USP: Psicanálise oferece novas possibilidades de tratamento para demência

Estudo foi realizado pelo Insituto de Psicologia da universidade

qua, 19/01/2005 - 9h34 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Flávia Souza

Um estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP propõe uma nova abordagem da demência, doença que atinge cerca de 47% dos idosos com mais de 85 anos. Segundo a psicanalista Delia Catullo de Goldfarb, a demência pode ser entendida como uma espécie de defesa contra os estados depressivos que muitas vezes acompanham o processo de envelhecimento.

‘Trata-se de uma abordagem que contribui para uma compreensão mais ampla do processo demencial, baseada na possibilidade de se pensar as demências como fenômenos causados por múltiplos fatores’, afirma a pesquisadora.

A demência se caracteriza, basicamente, pela perda gradual da memória e da capacidade de raciocínio, e cerca de 15% dos casos são atribuídos a causas psicológicas. Além disso, o nível de deterioração das células cerebrais freqüentemente não explica a intensidade dos sintomas apresentados. ‘A psicanálise estuda os mecanismos inconscientes que intervêm na constituição do ser humano. Para ela, o ‘Eu’ é uma organização que depende de inúmeros fatores além dos biológicos: fatores sociais, históricos, culturais’, diz a psicanalista.

Delia verificou, ao longo de suas atividades, que em cerca de 50% dos casos o processo demencial se inicia após um fato extremamente doloroso, como mortes ou perdas financeiras.

Envelhecimento

‘O fato de a velhice ser o momento da existência humana mais próximo à morte, ligado ao declínio físico e a questões culturais, cria campo fértil para uma representação social negativa e propicia atitudes de marginalização e auto-exclusão’, afirma Delia. O fenômeno da demência pode ser entendido, segundo ela, como ‘uma forma regressiva de defesa contra a depressão de final de vida, em que o ‘Eu’ historicamente constituído se dissolve’.

A pesquisadora alerta para o perigo de se dizer que, durante a velhice, só o que resta é ‘se desapegar das coisas do mundo’. Essa visão coloca o idoso como pessoa sem futuro e dificulta a criação de novos vínculos. ‘É preciso instaurar outros objetos no lugar dos perdidos, para que outros investimentos pessoais sejam possíveis’, diz.

Mais informações podem ser obtidas no site www.usp.br/agen/
V.C.