USP: Uso de estimulação elétrica em terapias auxilia a locomoção de paraplégicos

Cura ainda levará alguns anos, mas pacientes paraplégicos contam agora com a busca por um sistema terapêutico mais eficiente

ter, 06/04/2004 - 21h33 | Do Portal do Governo

A cura ainda levará alguns anos, mas pacientes paraplégicos contam agora com a busca por um sistema terapêutico mais eficiente. A partir da estimulação elétrica de eletrodos colocados na superfície das duas pernas, os quadríceps (músculos responsáveis pela extensão dos joelhos) e nervos fibulares (responsáveis pelo reflexo de retirada) dos pacientes são ativados possibilitando a locomoção com a ajuda de um andador.

‘Além dos ganhos médicos, o paraplégico tem uma grande vitória psicológica já que é dada a ele a chance de novamente estar ereto e, assim, se empenhar na continuação de seu tratamento’, explica o engenheiro Juracy Emanuel da Franca.

Em seu mestrado – apresentado na Escola de Engenharia da USP de São Carlos (EESC) e realizado no Laboratório de Biomecânica e Reabilitação do Aparelho Locomotor do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (Unicamp) -, o engenheiro estudou as possibilidades de adaptação de um estimulador elétrico de 4 canais para 16 canais, este já existente. ‘O sistema de 4 canais foi utilizado pela primeira vez em 1980 na Eslovênia. No entanto, apesar de sua simplicidade e dos benefícios que propicia, milhares de pacientes no Brasil desconhecem ou não têm acesso a este recurso’, salienta.

Emanuel explica que o estudo apresenta informações úteis para auxiliar a distribuição dos canais de estimulação sobre os músculos, e para a definição de sua seqüência de estimulação, considerando para isto, ‘as características específicas dos pacientes, e as características comuns presentes em níveis de lesão semelhantes’.

Os resultados mostraram que a locomoção dos paraplégicos, com o auxílio do estimulador elétrico de superfície de 4 canais, ocorria com velocidades entre 4,7 centímetros por segundo (cm/s) e 10,1 cm/s, e com cadências entre 15 e 21,4 passos por minuto. Entre outros resultados, também foram apresentados os instantes do ciclo da marcha nos quais a força de reação do solo diminuía enquanto as atividades dos tríceps aumentavam, indicando o esforço realizado pelos membros superiores para auxiliar o avanço do corpo.

De acordo com dados internacionais utilizados pelo engenheiro, cerca de 45% das causas da lesão medular provêem de acidentes em veículos e 65% dos envolvidos têm idade inferior a 30 anos. A paraplegia é causada pela lesão da medula espinhal, a qual impossibilita a transmissão dos estímulos aos membros inferiores.

Embora a locomoção obtida com o estimulador de 4 canais seja muito limitada (lenta e exige muito dos membros superiores), ela se mostra benéfica para o paciente ao possibilitar uma melhora no condicionamento cardiorespiratório, já que o paraplégico faz uso de seus próprios membros para novamente se locomover e promover, entre outras coisas, sua irrigação sanguínea. ‘O acréscimo de canais de estimulação, uso de sensores, e do controle automático poderá diminuir a fadiga, aumentar a velocidade da marcha, reduzir o uso dos membros superiores, e aproximar a aparência da locomoção normal’, explica o engenheiro.

Andar é complexo

O caminhar é um processo cíclico composto por uma sucessão de fases de movimento. O uso de eletrodos de superfície poderiam ser utilizados na terapia dos paraplégicos, já que é um sistema eficiente e de baixo custo se comparado com seus similares. ‘O fato de o paciente andar, mesmo com dificuldades, traz benefícios como a prevenção da osteoporose, redução da incidência de calcificação urinária, além de outras vantagens’, salienta.

Desde o final da década de 90, criou-se uma perspectiva em relação ao implante de células-tronco de embriões na medula que, depois de um mês de implantadas, regenerariam a parte lesionada possibilitando a gradativa retomada dos membros inferiores. Porém, a técnica ainda está em desenvolvimento e seus resultados só poderão ser vistos a longo prazo. ‘Hoje o uso de eletrodos de superfície em pacientes ainda é mais viável que a sua implantação dentro do corpo ou das demais técnicas. O importante é que este tipo de uso terapêutico seja mais divulgado em todo o País’, ressalta o pesquisador.

Mais informações: (19) 3788-3387 ou e-mail emanuel@fem.unicamp.br

Juliana Kiyomura Moreno – Agência USP