USP: Representações sociais de cada pessoa influenciam no sucesso em manter o peso

Conclusão é da nutricionista Andréia Moutinho

ter, 11/03/2003 - 20h20 | Do Portal do Governo

O sucesso em manter o peso após o emagrecimento pode ser influenciado pelas representações sociais de cada indivíduo. A conclusão é da nutricionista Andréia Moutinho em seu mestrado Representações sociais do peso corporal: O que e quem o discurso revela, defendido na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP em fevereiro deste ano.

As representações sociais, segundo a pesquisadora, seriam todos os valores, da formação psíquica à ideológica, de uma pessoa. Ela constatou que as pessoas que mantêm o peso possuem representações sociais ‘bastante similares acerca do emagrecer e do comer, e que tais representações parecem influenciá-los a continuar mantendo o peso’.

De 2001 a 2003, a nutricionista trabalhou com dois grupos. Um com 21 pessoas que obtiveram sucesso em emagrecer e manter o peso. O outro com 19, ‘vítimas’ do efeito ‘sanfona’, ou seja, emagreciam e depois recuperavam o peso, chegando em alguns casos a ultrapassá-lo. As entrevistas levaram em conta a história de vida de cada um, seus conceitos e atitudes, as quais ela chama de entrevistas de discurso. Com isso, reuniu ‘fragmentos de discursos’, isto é, frases em comum que apareceram nos relatos de cada grupo.

Esses fragmentos auxiliaram-na a identificar os fatores que ora atuavam como barreira, ora como estímulo na manutenção do peso. Por exemplo: para o primeiro grupo, manter a forma não foi entendido como um sacrifício. Já no segundo, ‘sacrifício’ foi a palavra mais recorrente. ‘Noção esta que já limita o controle do peso após o emagrecimento’, diz a pesquisadora.

Mudança do enfoque
Andréia percebeu que o sucesso na adoção de qualquer tentativa para emagrecer está na mudança do enfoque, ou seja, ‘entender que emagrecer é um processo e o que se busca na verdade é manter o peso’. E mais: ‘a atenção do profissional e do paciente deve se voltar para isso, pois somente a perda de peso mantida é que é benéfica à saúde e não o emagrecimento em si’.

A estudiosa frisa ainda que o método, qualquer que seja, deve proporcionar a autonomia do paciente, pois pessoas de sucesso têm esse perfil. Ela pôde concluir que não é o método em si que faz a pessoa controlar definitivamente o peso, mas sim a relação entre o método e o usuário: quanto mais o método estimular a autonomia mais próximo estará do sucesso na manutenção.

Contudo, ela observa que estamos num mercado imediatista: respostas rápidas para problemas crônicos. ‘Emagreça tantos quilos numa semana’, este é o slogan vendido, sem a responsabilidade do pós-emagrecimento, ou seja, sem compromisso com a saúde’, diz. Nesse aspecto, a nutricionista lembra que há fenômenos da saúde construídos socialmente. A obesidade seria um deles. ‘Atualmente, o meio mais promove do que previne a obesidade. Por outro lado, somos tratados como consumidores da estética e ocupamos o desconfortável espaço entre o que é recomendado e o que é vendido.’

Com isso, as representações sociais influenciam as pessoas em estratégias duradouras ou temporárias para o controle do peso. ‘Não basta conhecer o valor calórico dos alimentos para mudar o hábito alimentar. Vai mais além. É importante que a pessoa compreenda aspectos subjetivos do consumo alimentar e arme estratégias de defesa contra este ambiente obesogênico em que vivemos.’

Como proposta, Andréia recomenda o conhecimento das representações sociais do comer e do emagrecer dos pacientes e a partir disso auxiliá-los a conquistar a autonomia no controle do peso. ‘Isso pode ajudar a aumentar a taxa de manutenção do peso corporal pós-emagrecimento, que, em verdade, é o que interessa ao indivíduo e à saúde pública.’

Marcelo Gutierres – Agência USP