USP: Testes reduzem área de lesões gástricas com uso da folha do pau-ferro

Segundo a bióloga Fabiana Gaspar Gonzalez o uso das folhas também é importante no aspecto ecológico

ter, 12/07/2005 - 10h46 | Do Portal do Governo

Árvore comum no Brasil, o pau-ferro (Caesalpinia ferrea Martius) tem seu caule utilizado em chás para combater problemas de estômago e intestino. Ao pesquisar os efeitos farmacológicos da espécie, a bióloga Fabiana Gaspar Gonzalez descobriu que a folha da árvore tem maiores índices de redução de úlceras que o caule. O estudo, feito em modelos de lesões gástricas agudas, aponta que a eficácia da folha também é superior a medicamentos para úlcera existentes no mercado.

Os resultados da pesquisa, feita em ratos, são descritos em tese de Doutorado apresentada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. ‘Os animais receberam, por via oral, extratos hidroetanólicos 70% do caule ou da folha e, posteriormente, uma solução de ácido clorídrico (HCl) e etanol para induzir a úlcera’, conta Fabiana. ‘O extrato da folha reduziu em 81% a área relativa de lesão, contra 37% do caule.’

A eficiência da folha também foi comparada com a de dois medicamentos usados no tratamento de úlceras gástricas, o Misoprostol e a Cimetidina. ‘No caso do Misoprostol, a redução da área total da lesão foi de 92%, enquanto o extrato da folha obteve 95%’, compara a bióloga. ‘O índice de lesão ulcerativa caiu 63% com a folha, enquanto o Misoprotol reduziu este nível em 59%.’

Proteção

De acordo com Fabiana, a pesquisa indica que a folha do pau-ferro possui efeito protetor contra úlcera. ‘Novas experiências vão determinar o mecanismo de ação do extrato no organismo e se possui toxicidade’, explica. ‘A descoberta das substâncias que causam efeito protetor gástrico poderá servir para criar medicamentos que serão testados em animais e seres humanos antes de chegarem ao mercado.’

Segundo a pesquisadora, o uso das folhas é importante no aspecto ecológico. ‘Dependendo da quantidade de caule extraída, a espécie pode ser comprometida, o que não acontece com as folhas.’ As amostras utilizadas no estudo foram coletadas de árvores da Cidade Universitária, em São Paulo. ‘Depois de secas, elas foram percoladas (filtradas) em etanol 70% e, posteriormente, liofilizadas (secas).

A bióloga aponta que o pau-ferro é comum em todo o País. ‘Apenas o caule, porém, é usado em infusões e decocções para distúrbios gastrointestinais, asma, hemorróidas e como cicatrizante, especialmente no Norte e Nordeste’.

O estudo também verificou se o pau-ferro possuía efeito cicatrizante. ‘Nos testes com ratos, extratos da folha e do caule do pau-ferro não tiveram nenhum efeito ao serem aplicados topicamente em lesões induzidas na região dorsal’, conta Fabiana. ‘Entretanto, outros modelos experimentais devem ser realizados para que se possa realmente descartar tal atividade’

Júlio Bernardes, da Agência USP