USP: Questionário rastreia consumo de bebidas alcóolicas durante a gravidez

Pesquisa com 450 gestantes em Ribeirão Preto apontou que 22,1% das mulheres consumiam álcool em excesso

ter, 09/03/2004 - 13h40 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Júlio Bernardes

Um teste com quatro questões, aplicável em até quatro minutos, pode detectar o risco de consumo de álcool em gestantes, evitando complicações para a saúde do feto. O questionário T-ACE, como é conhecido, foi aplicado em 450 gestantes na cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Os resultados mostraram que 22,1% das mulheres entrevistadas consumiam álcool abusivamente.

A pesquisa está descrita na dissertação de mestrado do enfermeiro Carlos Eduardo Fabbri, apresentada no Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP). As questões foram aplicadas em gestantes que passaram pelo Serviço Materno-Infantil do Mater (Maternidade do Complexo Aeroporto), em Ribeirão Preto. Fabbri realizou uma back translation (técnica de tradução) e adaptou o T-ACE, de origem norte-americana.

Segundo o enfermeiro, o questionário procura detectar o consumo de álcool de forma sutil, sem perguntas diretas que possam inibir as mulheres. ‘No teste original, a intenção de rastrear o uso de álcool era percebida rapidamente’, explica. ‘Na adaptação para a realidade brasileira foi desenvolvida uma abordagem amigável para distrair a gestante enquanto o instrumento é aplicado’.

Estigma

O T-ACE, é dividido em quatro questões: a primeira procura avaliar a tolerância ao consumo de álcool, a segunda busca descobrir se existem reações contrárias dos familiares à ingestão de bebidas alcoólicas pela gestante, e a terceira avalia o ressentimento pessoal com a bebida, por intermédio de uma auto-reflexão. ‘A quarta pergunta questiona se a gestante bebe pela manhã, que é um indício de dependência ao álcool’, observa o enfermeiro. ‘Quanto maior a pontuação, maior o risco do excesso de álcool causar problemas para o feto’.

Segundo Fabbri, entre as 450 gestantes avaliadas pelo T-ACE, 100 apresentaram indícios de consumo excessivo. Durante a pesquisa, foi aplicado um questionário estruturado pelos parâmetros da CID-10 (Classificação Internacional de Doenças – 10ª Edição), mas o abuso de álcool foi detectado em apenas nove mulheres. Os casos mais graves foram encaminhados para atendimento ambulatorial no Hospital das Clínicas da FMRP.

O consumo excessivo de álcool pelas gestantes pode causar complicações para o feto, gerando mal formação dos órgãos internos e dos membros da criança, e problemas mentais após o nascimento. Segundo Fabbri, a maioria das gestantes não admitem o consumo, devido ao estigma criado em torno do alcoolismo. ‘Poucas mulheres assumem o vício’, observa.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen/
V.C.