USP: Transplante de ilhotas pancreáticas melhora a qualidade de vida de diabéticos

Com os transplantes também diminuiu o número de episódios de hipoglicemia

seg, 19/01/2004 - 19h44 | Do Portal do Governo

O Núcleo de Terapia Celular Molecular (Nucel) do Instituto de Química (IQ) da USP, criado em 2002, já obteve resultados positivos para diminuir os efeitos do diabetes, em uma pesquisa com transplante de ilhotas pancreáticas – conjunto de células do pâncreas com um sensor para a liberação de insulina. Segundo a professora Mari Cleide Sogayar, coordenadora do Nucel, uma paciente recebeu quatro infusões de ilhotas e, das 36 unidades de insulina diárias que tomava, passou a utilizar apenas nove.

‘A pessoa que tem diabetes precisa tomar insulina, e não há como descobrir a quantidade ideal. O único jeito de ter a dosagem correta é pelas ilhotas pancreáticas, que são sensíveis às variações de taxas de glicose no sangue’, explica a pesquisadora.

Com os transplantes também diminuiu o número de episódios de hipoglicemia (quando a taxa de glicose no sangue fica abaixo do normal, podendo provocar desmaios e até convulsões). ‘Houve uma melhora grande da qualidade de vida da paciente, mas ainda pretendemos fazer mais uma infusão de ilhotas, para verificar se o diabetes pode ser curado’, afirma.

O transplante

De 1997 a 2002, a pesquisadora trabalhou com o isolamento de ilhotas para as infusões, na Unidade de Ilhotas Pancreáticas Humanas do IQ. As ilhotas formam de 1% a 2% do pâncreas (o restante desse órgão produz enzimas digestivas). Para isolá-las, o pâncreas humano precisa ser perfundido com uma enzima (colagenase), depois é cortado em pedaços e passa a ser digerido em uma câmara especial, mantida à 37 graus. O material é centrifugado e separado do restante das células e as ilhotas são avaliadas quanto à capacidade de produção e secreção de insulina.

Os transplantes começaram a ser realizados em dezembro de 2002. A infusão é feita no fígado, pois esta é uma região bastante vascularizada, que fornece o suprimento de oxigênio necessário para a sobrevivência das ilhotas. Uma outra vantagem, é que a maior parte da insulina produzida no pâncreas é consumida no fígado.

A cirurgia para a introdução das ilhotas requer um corte de 1 a 2 mm, exige anestesia leve e o paciente pode ser liberado no dia seguinte à operação. No entanto, para evitar a rejeição das células transplantadas é necessário ministrar drogas imunossupressoras. ‘O transplante ainda tem essa desvantagem, pois as drogas podem ter algum efeito colateral. O desafio agora é o micro-encapsulamento das ilhotas’, explica Mari Sogayar. A idéia do encapsulamento com materiais biocompatíveis – como o alginato (obtido a partir de algas marinhas) – é fazer com que as células não sejam rejeitadas pelo sistema imunológico do organismo.

Novo laboratório

Recentemente, o Nucel teve um projeto aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para construir uma sede para as pesquisas com terapia celular. Esse novo laboratório, que se localizará junto ao Hospital Universitário (HU), será adequado para processar tecidos e células, além de abrigar um espaço para os transplantes de ilhotas, que são cirurgias simples. ‘Acreditamos que a medicina do futuro é esta: terapia celular e molecular, levando o conhecimento da bancada do laboratório para o leito do paciente’, conclui a pesquisadora.

Mais informações: (11) 3091-3810 ramal 210, com a professora Mari Sogayar

Simone Harnik – Agência USP