USP: Uso de ferro pode tornar o tratamento de água mais eficiente e barato

Reação química desencadeada pelo ferro pode funcionar como atalho ou transformar as espécies poluentes em sais minerais

seg, 29/08/2005 - 9h49 | Do Portal do Governo

A corrosão de materiais metálicos expostos à umidade e a materiais orgânicos é um fenômeno conhecido há muito tempo. Estudos na área de Química Ambiental passam agora a estudar o fenômeno inverso, ou seja, o uso de metais para modificar ou degradar poluentes orgânicos. ‘É uma abordagem recente, que ganhou fôlego nos últimos dez anos’, afirma o professor Renato Freire, do Instituto de Química (IQ) da USP, que comanda uma linha de pesquisa sobre o uso de ferro para tratamento de águas contaminadas.

Segundo Freire, trata-se de uma alternativa rápida, eficiente e de baixo custo. O ferro utilizado pode ser proveniente de resíduos de metalúrgicas, o que resulta numa dupla contribuição para a redução do impacto ambiental. ‘Ao desencadear uma reação química, o ferro pode fornecer um ‘atalho’ para o processo tradicional de degradação, tornando-o mais rápido, ou converter as substâncias em sais, que têm menor impacto sobre o meio ambiente’, explica o professor. ‘Poluentes orgânicos, como os liberados pelas indústrias têxtil e papeleira, costumam ser muito tóxicos, com grande demanda de oxigênio e baixa biodegradabilidade.’

O uso de ferro é eficiente quando aplicado, principalmente, a compostos orgânicos organoclorados (presentes em pesticidas e em vários insumos químicos, farmacêuticos e agrícolas) e nitrogenados (presentes em corantes, pesticidas, explosivos). Aplicando pó de ferro, pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Química Ambiental, do IQ, conseguiram descolorir completamente, em apenas 15 minutos, água contaminada com corantes em grande concentração. ‘Dois gramas de ferro foram suficientes para tratar um litro de água, sendo que os métodos tradicionais podem demandar horas para atingir a mesma eficiência e ainda necessitam da adição de reagentes com maior custo’, aponta Freire.

Outras vantagens

O processo de tratamento de efluentes mais usado hoje em dia é o de remediação físico-química, na qual há a separação do elemento poluente por meios como absorção e precipitação para, em seguida, submetê-lo à ação de microorganismos capazes de degradá-lo. ‘O problema é que muitos compostos não são efetivamente degradados pelos microorganismos, o que gera um novo problema a respeito da disposição final dessa biomassa contaminada’, explica Freire. ‘O uso de ferro fornece uma nova possibilidade para o tratamento de água, pois é capaz de converter as espécies poluentes em outras.’

Além disso, alerta o professor, o crescente desenvolvimento científico e tecnológico torna necessário desenvolver novas formas de tratamento. O uso de microorganismos é ineficaz, por exemplo, quando aplicado a efluentes contaminados com medicamentos antibióticos e defensivos agrícolas, cuja função é justamente destruir microorganismos.

‘O grande desafio para os químicos ambientais é que não há método universal de tratamento. É preciso verificar, para cada situação específica, qual a melhor forma de remediação’, conclui Freire, que atualmente orienta um mestrado que estuda a possibilidade de se aplicar o ferro no tratamento de efluentes contaminados com resíduos do explosivo TNT.

Flávia Souza, da Agência USP

M.J.