USP: Suplementação de vitamina A causa danos no DNA do fígado

Suplementação de beta-caroteno (vitamina A) provoca quebras nas moléculas de DNA de hepatócitos

seg, 18/04/2005 - 18h50 | Do Portal do Governo

O beta-caroteno, substância que quando quebrada dá origem ao retinol (vitamina A), pode ser um risco quando utilizado como suplemento vitamínico à alimentação. Um estudo realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP analisou os efeitos da suplementação com b-caroteno nas células do fígado (hepatócitos) de ratos e verificou que a substância é responsável por danos ao DNA. Quando utilizada em conjunto com etanol (álcool), os danos foram ainda maiores.

A pesquisa foi o tema de doutorado de Márcia Zanuto, sob a orientação do professor Hélio Vannucchi, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. As análises foram realizadas em três diferentes grupos de ratos: um grupo controle, que recebeu uma dieta normal, um que recebeu uma suplementação de b-caroteno, e outro que recebeu b-caroteno mais etanol. Depois de alimentar os ratos por seis semanas, os animais foram sacrificados e as amostras do sangue e do fígado coletadas para as análises.

Por meio da técnica conhecida como ‘teste do cometa’, Márcia descobriu que os ratos que receberam apenas a suplementação apresentavam quebras na molécula do DNA. Esse teste consiste em passar uma corrente elétrica pelos núcleos dos hepatócitos, se o DNA estiver normal o núcleo migra de um pólo a outro sem deixar rastros, quando está quebrado forma-se uma espécie de cauda no núcleo celular. ‘Os danos que verificamos no DNA podem ser um dos fatores envolvidos no desenvolvimento de várias doenças, inclusive de um futuro câncer’, explica. ‘A suplementação com b-caroteno isolado, influenciou no dano ao DNA de hepatócitos (genotóxico), provavelmente, por meio de uma ação pró-oxidante. Porém, a associação com etanol, apresentou maiores efeitos indesejáveis ao fígado’, continua.

Márcia afirma ainda que a associação b-caroteno/etanol foi mais prejudicial ao fígado, provavelmente, porque o b-caroteno potencializa os efeitos maléficos do álcool nesse órgão. A inclusão de etanol na dieta dos ratos teve como objetivo simular a situação de um alcoólatra: 36% das calorias diárias ingeridas provinham do álcool. Os animais que receberam álcool, além de danos no DNA dos hepatócitos, desenvolveram esteatose (formação de gordura no fígado) e ainda uma considerável proliferação celular.

‘A esteatose já era esperada. Ela é um dos danos causados pelo álcool que pode gerar uma futura cirrose. A presença de b-caroteno não evitou o seu desenvolvimento’. Já a proliferação celular demonstra um descontrole na multiplicação celular, outro fator que pode influenciar no surgimento de um câncer. Nesse trabalho, confirmou-se o envolvimento do etanol na proliferação celular, mostrando que o b-caroteno também não foi capaz de proteger o organismo.

Pontapé inicial

Os estudos sobre a falta de proteção e efeitos prejudiciais do b-caroteno tiveram início quando foram realizadas duas importantes pesquisas (a-Tocopherol b-carotene Trial (ATBC), 1996; b-carotene and Retinol Efficacy Trial (CARET), 1996) com pacientes que apresentavam doenças cardiovasculares e câncer de pulmão que se submeteram à suplementação.

‘Pelo fato de o b-caroteno apresentar propriedade antioxidante, e por estudos epidemiológicos mostrarem uma associação entre ingestão de frutas e hortaliças ricas em carotenóides e baixo risco de câncer, acreditava-se que a substância poderia auxiliar no tratamento desses pacientes, mas os resultados indicaram exatamente o contrário, daí o interesse em descobrir que fatores poderiam explicar esses resultados inesperados’, comenta Márcia.

Yara Camargo – Agência USP