USP: Uso de álcool simplifica extração de óleo para biodiesel

Técnica foi desenvolvida por pesquisadores da Esalq

seg, 25/04/2005 - 19h05 | Do Portal do Governo

A extração de óleos vegetais com etanol (álcool etílico, de cana) poderá ser uma opção para simplificar a produção de biodiesel. A técnica, estudada há 20 anos na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba, foi retomada por pesquisadores coordenados pela professora Marisa Regitano d’Arce. O objetivo é obter uma mistura de óleo vegetal e etanol para ser convertida em biodiesel apenas com o uso de um catalisador, sem adicionar mais álcool.

Marisa explica que a extração do óleo vegetal nas indústrias é feita com hexano, um derivado do petróleo. ‘Apesar do alto rendimento, o hexano consumido no País é importado e, durante a extração, ele precisa ser recuperado por destilação, viabilizando seu uso apenas em grande escala’, ressalta. ‘A extração por prensagem com álcool, criada nos anos 30 na Manchúria (China), é uma alternativa válida para grãos oleaginosos ricos em óleo.’

A professora aponta que após a extração, óleo vegetal e álcool são misturados para formar o biodiesel. ‘O combustível é produzido por uma reação característica de transesterificação entre o etanol e o óleo vegetal, acelerada por um catalisador’, explica Marisa. Os pesquisadores do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da Esalq buscam uma mistura de óleo vegetal e etanol (miscela) que não precise de mais álcool para gerar o biodiesel.

Mamona
O grupo da Esalq, que sedia o Pólo Nacional de Biocombustíveis, pesquisa também o uso de diversas espécies vegetais no biodiesel e sua adequação aos padrões da ANP (Agência Nacional de Petróleo). ‘A mamona se destaca porque a extração do óleo com etanol pode ser feita sem necessidade de aquecimento, o que barateia o processo’, diz Roseli Aparecida Ferrari, professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, e aluna de pós-doutoramento na USP.

O aproveitamento dos resíduos sólidos da extração de óleos também é estudado, observa Roseli, para a produção de alimentos, ração animal e para evitar riscos à saúde com sua manipulação. ‘No caso da mamona, a extração com etanol gera um resíduo totalmente sem o óleo, o qual possui efeito laxante’, relata. ‘O produto sólido desengordurado, conhecido como farelo, possui substâncias alergênicas e toxinas que precisam ser inativadas.’

Entre as plantas analisadas para uso no biodisel estão o milho, girassol, amendoim, algodão, canola, mamona, babaçu, palma e macaúba. ‘A semente de nogueira-de-iguape, árvore usada para reflorestamento, apresentou um rendimento de 65% de óleo, superior ao da manona, que é de 50% aproximadamente’, afirma Roseli Ferrari.

A professora Marisa espera que as mudanças na extração de óleo para biodiesel possam ser aplicadas em grande escala em curto espaço de tempo. ‘A previsão é que em um ano consigam-se resultados satisfatórios nos testes de laboratório’, diz.

Júlio Bernardes – Agência USP