problema, mas deveria ser sacrificado, porque foi recolhido pelo Centro de Controle de Zoonoses. Agora vai ser encaminhado à adoção’.

Um outro animal, doente de câncer e pertencente a um proprietário particular, teve todo o joelho, parte do fêmur e da fíbula (osso da perna em baixo do joelho) substituídos. ‘É muito mais complicado implantar uma prótese articulada. O cão teve fibrose muscular e se movimenta com mais dificuldades, mas o câncer não voltou’.

Assim como as próteses feitas para humanos, as destinadas a substituir ossos caninos devem ser feitas sob medida. ‘Ainda não podemos prever os custos, porque estamos operando em caráter experimental e o trabalho é inédito. Mas se for aprovado, o implante será uma alternativa mais cara em relação à amputação’. Ferrigno explica que não existe um levantamento sobre as amputações feitas no Hospital Veterinário, mas considera a ocorrência comum: ‘talvez umas cinco por mês’.

Um total de sete cães deverão participar do estudo, sendo acompanhados com radiografia e tomografia durante 12 meses, após as cirurgias. A Faculdade recebeu o apoio de uma empresa fabricante de próteses e espera o patrocínio de uma fundação de fomento para a continuidade do trabalho.

Mais informações: (11) 3091-1211 ou pelo e-mail cassioaf@terra.com.br

Lucas Oliveira Telles – Agência USP