USP: Variedade com DNA modificado pode resistir à principal doença dos pimentais

Das 50 mil toneladas por ano, o País exporta 45 mil, principalmente para a Europa e para os Estados Unidos

dom, 14/12/2003 - 17h42 | Do Portal do Governo

O Brasil é um dos maiores produtores de pimenta-do-reino, oscilando entre a segunda e terceira posição no mercado mundial. Das 50 mil toneladas por ano, o País exporta 45 mil, principalmente para a Europa e para os Estados Unidos.

No entanto, a pimenta cultivada é vulnerável a uma doença chamada fusariose, que destrói os pimentais com mais de seis anos de vida. Para conseguir uma variedade mais resistente, uma pesquisa apresentada à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP de Piracicaba buscou o melhoramento genético da pimenteira.

O responsável pelo estudo foi o pesquisador Oriel Filgueira de Lemos, que trabalhou com a variedade Cingapura da pimenteira-do-reino, cuja espécie é a Piper nigrum. Ela foi introduzida no País em 1933 por imigrantes japoneses e, desde então vem sendo cultivada principalmente pelos estados do Pará (com 90% da produção nacional), Espírito Santo, Bahia e Paraíba.

Segundo o pesquisador, há pouca variabilidade genética na pimenta-do-reino. ‘Existem apenas sete cultivares, ou seja, plantas com características morfológicas diferentes, na espécie Piper nigrum’, conta Lemos. ‘E todas elas são suscetíveis ao fungo Fusarium solani, que causa a doença’, afirma.

Até o momento do estudo, não eram conhecidos genes resistentes ao fungo em outras plantas ou animais. Isso significa que a técnica da transgenia não podia ser empregada. Por isso, o pesquisador buscou criar, por meio de mutações, uma nova variedade. O agente mutagênico escolhido foi a radiação gama, emitida pelo radioisótopo Cobalto 60 que, quando em contato com a planta, provoca alterações no DNA.

Procedimentos

‘O primeiro passo foi descobrir a dosagem adequada de radiação. Era preciso encontrar a quantidade ideal, que causasse danos e alterações, mas não matasse todas as células da planta’, explica.

Depois de encontrar a dose de radiação necessária e gerar a variabilidade de plantas, Lemos buscou a multiplicação do material que sofreu mutação. Ela foi realizada in vitro, pela técnica de micropropagação. O material foi, então, submetido à análise da resistência à fusariose.

Para separar as mutações, elas foram submetidas às toxinas do fungo Fusarium solani. O fungo foi cultivado por 28 dias e o líquido que produziu foi colocado em contato com as plantas, com o DNA modificado. ‘Algumas delas sobreviveram, o que indica que elas têm um potencial de serem resistentes à doença’, aponta o pesquisador.

Toda a pesquisa foi realizada no laboratório de melhoramento de plantas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), da USP de Piracicaba. ‘Os próximos passos serão testar o cultivo das variedades com o DNA modificado em casas de vegetação (ambientes com condições controladas) e, posteriormente, levá-las a campo.’

Hoje, os pimentais resistem à fusariose até o sexto ano de vida, em média. ‘Se as novas variedades da pimenta conseguirem sobreviver ao fungo por mais dois anos, haverá grande economia e aumento da produção’, garante Lemos.

Mais informações: (91) 299-4619 ou pelo e-mail oriel@cpatu.embrapa.br

Simone Harnik – Agência USP