USP: Técnica não química combate fungo que ataca a alface

Estudo pioneiro verificou que a solarização promove a descontaminação do solo mesmo sem o uso de fungicidas

ter, 31/05/2005 - 20h42 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa pioneira no estudo do fungo Thielaviopsis basicola (murchadeira ou podridão negra da raiz), que atinge as principais variedades de alface, confirmou a eficácia da solarização para o controle da doença. Nessa técnica de descontaminação, um plástico transparente é estendido sobre o solo úmido durante os meses de maior radiação solar.

O estudo foi realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba. De acordo com a engenheira agrônoma Liliane De Diana Teixeira, autora da pesquisa, o fungo foi diagnosticado no Brasil em 1999. ‘Trata-se de uma doença relativamente nova na cultura de alface’, avalia. O fungo provoca o apodrecimento da raiz da planta, cujas folhas ficam amareladas e murchas durante as horas mais quentes do dia. A doença pode causar a perda total do pé de alface, uma vez que afeta a capacidade de a raiz absorver água e nutrientes de maneira adequada.

‘Embora não haja registros exatos, o fungo causa grande perda para os agricultores, sobretudo nas variedades suscetíveis de alface’, afirma Liliane. Segundo ela, a doença é mais agressiva sob temperatura em torno de 27ºC e, entre os tipos comerciais mais comuns no país, afeta principalmente a alface lisa e algumas variedades do tipo americana. A maioria das variedades do tipo crespa é resistente ao T. basicola. A hipótese estudada pelo grupo de pesquisa é de que estas plantas possuem um ou mais genes de resistência ao fungo.

Formas de combate

A técnica de solarização é eficaz sobretudo quando utilizada com a incorporação de torta de mamona (resíduo da extração de óleo de mamona) ao solo. Em experimento, a solarização foi realizada por 35 dias, entre os meses de outubro e novembro.

‘Trata-se de uma técnica não química’, diz a pesquisadora. ‘O T. basicola é um fungo habitante do solo. A desinfestação acontece, neste caso, devido à alta temperatura provocada pela cobertura de plástico e à decomposição de matéria orgânica [torta de mamona], que libera nutrientes e favorece a ação de microorganismos que atacam o fungo.’

A pesquisadora também testou sete fungicidas no controle da doença in vivo (em estufa). ‘Todos foram eficientes, destacando-se o tebuconazole e o triadimenol’, afirma. Essas substâncias, contudo, ainda não têm registro para uso em alface no Brasil. Liliane explica que o motivo é essencialmente de ordem comercial. ‘A obtenção do registro de um produto pela empresa fabricante é um procedimento caro. Além disso, a cultura de alface não depende de extensas áreas de cultivo.’

A tese de doutorado de Liliane, Resistência genética, fungicidas e solarização para o controle de Thielaviopsis basicola (Berk. & Broome) Ferraris na cultura de alface (Lactuca sativa L.), está disponível na biblioteca de teses e dissertações do portal Saber.

Flávia Souza – Agência USP