USP: Suplementação à base de carnitina não reduz gordura corporal

Teste feito em ratos mostra que a perda de gordura é a mesma com ou sem a ingestão da substância

qua, 09/06/2004 - 21h51 | Do Portal do Governo

A carnitina é uma substância muito conhecida nas academias de ginástica. Crê-se que ela é capaz de facilitar a redução de gordura corporal em pessoas que aliam sua ingestão à prática regular de exercícios. No entanto, a eficiência da carnitina está sendo questionada por uma série de pesquisas realizadas no Departamento de Histologia e Embriologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.

‘Durante seis semanas, fizemos experiências com ratos e constatamos que, após treinamento físico, a redução da gordura corporal entre as cobaias que foram suplementadas com carnitina foi semelhante àquela observada nas que receberam somente ração’, relata Marcelo Saldanha Aoki, pesquisador do ICB.

A equipe de Saldanha dividiu os ratos utilizados no experimento em dois grupos. Em um deles, as cobaias foram submetidas a exercícios físicos de baixa intensidade e longa duração. Os animais do outro grupo permaneceram sedentários.

Em ambos os grupos houve três subdivisões, desta vez entre os ratos que não receberam suplementação (controle); os que ingeriram carnitina por apenas um dia; e os que tomaram a substância por duas semanas.

‘Os ratos sedentários, mesmo os suplementados por carnitina, não apresentaram perda de gordura – como já era esperado. Já as cobaias que foram submetidas à atividade física, tanto as que tomaram carnitina como as que não tomaram, apresentaram a mesma taxa de redução de gordura corporal’, explica Saldanha. ‘Concluímos então que o fator preponderante para a ‘queima’ de gordura não é a ingestão de carnitina, mas sim a prática de exercícios físicos.’

Fisiologia

A carnitina é uma substância produzida naturalmente pelo fígado e transportada através da corrente sangüínea até o músculo. Seu papel no organismo é auxiliar no transporte da gordura para o interior da mitocôndria, onde será consumida no processo de respiração celular.

Baseados neste conceito, na década de 1960 pesquisadores perceberam que a deficiência de carnitina no músculo acarretava um acúmulo de gordura corporal. Segundo Saldanha, é esse o motivo pelo qual a suplementação alimentar à base de carnitina ganhou a fama que possui hoje nas academias.

Outra experiência, realizada em 1991, ministrou carnitina em diferentes quantidades para ratos que fizeram exercício numa mesma intensidade. ‘A redução de gordura foi semelhante em todos os casos’, explica Saldanha. ‘Nosso trabalho segue esta linha. Como o mercado de suplementação alimentar movimenta muito dinheiro, quisemos verificar qual é realmente sua ação no metabolismo’, completa.