O comportamento de átomos e células do sistema nervoso pode ser observado em detalhes por sondas nanométricas capazes de explorar e fornecer informações sobre superfícies um bilhão de vezes menores que um metro. A tecnologia, que vem sendo desenvolvida na Escola Politécnica (Poli) da USP, poderá trazer avanços na bioengenharia e na prevenção do bioterrorismo, servindo de ‘alarme biológico’, por meio de eletrodos conectados a culturas de células.
O professor da Poli Francisco Javier Ramirez Fernandez, que coordena o projeto, explica que as sondas nanométricas, feitas com silício, funcionam como ‘agulhas’ que selecionam áreas restritas em uma superfície. ‘A partir desta exploração é possível medir grandezas elétricas e químicas encontradas nas áreas selecionadas’.
Ramirez Fernandez afirma que as sondas nanométricas possuem grande potencial de utilização em microscópios de força atômica. ‘É possível verificar o comportamento individual dos átomos’, aponta. Segundo o professor, o custo da tecnologia de sondas também favorece seu uso em estudos de bioengenharia. ‘Acoplada em um ambiente de cultura de células biológicas, a sonda permitiria sua observação e a obtenção de informações para pesquisa.’
Neurônios
As sondas nanométricas foram usadas para criar uma interface químico-elétrica com células do sistema nervoso. ‘A partir de pesquisas com caracóis, desenvolveu-se um método para extrair os neurônios e mantê-los biologicamente vivos em um ambiente de cultura’, conta o pesquisador. ‘A partir do isolamento do neurônio é possível medir eletronicamente a atividade elétrica e avaliar seu estado funcional, além de fornecer estímulos para verificar a reação da célula.’
As técnicas para acompanhar o ritmo funcional das células do sistema nervoso poderão facilitar a reabilitação de vítimas de acidentes e derrames, observa Ramirez Fernandez. Segundo ele, a sonda nanométrica pode acoplar-se nas vizinhanças do neurônio e fornecer informações.
O professor aponta que o método poderá ser usado para prevenir o bioterrorismo, servindo de ‘alarme’ para agentes químicos agressivos. ‘Os neurônios são muito sensíveis ao ambiente de cultura e se entrarem em contato com um agente agressivo, mesmo em baixas concentrações, é possível observar sua reação.’
Júlio Bernardes – Agência USP