USP: Rótulo de água mineral indica falsas quantidades de flúor

Pesquisa aponta irregularidades na fluoretação de águas minerais

qua, 06/10/2004 - 19h13 | Do Portal do Governo

Depois de analisar a presença de flúor em águas minerais consumidas por mil famílias de Bauru, no interior de São Paulo, a professora Marília Afonso Rabelo Buzalaf, da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, observou que 77,8% das amostras revelaram diferenças entre a concentração de flúor indicada no rótulo e a presente na água.

Esse tipo de irregularidade facilita a ocorrência de cáries e fluoroses na população e serve de alerta para possíveis falhas na fiscalização desse mercado. A produção e o consumo de água mineral no Brasil cresce cerca de 20% ao ano.

‘Em quantidades acima de 1 miligrama (mg) por litro de água, o flúor pode provocar manchas no esmalte dentário, enfraquecendo os dentes’, esclarece a pesquisadora. ‘Este problema é chamado de fluorose dentária e pode atingir principalmente as crianças entre 11 meses e sete anos, que possuem outras fontes de flúor, como leite em pó, biscoitos e pastas de dentes.’

Buzalaf explica que a necessidade de as empresas de água mineral informarem corretamente a dosagem de flúor nos produtos que comercializam revela-se em situações corriqueiras, como na diluição do leite em pó, por exemplo. ‘O ideal é que se utilize água mineral não-fluoretada ou com baixa concentração de flúor’, diz.

‘Em pesquisa realizada em 2001, constamos que, quando preparado com água de consumo, o leite em pó excede os limites recomendados para a ingestão de flúor, podendo causar problemas na dentição da criança.’ Portanto, não existe uma determinação que obrigue as empresas a fluoretar a água mineral que produzem. ‘O que elas têm o dever de fazer é indicar corretamente a concentração de flúor no rótulo de seu produto’, afirma Buzalaf.

Críticas

A pesquisa, que contou com o apoio Fapesp, analisou 260 amostras de 29 marcas de água mineral, oriundas de nove fontes conhecidas. ‘O dado mais preocupante foi que encontramos uma variação muito grande na concentração de flúor em amostras de uma mesma fonte – o que é impossível de ocorrer’, diz a pesquisadora. ‘Isso indica que algumas distribuidoras de água mineral estão enganando os consumidores, fraudando os galões com outra água que não a mineral.’

A pesquisa realizada na FOB deu a Buzalaf subsídios para criticar a atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação ao mercado de água mineral no Brasil. ‘As infrações observadas no estudo que fizemos revelam que a fiscalização das águas minerais, de seus produtores e distribuidores está sendo feita de forma inadequada’, diz.

‘A presença de flúor no produto deve ser indicada corretamente. Se em altas concentrações ele provoca fluorose dentária, em baixas ele facilita a ocorrência das cáries. O consumidor deve ser informado do que está consumindo para evitar esse tipo de problema.’

Tadeu Breda – Agência USP