USP: Uso de laser pode aumentar sucesso de transplantes de fígado

Técnica foi aplicada em um paciente submetido ao transplante, que sobreviveu após a cirurgia.

qua, 08/12/2004 - 20h52 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa do Departamento de Cirurgia e Anatomia, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, desenvolveu uma técnica que utiliza laser para emitir luz sobre o fígado e detectar até mesmo pequenas alterações nos tecidos do órgão. Com o sistema é possível obter informações em tempo real sobre a quantidade de gordura existente no fígado do doador, imprescindíveis para a realização de transplantes hepáticos.

A técnica foi aplicada em um paciente submetido ao transplante, que sobreviveu após a cirurgia. O professor Gustavo Ribeiro de Oliveira, responsável pelo estudo, explica que o nível de gordura no fígado do doador (esteatose) está entre os fatores de risco que podem comprometer o resultado do procedimento. ‘O índice de óbitos em casos de transplante de fígado gorduroso é de 20% a 30%, três vezes maior em relação às situações em que o enxerto não apresentava esteatose’, diz.

Em parceria com o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, foram realizados testes em ratos, cujos fígados receberam uma aplicação de luz por intermédio de um laser. ‘Ao incidir sobre o fígado, a luz proveniente do laser emite uma fluorescência, fenômeno físico-biológico que indica alterações neste tecido’, explica Gustavo. ‘A fluorescência é detectada e analisada em um espectrofotômetro, cujos dados são repassados imediatamente para um computador que informa, em tempo real, na tela, a quantidade de gordura existente naquele órgão.’

Vantagens

De acordo com o professor, o novo método informa a quantidade de gordura no fígado de maneira mais rápida (tempo real) e objetiva que as técnicas tradicionais, agilizando o processo de transplante e podendo interferir positivamente no resultado final. ‘A avaliação visual macroscópica do órgão feita pelo cirurgião é subjetiva e sujeita a erros’, afirma. ‘Também pode ser feita uma biópsia, mas isto depende de uma estrutura física e operacional complexa, e pode haver demora até sua realização.’

O pesquisador observa que o método alia conhecimentos da física aos estudos biológicos. ‘A análise da fluorescência de órgãos decorrente da aplicação do laser já é usada em diagnósticos de alguns tipos de câncer e a importância da taxa de gordura no fígado para o sucesso do transplante é conhecida há cerca de 15 anos’, relata. ‘A novidade foi a união dos dois conhecimentos pré-existentes ‘

Gustavo aponta que a avaliação da qualidade do órgão do doador e a redução do tempo entre a retirada do fígado e o implante no receptor são indispensáveis para melhorar os resultados dos transplantes. ‘A fluorescência induzida por laser, além de apresentar resultados imediatos, deve em breve integrar as rotinas dos transplantes hepáticos’, ressalta. ‘O equipamento gira em torno de R$ 25 mil, metade do preço de um transplante, e a tecnologia, totalmente nacional, podendo ser usada e comercializada por qualquer pessoa.’

Da Redação, Agência USP