USP: Site promove a inclusão social de pessoas com necessidades especiais

Rede Saci, da USP, oferece serviço aos portadores de deficiência

sex, 29/08/2003 - 11h05 | Do Portal do Governo

As letras que formam a palavra Saci resumem as finalidades básicas desse programa, que está completando quatro anos este mês: Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação. A Rede Saci é uma realização da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais da Universidade de São Paulo (Cecae-USP), da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisa e do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE-UFRJ), que conta com o apoio da Fundação Telefônica e da Vitae.

No seu site (www.saci.org.br), a rede divulga banco de talentos e oportunidades, com currículos de deficientes físicos e anúncios de vagas. Notícias e novidades sobre questões envolvendo deficiência física podem ser enviadas por meio de correio eletrônico para os usuários cadastrados.

O censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, revela que 24,5 milhões de brasileiros – ou seja, 14,5% da população – têm algum tipo de deficiência.

O site recebe aproximadamente 5 mil visitas todos os dias. Metade dos acessos não é de deficientes físicos. São fisioterapeutas, pais, familiares, jornalistas, professores, arquitetos e engenheiros.

A maioria dessas pessoas retransmite as informações. “Felizmente, não sabemos quantos atendemos. É assim que tem de ser a Internet”, explica a socióloga Marta Gil, gerente da Rede Saci.

Repórter Saci

O site oferece um serviço chamado Repórter Saci. Quem escreve as colunas contando suas aventuras é Renato Laurenti. Por causa de um acidente de carro, em abril de 1984, ficou tetraplégico. Capotou seu veículo em Ubatuba, como estava sem cinto de segurança, acabou perdendo alguns movimentos. “Se eu tivesse usando o cinto, provavelmente não teria acontecido nada”, diz.

Na época da ocorrência, Renato cursava a Faculdade de Educação Física e foi obrigado a parar de estudar. Passou seis meses no hospital, foi operado e, logo que saiu da recuperação, recebeu a notícia que não voltaria a andar.

Para escrever as colunas do site, o repórter costuma se deslocar pela cidade para testar as condições de acessibilidade de museus, empresas, parques, cinemas, shoppings e restaurantes. “Faço questão de ir para lugares diferentes, como boate de striptease, para as pessoas verem que somos normais. Porém, uma simples ida à padaria já dá uma boa matéria, porque não existe nenhum tipo de adaptação em nenhum desses lugares.”

Renato diz que muitas pessoas ainda acreditam que os deficientes não podem praticar esportes radicais, ter vida sexual ativa ou até mesmo tomar bebidas alcóolicas. “É sempre importante lembrar que existem pais, mães, filhos deficientes, embora a maioria da população ache que somos assexuados, que não gostamos de sair, que somos seres amargurados ou que não podemos trabalhar nem ter direito ao lazer. Estão todos enganados. Podemos, sim, e devemos, levar uma vida normal.”

Calçadas não ajudam

Gabriel Vicalvi, deficiente visual, trabalha como administrador de redes no Saci. Utiliza softwares que transformam os comandos em voz para operar o computador e garante que é simples. “Não tem dificuldade nenhuma. Com as marquinhas no teclado, em alto-relevo, nas letras F e J, consigo digitar.”

Chegar ao trabalho é mais difícil. “Moro na Casa Verde, do outro lado da cidade. Ou venho de carro com o meu pai ou tenho de pegar ônibus, dependendo da ajuda dos outros. Falta transporte coletivo para os deficientes”, reclama.

As calçadas também não ajudam os portadores de deficiência. Renato explica que as adaptações que precisam ser feitas nas ruas não atenderiam apenas ao universo de deficientes físicos. Poderia ajudar também a gestantes, idosos, obesos, mulheres com crianças e qualquer pessoa com impedimentos temporários.

“Ninguém é igual a ninguém. Um é baixo, outro é alto. Um é gordo, outro é magro. Um é novo, outro é velho. É preciso ter espaço com acessibilidade universal para atender a todos”, diz Renato, defendendo que arquitetos e engenheiros precisam de uma disciplina que trate de acessibilidade na graduação.

O conceito de desenho universal é uma forma de conceber produtos, meios de comunicação e ambientes para serem utilizados por todas as pessoas, o maior tempo possível, sem a necessidade de adaptação, beneficiando pessoas de todas as idades e capacidades.

Projeto USP Legal derruba barreiras

Para reduzir as barreiras impostas aos deficientes, a USP desenvolve um projeto conhecido como USP Legal. Pretende mapear o número de deficientes que utilizam o câmpus (alunos, professores e funcionários), estabelecer ações para integrá-los, assegurar condições para ingresso de deficientes no vestibular e oferecer transporte diferenciado.

Renato Laurenti também participa do USP Legal e trabalha tentando diminuir as barreiras físicas do câmpus. Já conseguiram eliminar degraus e construir rampas desde a entrada até o prédio da reitoria. Piso tátil para deficientes visuais também está sendo instalado.

Campanha publicitária, realizada pelos alunos de publicidade da USP, pretende conscientizar os freqüentadores do câmpus sobre a importância do respeito aos direitos dos deficientes físicos.
Professores e funcionários estão recebendo treinamento para lidar melhor com as dificuldades dos alunos. Engenheiros, arquitetos e técnicos de manutenção também aprendem sobre as barreiras físicas.
“Estamos realizando tudo isso sem saber ao certo quantas pessoas estamos atendendo”, ressalta Cláudia Regina Pires, gerente do USP Legal.

SERVIÇO
Outras informações, acesse o site no endereço www.saci.org.br.

Regina Amábile
Da Agência Imprensa Oficial