USP: Universidade integra iniciativa inédita de união de dados sobre impacto humano na Antártida

A Universidade São Paulo é responsável por 9 dos 15 grupos de pesquisa

qua, 15/06/2005 - 9h41 | Do Portal do Governo

A partir de estudos multidisciplinares, a Rede 2 – parte do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) – pretende unificar, numa só base de dados, todas as informações sobre aspectos biológicos, químicos, físicos e geológicos da região. Com isso, será possível produzir um diagnóstico e propor um plano de uso responsável ao Ministério do Meio Ambiente, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e aos cientistas antárticos.

A Rede 2 foi criada em 2002 com o objetivo de monitorar o impacto da presença humana na Estação Brasileira de Comandante Ferraz, na Antártida. A USP, junto de mais sete instituições de ensino superior brasileiras, faz parte desta iniciativa inédita – só Brasil e Nova Zelândia desenvolvem trabalhos com este caráter integrado.

Segundo Rolf Roland Weber, ex-diretor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e atual coordenador da Rede 2, o projeto é ‘um grande desafio, pois articular diferentes áreas de pesquisa sob um objetivo comum é um processo muito complexo’.

Weber explica que ‘não existe impacto zero’ no ambiente em que o ser humano está presente, mas que, porém, o local em que está localizada a Estação Brasileira – a Baía do Almirantado, na Ilha do Rei George – é uma área especialmente gerenciada, segundo consenso estabelecido no Scar (sigla, em inglês, para o Comitê Científico de Pesquisas Antárticas). ‘Conservar a região, portanto, é um compromisso que devemos assumir.’

O coordenador da Rede 2 cita que os principais problemas a serem observados na Antártida hoje dizem respeito à presença de poluentes como os compostos orgânicos e sintéticos. ‘É necessário também tomar cuidado com vazamentos de óleos, pois, além do combustível dos barcos, todo o sistema de aquecimento da base utiliza óleo diesel.’

A fauna da região, segundo Weber, já tem seus hábitos afetados com a presença humana, mesmo que ela seja pequena. ‘Existem aves, por exemplo, que vão se alimentar no lixo das estações, além dos pingüins, que apresentam até distúrbios de comportamento quando motos e helicópteros chegam perto.’

O turismo também é apontado como um aspecto importante a ser analisado. ‘A Antártida recebe milhares de turistas todo ano. É fundamental regulamentar a atividade para que o impacto do turismo seja minimizado’, afirma.

Grupos de Estudo

A Rede 2 é composta por 15 grupos de especialistas (entre os quais nove estão sob responsabilidade da USP), que pretendem unir seus dados para que a monitoração ambiental seja feita de maneira plena.

Da área que estuda aspectos biológicos para indicar a interferência humana na região, fazem parte os grupos que analisam Biomarcadores e Comunidades Bentônicas Antárticas (todos do IO/USP), Microbiologia Ambiental (Instituto de Ciências Biomédicas da USP) e Comunidades de Áreas de Degelo (Universidade Luterana do Brasil). Completam a lista o Grupo de Estudos Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o de Biologia das Aves, da Unisinos.

Já em relação aos elementos não-relacionados diretamente com os seres vivos, a Rede 2 conta com grupos que analisam a Poluição Fecal e Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) , Hidrocarbonetos de Petróleo, Nutrientes e Metais [na água], Gases Dissolvidos [na água], Oceanografia Geológica, Oceanografia Física (todos do IO/USP), Grupo de Sensoriamento Remoto [cartografia] da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Criossolos [solos formados em regiões geladas], da Universidade Federal de Viçosa.

Além desses grupos, uma equipe (Arquitetura e Engenharia, da Universidade Federal do Espírito Santo) irá propor soluções e os materiais mais adequados para que as construções e principalmente as redes de esgoto e depósito de lixo sejam tratados da maneira menos impactante possível.

Rafael Veríssimo, da Agência USP

M.J.