USP: Software capacita trabalhadores para a construção civil

O programa, desenvolvido na Poli, tem a mesma eficácia de aulas presenciais, mas com um custo 30% menor

seg, 11/04/2005 - 20h31 | Do Portal do Governo

Inclusão digital por si só é uma iniciativa que gera benefícios a toda sociedade. Melhor ainda se ela estiver aliada à capacitação de mão-de-obra, como no software desenvolvido pelo engenheiro Amadeu Sá de Campos Filho que treina pessoas sem instrução para montar sistemas hidráulicos residenciais.

O programa, apresentado em sua dissertação de mestrado pela Escola Politécnica (Poli) da USP, se mostrou tão eficiente quanto o método de aulas presenciais (o convencional, com professores e alunos in loco). Além disso, os custos estimados ficaram 30% menores do que no sistema tradicional.

‘Eu queria comprovar que o computador pode servir de ferramenta para o treinamento de pessoas analfabetas ou semi’, explica o pesquisador. Segundo ele, foi necessária uma intensa pesquisa de campo para adaptar a realidade virtual ao cotidiano deste público, principalmente no que diz respeito à linguagem. ‘Algumas coisas têm nomes técnicos, mas no canteiro de obras são chamadas de nomes diferentes. Além disso, há também o regionalismo, e dependendo do lugar essas coisas têm outros nomes.’

Boa parte do sucesso do software se deve à didática aplicada, que levou em conta aspectos desta pesquisa. Segundo ele, todo o programa foi desenvolvido como se fosse um jogo, de modo que os alunos se divertissem, contribuindo para o aprendizado. Os módulos de treinamento são ministrados por ‘Silva’, um instrutor digital que tem por sala de aula um canteiro obras, elementos familiares aos operários da construção civil.

A primeira das quatro etapas do programa, por exemplo, é dedicada apenas a ensinar os usuários a mexer no mouse e a realizar as funções necessárias para cumprir as tarefas. ‘Ser treinado em uma mídia atual melhora a auto-estima dos operários. Com isso eles ficam com mais vontade de aprender’, avalia Campos Filho. No entanto, o engenheiro acredita que com alguns incrementos, como a utilização de recursos tridimensionais (o software foi todo desenvolvido em 2-D) e de realidade virtual, os resultados certamente serão melhores que o método presencial. O engenheiro diz que pretende abordar isso em seu doutoramento, ainda não iniciado.

Eficiência
Na pesquisa, também foi feito um estudo de campo para comparar o ensino realizado por professores com o fornecido pelo programa. ‘Os dois treinamentos têm a mesma dificuldade. A quantidade de erros e o tipo de dúvidas foram iguais em ambos os casos’, afirma. Essa sua aplicação do programa, que foi feita no Recife em parceria com a Faculdade São Miguel, ganhou o segundo lugar do Prêmio Telemar de Inclusão Digital, na categoria Norte-Nordeste.

Outro destaque de seu estudo é a metodologia criada, chamada de design instrucional. ‘O software é adaptável – o importante é a metodologia. Ele pode sair da engenharia e ser aplicado ao turismo, mas é preciso estudar o público-alvo’, ressalta. A meta agora é conseguir alguma empresa ou instituição governamental interessada em explorar o produto comercialmente. O software, que pode ser utilizado tanto por CD-Rom quanto pela internet, dispõe de diversos recursos multimídia, como vídeos, áudios e animações em flash.

André Benevides – Agência USP