USP: Técnica dobra tempo de conservação de vegetais

novo método resultou em um protótipo de refrigerador, onde os produtos são imersos em meio líquido

qua, 28/07/2004 - 20h03 | Do Portal do Governo

Uma nova técnica desenvolvida na USP, chamada de hidroconservação, permite dobrar o tempo de prateleira de frutas e hortaliças frescas, principalmente daquelas que foram minimamente processadas (comercializadas já embaladas, prontas para o consumo). Por enquanto foi desenvolvido apenas um protótipo, que consiste basicamente em uma câmara refrigeradora onde os produtos ficam imersos em meio líquido – e não em meio aéreo, como nos aparelhos convencionais.

Segundo Paulo Renato Orlandi Lasso, que desenvolveu o projeto em sua pesquisa de mestrado pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, o aumento do tempo de conservação dos vegetais ocorre justamente por causa da pequena variação de temperatura que ocorre na câmara. ‘A alta capacidade calorífica e condutividade térmica da água possibilitam um controle bastante acurado da temperatura e grande homogeneidade térmica em todo o volume da câmara de armazenagem’.

Isso possibilita que o refrigerador trabalhe em temperaturas muito próximas ao ponto de congelamento dos vegetais – sem o risco que eles congelem. ‘As câmaras usadas no mercado trabalham cerca de 5,0 graus acima do ponto de congelamento, justamente p/ evitar isso’, explica. Já o sistema desenvolvido por Lasso pode trabalhar com segurança a apenas 0,4 ºC acima deste ponto, graças a um software criado com este fim, que regula automaticamente a temperatura, mantendo-a constante.

‘Cada grau reduzido pode implicar em vários dias de prateleira a mais para o produto’, afirma. Nos testes de laboratório, foi verificado que a durabilidade da couve-manteiga picada e embalada aumentou de 6 para 13 dias apenas utilizando-se o sistema. A expectativa é que todos os outros vegetais tenham um ganho no tempo de prateleira, que chegaria a 100% no caso dos minimamente processados.

Além disso, o equipamento tem algumas vantagens em relação aos refrigeradores convencionais. O aparelho consome quatro vezes menos energia elétrica, a velocidade para um rápido resfriamento de produtos frescos é mais adequada, o impacto na temperatura interna com a abertura do recipiente (nas geladeiras comuns, por exemplo, o ar quente externo entra pela porta, esquentando a câmara) e com perturbações térmicas é muito menor.

Aperfeiçoamento

Porém, a câmara ainda precisa de muitos aprimoramentos, não sendo possível a estimativa de tempo para a comercialização de um sistema deste tipo. Lasso conta que atualmente os esforços estão sendo direcionados no sentido de proporcionar conveniência ao equipamento, como por exemplo desenvolver uma maneira de não molhar as mãos do consumidor que se utilizar do hidroconservador. ‘Pensamos na idéia de um ‘bolsão’ que armazenasse os alimentos dentro da câmara, assim as embalagens não teriam contato direto com o meio líquido’.

O projeto teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde Lasso trabalha.

André Benevides – Agência USP