USP: Terapia breve permite que pacientes depressivos aprendam a lidar com a doença

Segundo a OMS, até 2020, a depressão ocupará o segundo lugar entre as chamadas doenças incapacitantes

qua, 14/09/2005 - 9h47 | Do Portal do Governo

Uma dor na alma. Assim pode ser definido o quadro psíquico de um paciente com depressão. Buscando aliviar o sofrimento dessas pessoas a psicóloga Salete Legname de Paulo estabeleceu um procedimento de terapia breve com orientação psicanalítica. ‘A intenção é fazer com que os pacientes lidem melhor com o significado psíquico dos sintomas da depressão: tristeza, angústia e baixa auto-estima’, explica Salete. ‘Isso propicia a melhora da auto-estima, não importando se a doença tem origem física ou psíquica’, garante.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, até 2020, a depressão ocupará o segundo lugar entre as chamadas doenças incapacitantes, perdendo apenas para a isquemia do coração. Para Salete, que defendeu sua tese de doutorado no Instituto de Psicologia (IP) da USP, trata-se de um dado preocupante que torna fundamentais tratamentos como o que foi proposto em seu estudo: um atendimento breve, fundamentado em avaliações e com forte capacidade interventiva.

O tratamento habitual consiste em terapia que pode prolongar-se por anos e administração de medicação antidepressiva. Num tratamento como esse, os problemas são o custo da terapia e o risco de o organismo habituar-se ao medicamento e este ter reduzida a sua eficácia. O método proposto por Salete faz com que o paciente aprenda a lidar com os sintomas da depressão, diminuindo o tempo da terapia e reduzindo o uso de medicação.

As avaliações consistem em um teste de escala depressiva e testes de personalidade, que permitem saber como a pessoa lida com as próprias características e interage com o mundo exterior. Essa avaliação diagnóstica é fundamental para saber se o paciente pode ser submetido ao tratamento e fornece subsídios para mensurar a melhoria obtida com a terapia.

Os testes aplicados são classificados como projetivos – categoria que define os testes que delineiam as principais características da personalidade do paciente. Eles têm também a função de auxiliar o psicoterapeuta a elaborar as intervenções direcionando o trabalho terapêutico, para ajudar o paciente a lidar com os aspectos mais problemáticos da doença. Os outros suportes utilizados são as observações dos pesquisadores e o próprio relato dos pacientes.

Com idades entre 31 e 57 anos, os integrantes do grupo de estudo eram dois homens e duas mulheres, residentes na Grande São Paulo. A intervenção consistiu em três meses de psicoterapia e mais um mês de acompanhamento após a realização da pesquisa. Seis meses após o término do tratamento, os pacientes foram reavaliados. Todos mostraram melhoria na auto-estima e melhor capacidade de lidar com a doença.

Aplicação

Para a pesquisadora, a técnica de psicoterapia breve é bastante adequada à realidade brasileira. ‘Nosso sistema de saúde não suportaria atender a demanda existente com as psicoterapias convencionais. A idéia é capacitar mais profissionais para aplicar a psicoterapia breve mesmo em outras patologias que não a depressão’, explica.

Especializada em psicologia clínica, Salete teve um contato mais próximo com a depressão ao trabalhar como pesquisadora num projeto sobre depressão associada a outras doenças, realizado no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP. A partir de então resolveu investigar possibilidades de tratamento para pessoas que não tinham acesso.

Salete salienta que a pesquisa não tem foco na cura dos pacientes, mas na melhoria da qualidade de vida deles e na prevenção da doença: ‘A depressão tem apresentado elevada incidência entre a população e pode reduzir a capacidade produtiva, agravar os sintomas de doenças físicas dificultando a recuperação e prejudicando a qualidade de vida.’

Charles Nisz, Da Agência USP